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Após série de denúncias, ministro dos Transportes deixa o cargo

Alfredo Nascimento deixou o cargo nesta quarta-feira - Reprodução
Alfredo Nascimento deixou o cargo nesta quarta-feira Imagem: Reprodução

Do UOL Notícias

Em Brasília

06/07/2011 16h51Atualizada em 06/07/2011 17h39

O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), deixou o cargo nesta quarta-feira (6) após uma série de denúncias na imprensa sobre supostas irregularidades na pasta. As inúmeras medidas para investigar os casos, anunciadas desde a última segunda-feira (4), não foram suficientes para manter Nascimento no poder. O anúncio foi feito pelo ministério em nota oficial.

"O Ministro de Estado dos Transportes, senador Alfredo Nascimento, decidiu deixar o governo. Há pouco, ele encaminhou à presidente Dilma Rousseff seu pedido de demissão em caráter irrevogável", afirma a nota.

No último fim de semana, a revista "Veja" publicou uma reportagem sobre um suposto esquema de superfaturamento e de cobrança de propinas em obras do ministério. Depois das denúncias, quatro servidores da pasta foram afastados: o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luís Antônio Pagot, o chefe de gabinete do ministro, Mauro Barbosa da Silva, o assessor do gabinete, Luís Tito Bonvini, e o diretor-presidente da Valec, José Francisco das Neves.

Hoje, o jornal "O Globo" divulgou que a empresa do filho de Nascimento está sob investigação de enriquecimento ilícito após registrar um aumento patrimonial de 86.500% e de manter contato com empresas que têm negócios com o ministério. Também foi divulgado que o engenheiro civil Mauro Barbosa da Silva, até a semana passada chefe de gabinete do ministro Alfredo Nascimento, está construindo uma mansão em Brasília com três pavimentos e 1.300 metros quadrados.

Em setembro de 2009, o jornal "Correio Braziliense" já havia divulgado um vídeo mostrando o então ministro assediando um deputado candidato a integrar a bancada do PR na Câmara, Davi Alves Silva (PDT-MA). 

O ministro foi chamado a prestar esclarecimentos no Senado e na Câmara na semana que vem, mas sua demissão foi anunciada antes disso. Nos bastidores, afirma-se que Dilma já estava atrás de outro nome do PR para assumir o cargo. PMDB e PT também estão de olho na vaga.

Nascimento negou envolvimento nas irregularidades e se colocou à disposição para prestar esclarecimentos. Ele informou ainda, por meio de nota no começo da semana, que assinou uma portaria para instituir uma comissão de sindicância investigativa para apurar as supostas irregularidades. A comissão tem 30 dias para concluir a apuração. Também a CGU (Controladoria Geral da União) informou que faria uma "devassa" nos contratos da pasta.

Ontem, o Ministério suspendeu por 30 dias as licitações de projetos, obras e serviços de engenharia em curso. Também foi determinada a suspensão de aditivos com impacto financeiro, exceto os que forem inadiáveis e “cuja paralisação possa comprometer a segurança de pessoas e o patrimônio da União”.

A oposição está colhendo assinaturas para a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as denúncias e também enviou um pedido de investigação ao Ministério Público.

“Na nossa opinião, já era insustentável [a manutenção dele no governo], agora ficou insuportável. O que acontece neste governo são ministro enriquecerem de maneira vertiginosa”, disse o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), em referência ao ex-ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Paloccci, que saiu do cargo depois de denúncias de aumento patrimonial de 20 vezes em quatro anos.

Íntegra da nota do ministério

"O Ministro de Estado dos Transportes, senador Alfredo Nascimento, decidiu deixar o governo. Há pouco, ele encaminhou à presidenta Dilma Rousseff seu pedido de demissão em caráter irrevogável.

Com a determinação de colaborar espontaneamente para o esclarecimento cabal das suspeitas levantadas em torno da atuação do Ministério dos Transportes, Alfredo Nascimento também decidiu encaminhar requerimento à Procuradoria-Geral da República pedindo a abertura de investigação e autorizando a quebra dos seus sigilos bancário e fiscal. O senador está à disposição da PGR para prestar a colaboração que for necessária à elucidação dos fatos.

Alfredo Nascimento reassumirá sua cadeira no Senado Federal e a presidência nacional do Partido da República (PR) coloca-se à disposição de seus pares para participar ativa e pessoalmente de quaisquer procedimentos investigativos que venham a ser deflagrados naquela Casa para elucidar os fatos em tela."

Biografia

Apesar de ter nascido na cidade de Martins, no Rio Grande do Norte, Alfredo Pereira do Nascimento adotou a cidade de Manaus (AM) como endereço fixo há cerca de 30 anos. No entanto, é em Brasília, que o presidente do PR tem atuado na última década. O cargo de ministro do Transporte foi ocupado por ele na gestão Dilma Rousseff como a cota da legenda aliada no ministério e também por indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem Nascimento é amigo pessoal.

O ministro ocupou a pasta pela primeira vez em 2004, quando aceitou convite de Lula. Em março de 2006 deixou o cargo para disputar uma cadeira no Senado pelo Estado do Amazonas e foi eleito. Em 2007, Nascimento voltou a ser convidado para assumir os Transportes, deixando como suplente João Pedro (PT), também amigo do ex-presidente petista. 

Formado em Letras pela Universidade Federal do Amazonas e especialista em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, iniciou a carreira profissional como controlador de voo da FAB (Força Aérea Brasileira). Na vida pública exerceu vários cargos na região Norte, como secretário municipal de Administração do Amazonas, secretário de Estado de Administração do Amazonas, presidente da Empresa de Prodam (Processamento de Dados do Amazonas), secretário de Estado de Fazenda do Amazonas, superintendente da Zona Franca de Manaus, secretário municipal de Economia em Manaus, vice-governador do Amazonas e secretário municipal de Saúde de Manaus.

Também foi eleito prefeito de Manaus por duas vezes (1997-2000 e 2001-2004). Em 1999, filiou-se ao PR (Partido da República).