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Novo ministro do Turismo toma posse e diz que ficou "assustadíssimo" ao receber indicação

Camila Campanerut<br>Do UOL Notícias

Em Brasília

16/09/2011 16h24Atualizada em 16/09/2011 18h32

O deputado federal Gastão Vieira (PMDB-MA) toma posse na tarde desta sexta-feira (16) como o novo ministro do Turismo do governo Dilma Rousseff. Vieira substituiu Pedro Novais (PMDB-MA), que pediu demissão da pasta na última quarta-feira após reportagens da Folha de S.Paulo que revelaram o uso de funcionários pagos com dinheiro público em atividades particulares.

Vieira agradeceu a confiança de Dilma e de seu partido pela indicação, e acrescentou que foi pego de surpresa. “Eu, assustadíssimo, recebi o convite. Eu estava com tanto medo que, mesmo que eu quisesse, não poderia dizer não”, afirmou.

Em seu discurso, Vieira também agradeceu a Dilma pela cerimônia simples. “Prefiro que a chegada seja simples para que a saída seja cheia do sentimento de dever cumprido”.

Transmitida ao vivo pela NBR (veículo oficial do governo), a cerimônia foi fechada a jornalistas e cinegrafistas e aberta apenas a fotógrafos. A justificativa do Planalto foi a falta de tempo entre o convite –na noite da última quarta-feira (14)– e a cerimônia. 

Eu, assustadíssimo, recebi o convite. Eu estava com tanto medo que, mesmo que eu quisesse, não poderia dizer não

Gastão Vieira, novo ministro do Turismo

“Não medirei esforços para responder aos anseios da comunidade brasileira”, complementou Vieira, dizendo que vai trabalhar com esforço e lutar por uma agenda positiva.

Vieira agradeceu ainda Edison Lobão (ministro de Minas e Energia) e Roseana Sarney (governadora do Maranhão), dizendo que aprendeu a trabalhar com “zelo e fidelidade” durante o governo estadual de ambos no Maranhão, nos quais atuou como secretário.

A cerimônia teve a presença de alguns ministros como Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Edison Lobão (Minas e Energia) e Celso Amorim (Defesa). José Sarney também esteve presente. Já o vice-presidente Michel Temer não compareceu pois está em São Paulo realizando exames médicos.

Perfil

No quinto mandato como deputado federal e afilhado político do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o advogado e mestre em direito Gastão Vieira, 65, tem trajetória na área de educação e dedicou-se, em geral, a assuntos regionais. Por duas vezes, Gastão Vieira se licenciou para assumir as secretarias estaduais de Educação e Planejamento, no Maranhão. Na última ocasião em que se licenciou, em 2009, foi secretário durante a gestão da governadora do Maranhão, Roseana Sarney.

O novo ministro é descrito pelos parlamentares como discreto e distante das articulações de bastidores e políticas. Desde que começou na política, nos anos 80, Gastão Vieira se manteve a maior parte do tempo fiel ao PMDB, embora tenha passado rapidamente pelo PSC. Na Câmara, ele se destacou atuando nas negociações do Plano Nacional de Educação, nos debates sobre a proposta que definiu a proibição do uso de castigos corporais como método educativo e nas articulações para alterar a lei de seguridade social.

Em falas no plenário da Câmara, Vieira criticou duramente o esquema do mensalão, que envolve diversos dirigentes do PT, partido de Dilma. Para ele, foi um "caso de corrupção sem paralelo na história republicana brasileira".

Entenda

O nome de Gastão Vieira como substituto de Pedro Novais foi confirmado no final da noite de quarta-feira (14). Novais não resistiu às pressões depois de uma série de acusações de irregularidades que culminaram com reportagens que mostraram que ele pagou com dinheiro público por serviços de uma empregada e de um motorista particulares.

Quinto ministro de Dilma Rousseff a cair em nove meses de governo --sendo o quarto por acusações de irregularidades, junto com Antonio Palocci (ex-Casa Civil), Alfredo Nascimento (ex-Transportes) e Wagner Rossi (ex-Agricultura)--Novais já estava fragilizado depois de uma devassa na pasta, realizada pela Polícia Federal, contra ações fraudulentas em convênios firmados pelo ministério. Mais de 30 pessoas com ligação direta ou indireta ao ministério foram presas e denunciadas pelo Ministério Público.

Análise: Dilma deixa tarefa de investigar corrupção para a imprensa

Entre os presos estão o agora ex-secretário-executivo do ministério, Frederico Silva da Costa. Novais o manteve depois de anos trabalhando para os ex-ministros Marta Suplicy e Luiz Barreto, ambos do PT. Também foram detidos o secretário nacional de Desenvolvimento de Programas de Turismo, Colbert Martins da Silva Filho, e Mario Moysés, ex-presidente da Embratur, além de empresários e funcionários do ministério.

Os últimos capítulos da passagem de Novais pelo governo se deram com explicações pouco convincentes na Câmara dos Deputados e no Senado. Ali, ele admitiu que poderia haver irregularidades em sua gestão e prometeu corrigi-las.

Outras irregularidades

Novais já começou fragilizado no cargo. Antes mesmo de assumir o Turismo, por indicação de Henrique Alves (PMDB) e do grupo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o deputado octogenário enfrentava a acusação de ter usado verba indenizatória para pagar um motel em São Luís (MA). Na posse, ele chorou e negou qualquer irregularidade.

Em junho deste ano, Novais firmou seu maior convênio até então, de R$ 20 milhões: deu financiamento à Via Expressa de São Luís, que ligará duas avenidas da capital maranhense –seu reduto eleitoral –, embora a obra pouco tenha de turística. Os outros acordos assinados pelo ministro não chegavam à metade desse número. Em agosto, chegou-se ao total de R$ 351 milhões em gastos com obras que nada têm a ver com a pasta, segundo o jornal “Folha de S.Paulo”.

Apesar da prestigiada indicação de Sarney para ocupar o cargo, Novais só foi recebido por Dilma em julho, para uma curta audiência. Depois de fazer fama como gestora, a presidente não escondeu que considerava o peemedebista pouco habilitado para o cargo.