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Mídia garimpa em Paulínia (SP) passado do fenômeno Marcela Temer

Rodrigo Bertolotto

Enviado do UOL Notícias<br>Em Paulínia (SP)

07/01/2011 10h01

Ela própria raramente dá entrevistas. A mãe e o pai também fogem. No telefone da irmã, Fernanda, atende a secretária eletrônica com a música “Ei, Psiu”, do cantor sertanejo Leonardo. Mas nada de resposta.

  • Divulgação

    À esq., Marcela posa como segunda colocada em concurso "paralelo" para Miss São Paulo 2003

Quem fala pela família é o tio Geraldo. “Já dei entrevista para tudo que é TV, jornal, revista e internet. Até me apelidaram o `vice-tio´ aqui na cidade”, conta o administrador do shopping de Paulínia e porta-voz informal da família de Marcela Temer, a vice-primeira-dama do Brasil que virou celebridade ao desfilar seus 27 anos pela posse de Dilma Rousseff.   

Marcela está na órbita de Michel Temer, que está na órbita de Dilma. Assim como Paulínia ronda Campinas, que, por sua vez, está na esfera de São Paulo. A cidade conhecida por ser o principal pólo petroquímico da América Latina se transformou atualmente na cidade natal da “princesa” do palácio do Jaburu, a residência oficial dos vices nacionais.

Quem fala sobre Marcela sempre usa o qualificativo “discreta”. “Ela é discretíssima. É minha mulher e mãe do meu filho”, resumiu o marido após o furor midiático. “Ela é tão bonita quanto discreta”, sentencia Heloísa Berenguel, empresária local que acompanhou a curta carreira de Marcela nas passarelas interioranas. “Ela é reservada como o pai dela”, afirma o tio Geraldo.

O mesmo não pode ser falado de Paulínia. Entre as maiores rendas per capita do país, a cidade de 82 mil habitantes se apresenta aos visitantes em vários pórticos que anunciam que o forasteiro entrou em suas terras. Um é em estilo medieval. Outro imita uma casa colonial. O terceiro é à moda greco-romana, com direito a muito mármore e dezenas de estátuas de soldados da Antiguidade.

  • Rodrigo Bertolotto/UOL

    Administrador de shopping na cidade, Geraldo Araújo é o tio que atua como "porta-voz informal" da família

Além dos familiares e amigos na cidade, o foco recaiu sobre a garota que derrotou Marcela no concurso de miss Paulínia de 2002: Daniela Fantinato. A garota, que trabalha com eventos na cidade, também não está disponível para entrevista - está acompanhando em hospital local um sobrinho que está na UTI.

Outro interesse da imprensa é encontrar fotos da agora beldade palaciana em trajes de banho desfilando sobre o taco do salão do Clube Paulinense.

Um lote com 18 fotos e mais recortes de revistas da época é oferecido para o meio de comunicação que desembolsar R$ 5.000. As imagens mostram Marcela em maiô preto com o número 38 afivelado na cintura da candidata. Em outras, ela está no meio das dezenas de rivais posando em um restaurante e uma praça da cidade.

Também há registros dela em um concurso de Miss São Paulo. Mas não é a disputa que daria vaga ao Miss Brasil. Na verdade, Marcela concorreu em uma “disputa fajuta”, como definiu a organização do concurso oficial. O concurso realizado em 25 de outubro de 2003 em Marília foi organizado pelo jornalista Danilo D`Ávila, que promove em vários Estados torneios com beldades, mas que não classificam para nenhum concurso nacional ou internacional.

Novamente, a mulher do vice foi vice-campeã, em uma piada pronta do destino. A vencedora foi Rebeca Guerreiro, que hoje é bancária na cidade de Itapira e só lembra que Marcela era “uma garota simples” e que ela concorreu representando Campinas.

As imagens de Marcela foram oferecidas a Michel Temer, mas sua equipe recusou pagar R$ 10 mil por elas. “Tenho pena de quem faz isso. São pessoas que não merecem crédito”, critica Geraldo Araújo, o tio de Marcela.

  • Reprodução

    Marcela, aos 19 anos, concorre ao miss Paulínia e acaba como vice

  • Folha Imagem

    Já como Marcela Temer, ela chama atenção nas reuniões políticas

O tio peemedebista encarnou o “cupido” do casal Marcela, 27, e Michel Temer, 70. Foi dele a ideia de levar a sobrinha a uma reunião partidária. Na chácara do evento estava o então presidente da Câmara Federal. O resto da história já foi contado e recontado nos últimos dias: Marcela quis tirar foto com o político eminente, que se encantou com a moça e pediu seu telefone.

Um ano depois se casavam em cerimônia para menos de 20 pessoas, em salão da casa do deputado em São Paulo. Temer não convidou nem avisou nenhum de seus colegas parlamentares. Os colunistas sociais de Paulínia não souberam do casório. Só depois do altar que Marcela passou a andar a tiracolo de Michel, escancarando o laço matrimonial entre os dois (Temer já fora casado anteriormente, tendo outros quatro filhos).

No dia 1º de janeiro foi o Brasil que se surpreendeu com uma loira de trança, tatuagem e roupa que revelava o corpo curvilíneo e subia até o parlatório do palácio do Planalto no momento em que Dilma fazia seu primeiro discurso ao público como presidente.

O curioso e o revelador é que, no momento em que o Brasil alçava sua primeira mulher à condição de máxima mandatária, os olhos se voltam para uma mulher que também estava lá, mas que só se destacava pela beleza, ou seja, o papel tradicional delas na sociedade. E ainda ex-miss.

O termômetro inicial do assunto foi a escalada da “loira da posse” nos “trending topics” do microblog Twitter. Os detratores a comparavam com Geisy Arruda. Os defensores faziam outras analogias.  "Carla Bruni para quê, se nós temos Marcela Temer? Cancela a compra dos caças que nós já encontramos um avião!”, escreveu um.

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Dali, o interesse se espalhou pelas mídias tradicionais e ganhou até páginas em jornais pelo mundo. “A estrela era a Dilma. Foi uma surpresa para a gente quando se começou a falar tanto. Até um parente nosso viu na Califórnia uma reportagem sobre a Marcela”, relata Geraldo, que também estava na cerimônia de posse, junto com os pais e irmãos da vice-primeira-dama.

O tio conta que não se recorda de outro namorado de Marcela antes de Michel Temer. Ele conta também que ela nunca gostou muito de noitadas e baladas. Isso ajudou na adaptação para uma vida de jantares e recepções com políticos no lugar das festas como seria o de esperar de uma jovem de 27 anos.  O nascimento de Michelzinho, hoje com um ano e oito meses, referendou a transformação da miss em mãe de família. A vida nos salões de palácio com um senhor com idade para ser seu avô deve completar a mutação.

  • Arte UOL/Agência Estado

    Marcela Temer na posse de Dilma, com destaque para a tatuagem com o nome do marido na nuca