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Impacto da pandemia na educação persiste

A pandemia de covid-19 transformou profundamente a sociedade, trazendo desafios que se estenderam para além da saúde pública e reconfiguraram dinâmicas sociais, econômicas e institucionais, evidenciando a importância da adaptabilidade diante de adversidades inéditas.

No campo da educação não foi diferente. Embora a pandemia tenha acelerado a entrada de tecnologias nas escolas, seus impactos levaram a uma perda significativa na aprendizagem dos estudantes, que ainda hoje não foi plenamente recuperada. E isso refletiu, e ainda reflete, em toda a trajetória escolar de milhões de crianças e adolescentes brasileiros.

Neste mês, em que completamos cinco anos do início da pandemia, precisamos analisar o que ainda é necessário para minimizar as perdas resultantes do período de escolas fechadas. Além disso, temos urgência em avançar nos resultados de aprendizagem, que já não eram bons antes da crise global.

Uma das etapas escolares mais afetadas pela pandemia foi a alfabetização. Mesmo antes da crise, as crianças já registravam desempenho aquém do esperado. O impacto do isolamento prolongado e da interrupção das aulas presenciais ficou evidente na primeira avaliação divulgada neste período.

O Saeb 2021 (Sistema de Avaliação da Educação Básica), um dos principais termômetros da qualidade da educação básica brasileira, capturou um cenário excepcional, refletindo as dificuldades impostas pela pandemia. Apenas 36% dos estudantes do 2º ano do ensino fundamental sabiam ler e escrever, enquanto em 2019 esse percentual era de 55%.

O dado de 2021 não deve ser interpretado como parte de uma série histórica regular, mas como um retrato do impacto da covid-19.

Desde então, o Brasil registrou avanços: em 2023, segundo o Índice Criança Alfabetizada, divulgado pelo governo federal, 56% das crianças estavam alfabetizada ao final do 2º ano do ensino fundamental. Esse salto de 20 pontos em relação a 2021 indica uma recuperação relativamente rápida dos efeitos da pandemia. Ao mesmo tempo, o resultado ficou apenas 1 ponto acima do registrado em 2019, evidenciando a necessidade de empenho contínuo para garantir a alfabetização das nossas crianças.

Muitos esforços têm sido feitos para apoiar os estudantes a recuperar as perdas de aprendizado. Entre eles, destaco dois programas lançados pelo governo federal: na alfabetização, o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, divulgado pelo Ministério da Educação em 2023, é uma iniciativa que teve a adesão de todos os estados brasileiros, do Distrito Federal e de 83% dos municípios do país.

O programa foi inspirado na experiência de 18 estados participantes da Parceria de Alfabetização em Regime de Colaboração (Parc), uma iniciativa que tem como objetivo promover avanços na alfabetização por meio de colaboração entre estados e seus municípios.

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A iniciativa, realizada desde 2019 por Fundação Lemann, Instituto Natura e Associação Bem Comum, tem registrado resultados significativos no avanço da alfabetização nestes estados, chegando a 69% de crianças leitoras, em média, em 2024.

Outro esforço importante lançado em março, ainda que com atraso, foi o Pacto pela Recomposição das Aprendizagens, para enfrentar as defasagens educacionais causadas pela pandemia, uma iniciativa em colaboração entre a União, estados, Distrito Federal e municípios.

O encerramento da pandemia foi decretado em 2023, mas outras crises podem surgir a qualquer momento. Se, por um lado, o país avançou em alguns aspectos, como na ampliação da conectividade nas escolas, na priorização curricular e no fortalecimento da colaboração entre estados e municípios, por outro, ainda faltam políticas estruturadas para garantir a continuidade da aprendizagem em situações emergenciais, como diretrizes nacionais para a rápida adaptação do ensino e mecanismos permanentes de suporte a redes de ensino, professores e estudantes diante de novas ameaças globais.

Completamos cinco anos desde o início da pandemia, e este marco deve nos lembrar não apenas dos desafios que enfrentamos, mas da necessidade de seguir aprendendo com eles. O impacto na educação foi profundo e ainda persiste, tornando essencial não apenas recuperar o que foi perdido, mas também fortalecer nossas respostas para o futuro.

Este é um momento de repactuar compromissos e consolidar estratégias que garantam que nenhuma crise volte a comprometer o direito de crianças e adolescentes à aprendizagem. Antecipar-se a desafios exige ação contínua, colaboração e planejamento
estruturado para que possamos construir um sistema educacional mais resiliente e preparado para o que vier.

*Daniela Caldeirinha é vice-presidente de Educação da Fundação Lemann

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