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Pagot elogia atuação de Dilma, isenta Bernardo e diz que está "doido para voltar para a iniciativa privada"

Maurício Savarese<br> Do UOL Notícias

Em Brasília

12/07/2011 14h29

Após quase cinco horas de depoimento no Senado, nesta terça-feira (12), o diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte), Luiz Antônio Pagot, afirmou que seu futuro depende da presidente Dilma Rousseff, que na semana passada solicitou o afastamento da cúpula do Ministério dos Transportes por conta de acusações de corrupção. Ele afirmou que está "doido para voltar para a iniciativa privada" para trabalhar com projetos com os quais se identificou desde que começou a trabalhar no departamento.

"O meu futuro eu não sei, depende da presidente. Não podia deixar de vir aqui para fazer a defesa do Dnit", disse. "Não concordo com o ministro Jorge Hage [controlador-geral da União], que disse que o Dnit tem DNA de corrupção. O Dnit pode ter situações de ilicitude e de corrupção, mas está respondendo", disse.

Pagot também afirmou que "o Dnit é o Dnit do bem". "Dos trabalhadores e dos abnegados. Tem muita gente que chega na hora da comoção e some dos canteiros dos desabrigados. O Dnit continua", completou.

Envolvido em suspeitas de superfaturamento de obras para abastecer os cofres do PR, o diretor-geral do Dnit foi espontaneamente ao Senado nesta terça-feira (12) para negar as denúncias. Ele também rejeitou a acusação do senador Pedro Taques (PDT-MT), que acusou o partido de transformar a pasta em um feudo com um “estilo de máfia”.

“Em situação de férias” apesar do afastamento da cúpula do Ministério dos Transportes, Pagot disse que ainda está no cargo, elogiou a presidente Dilma Rousseff por acompanhar os trabalhos e cobrar os agentes públicos e isentou o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, das suspeitas de interferência no órgão. O diretor afirmou que muitos diretores do departamento “não têm qualquer indicação política”.

Após a pergunta do senador mato-grossense, Pagot disse que “o PR não tem feudo” e indica membros “por competência técnica” para a pasta. Disse ainda que há membros do PT que trabalham no ministério e que a filiação partidária não é o principal critério para ocupar cargos. Afirmou que a presidente se espantou algumas vezes com o aumento do valor de obras, mas que o Dnit “nunca deixou os questionamentos sem resposta”.

Nos últimos dias, vários veículos de imprensa divulgaram que Pagot teria provas de encontros de empreiteiros com Bernardo, ministro do Planejamento no governo Luiz Inácio Lula da Silva, antes mesmo de eles irem à pasta dos Transportes. O objetivo seria manter um relacionamento com licitantes poderosos e impulsionar a candidatura de Dilma à Presidência – o titular das Comunicações já tinha negado a acusação.

No depoimento às comissões de Infraestrutura e de Fiscalização e Controle do Senado, o diretor do Dnit chamou de “invencionice” e “factoides” as reportagens que o colocam como “homem-bomba”. Disse que não processará os veículos de comunicação porque eles têm advogados que arrastariam a causa por muitos anos. Reconheceu problemas na gestão do departamento, mas rejeitou as denúncias de corrupção. “Não é fato”, repetiu.

O diretor do Dnit também negou que tenha pedido férias após uma consulta à ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, mulher de Bernardo. Pagot fez uma defesa técnica no início de sua fala, descrevendo o organograma e as funções dos órgãos do departamento, e rejeitou as acusações dos oposicionistas. Depois, defendeu ministros envolvidos na crise nos últimos dias.

"Ele [Bernardo] nunca me exigiu, nunca me pediu nada. Nem para Londrina, que é a cidade dele", afirmou. Sobre Gleisi, disse ter por ela “o maior respeito”. Pagot disse ainda que, como ministro do Planejamento, Bernardo sempre foi “muito exigente e não dava folga para ninguém”. Usou os mesmos adjetivos para Dilma e negou que a presidente tenha dito que seria “babá” da cúpula do Ministério dos Transportes.

Entenda a crise

A crise no Ministério dos Transportes foi detonada depois de a revista “Veja” publicar uma reportagem que acusa o PR de ter um esquema de financiamento eleitoral por meio de superfaturamento de obras. Pagot rebateu a denúncia. “O partido não usou o Dnit para buscar financiamento de qualquer tipo”, afirmou. “É normal que o escopo de uma obra comece de um jeito e termine maior, porque há muitas exigências novas.”

A presidente decidiu pelos afastamentos de Pagot, do presidente da Valec (empresa pública do ramo de construções), José Francisco das Neves, conhecido como Juquinha, o chefe de gabinete do Ministério dos Transportes, Mauro Barbosa, e o assessor Luiz Tito. A revista diz que esses órgãos buscavam 4% sobre o valor de faturas recebidas, em troca da vitória de corruptores em licitações. Assim, haveria superfaturamento garantido.

O antigo titular da pasta dos Transportes, o senador licenciado Alfredo Nascimento, foi o segundo ministro a deixar o governo Dilma após denúncias na imprensa. Antes disso, o principal assessor da presidente, Antonio Palocci, saiu da Casa Civil por conta da multiplicação de seu patrimônio no período entre 2006 e 2010, conforme noticiou o jornal “Folha de S.Paulo”.

Férias frustradas

Sobre as férias que impedem sua demissão imediata, Pagot afirmou que o agora ex-ministro Alfredo Nascimento acertou com Dilma a concessão antes de a revista Veja publicar as acusações à cúpula da pasta, um reduto do PR desde o governo anterior. "Todo mês de novembro recebemos a programação de férias. As minhas estavam marcadas entre 4 de julho e 21 de julho. Já existia a programação", afirmou.

Interlocutores do Palácio do Planalto negaram nos últimos dias que Pagot tenha sido orientado a pedir férias até que as denúncias esfriassem. Gleisi também desmentiu que tenha dado a sugestão.

Pagot afirmou que compareceu espontaneamente ao Senado para defender o Dnit e negar afirmações veiculadas na imprensa nas últimas semanas. "A CGU (Controladoria Geral da União) e o TCU (Tribunal de Contas da União) são muito ágeis. Quando eles têm algo para se pronunciar eles enviam um relato. Não houve superfaturamento de obras", disse.