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Os impactos positivos do Ensino Médio Integral

A crescente implantação do Ensino Médio Integral (EMI) vem se mostrando um acerto, com resultados positivos robustos como a redução em 10,6 pontos percentuais das chances de evasão escolar e aumento de 8,1 pontos percentuais na satisfação dos professores com a progressão de carreira em comparação com os que trabalham em escolas regulares.

Dados apresentados pelo Centro de Evidências da Educação Integral, parceria entre Insper, Instituto Natura e Instituto Sonho Grande, evidenciam que o benefício socioeconômico da política de EMI é seis vezes maior que o seu custo. Além disso, estudo realizado em 2022 verificou que experiências bem sucedidas, como a de Pernambuco, conseguiram reduzir em até 50% as taxas de homicídios entre jovens de 15 a 17 anos.

As ações implementadas nas escolas integrais oferecem aos jovens experiências práticas e diversas em jornadas que variam de sete a nove horas diárias. Por isso, a educação integral tem um papel fundamental na formação abrangente dos estudantes, que vai bem além do aprendizado das disciplinas ofertadas, passando pelo protagonismo e construção do projeto de vida e que desenvolvem o relacionamento interpessoal e interação com o meio em que estão inseridos.

Desta forma, o EMI tem funcionado como um catalisador não apenas da qualidade educacional, mas também de outras políticas voltadas para a adolescência, incluindo as relacionadas à alimentação e à saúde mental. As escolas integrais se tornam espaços centrais na vida de mais de um milhão de estudantes da rede pública brasileira.

Dados coletados entre 2016 e 2022 pelo Censo Escolar, juntamente com as informações obtidas pela Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PENSE) do IBGE nos anos de 2015 e 2019, e registros do DATASUS de 2016 a 2022, com um foco especial na incidência da COVID-19 de 2020 a 2021, compõem um panorama detalhado sobre o contexto educacional e de saúde no Brasil e reforçam os impactos positivos e abrangentes da expansão do EMI no país.

O estudo ''Efeitos do Ensino Médio Integral na Dimensão Nutricional", realizado pelas pesquisadoras Flávia Mori Sarti e Marislei Nishijima, da Universidade de São Paulo (USP), revelou uma redução significativa nas regiões Norte e Centro-Oeste, de 12,6% e 7,1%, respectivamente, nos dias de internação por anemia, desnutrição e suas sequelas a partir da implantação de escolas de EMI entre jovens de 15 a 17 anos. O mesmo estudo também aferiu que estudantes expostos à educação integral apresentam maior aderência à alimentação saudável em comparação a estudantes matriculados no ensino regular, tanto em escolas públicas como em privadas.

Já o trabalho da pesquisadora Inacia Bezerra de Lima, "Efeitos do Ensino Médio Integral na Saúde Mental dos Estudantes Brasileiros", indica que um aumento de 10% na proporção de escolas integrais resultaria em uma queda de 22,3% na taxa de internação por transtornos de comportamento/emocionais e de 14,4% na taxa de internação por abuso de substâncias psicoativas, destacando correlação entre a implementação do EMI nos municípios e a melhoria dos indicadores de saúde mental entre jovens de 14 a 18 anos.

A análise detalhada dos resultados obtidos através da implementação do EMI no Brasil não apenas sublinha a importância crucial de políticas educacionais integrais, mas também ilumina o papel multifacetado que essas políticas desempenham em um contexto de crises econômicas, insegurança alimentar e desafios à saúde mental, especialmente exacerbados como consequência da pandemia de COVID-19.

Em um país que enfrenta desafios econômicos persistentes, com uma parcela significativa da população vivendo abaixo da linha da pobreza e lutando contra a insegurança alimentar, o EMI surge como um farol de esperança. Ao oferecer refeições nutritivas e regulares, o EMI contribui diretamente para a segurança alimentar dos estudantes, garantindo que tenham acesso a uma alimentação adequada.

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O EMI também oferece suporte importante no acompanhamento psicossocial dos jovens, criando um ambiente de suporte e estabilidade. Escolas que adotam a educação integral tornam-se espaços seguros, onde os estudantes podem encontrar apoio emocional, orientação e recursos para enfrentar desafios como ansiedade, depressão e estresse.

A implementação e expansão do Ensino Médio Integral, portanto, não se justifica apenas pela busca de excelência educacional, mas como uma resposta às multifacetadas crises que o Brasil enfrenta atualmente, evidenciando a necessidade de políticas públicas que abordem simultaneamente as dimensões educacionais, econômicas e sociais.

Com base em todas as evidências positivas e abrangentes, o Instituto Natura apoia a implantação e expansão da Política de Ensino Médio Integral em mais de 20 estados brasileiros a partir da aliança estratégica com o Instituto Sonho Grande (ISG) e o Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE).

* Maria Slemenson é superintendente de Políticas Educacionais do Instituto Natura

Opinião

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