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Ministro do Esporte ganha sobrevida com Dilma, mas perde força

Maurício Savarese

Do UOL Notícias <br> Em Brasília

22/10/2011 07h00

A sobrevida que o ministro do Esporte, Orlando Silva, conquistou depois de conversar com a presidente Dilma Rousseff na noite desta sexta-feira (21) ainda não foi o suficiente para reestabelecer seu poder político. Alvo de adversários no Brasil e no exterior, incluindo aí dirigentes esportivos, o comunista segue ameaçado no cargo que ocupa desde 2006 e segue também com apoio do seu partido, o PCdoB.

As acusações de desvio de recursos públicos para caixa dois eleitoral, denunciadas pela revista “Veja”, levaram o vice-presidente, Michel Temer, a sugerir que Pelé seria um bom substituto. Dirigentes da Fifa, entidade que organizará a Copa do Mundo de 2014 e com a qual Silva teve atritos, chegaram a falar na expectativa por um “novo interlocutor” no governo brasileiro.

Silva continua como alvo da oposição e da mídia –o jornal “O Estado de S.Paulo” noticiou que a mulher do ministro, Anna Cristina Petta, firmou contrato com uma ONG chefiada por membros do partido. Depois das publicações do fim de semana, a pressão deve aumentar na próxima terça-feira (25), quando o denunciante João Dias –policial militar também acusado de corrupção– falará em uma comissão da Câmara dos Deputados.

Na entrevista coletiva organizada depois de ser mantido no cargo por Dilma, Silva afirmou que a presidente deseja que ele “continue com suas atribuições”, em especial na gestão da Copa do Mundo de 2014. Embora ele próprio tenha dito que encerraria nesta semana suas explicações públicas sobre as denúncias, ele também continua como alvo dos oposicionistas e da imprensa.

Ministro do Esporte usa programa do PCdoB para se defender de acusações

Histórico de sobrevivente

Não foi a primeira vez que Silva precisou do aval presidencial para se manter no cargo. No governo Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a pasta no fim do primeiro mandato, em 2006, no lugar de Agnelo Queiroz –então candidato ao Senado pelo PCdoB e hoje governador do Distrito Federal pelo PT. Precisou articular nos bastidores para não perder o cargo para o antecessor em 2007.

Com o apoio de Lula, participou do estágio final da preparação do Pan-Americano do Rio de Janeiro em 2007 e das campanhas vitoriosas para o recebimento da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Por conta disso, o Ministério do Esporte passou a receber recursos mais vultosos e a ser alvo do interesse de outros partidos, incluindo o PMDB.

Eleita, Dilma cogitou trocá-lo durante a transição do governo. Preferia em seu lugar a deputada federal Luciana Santos (PCdoB-PE), ex-prefeita de Olinda (PE). Pesavam a favor do ministro o trânsito com dirigentes esportivos. A presidente acabou demovida da ideia, mas tirou poderes do ministro com a criação da APO (Autoridade Pública Olímpica), responsável pelos Jogos Olímpicos de 2016.

A presidente também deu ao comunista o papel de anteparo junto a dirigentes polêmicos, como os titulares da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, e da Fifa, Joseph Blatter. A relação se deteriorou rapidamente, em especial por conta da lei-geral da Copa –que prevê isenções fiscais e imunidade para membros da entidade em suas visitas ao Brasil.

As rusgas entre o governo e as entidades esportivas aumentaram nos últimos meses. Antes consultado com frequência, Silva teve de se esforçar para impedir que Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e titular da APO, tirasse dele também as atribuições sobre a Copa do Mundo de 2014. Se continuar na pasta, o governo prevê dificuldades em sentá-lo na mesma mesa de Blatter e Teixeira, falando em nome de Dilma.

Tapiocas e orçamentos

As turbulências na gestão de Silva, 40, baiano de Salvador e torcedor do Vitória, se deram depois de denúncias à revista “Veja” feitas pelo policial militar João Dias –que o acusou de integrar um esquema de desvio de verbas do programa Segundo Tempo, iniciado na gestão de Agnelo. O próprio ministério já tinha reconhecido convênios irregulares com ONGs, mas nunca com envolvimento do ministro.

A única denúncia que tinha atingido Silva diretamente foi a compra de tapiocas por R$ 8,30, em meio ao escândalo dos cartões corporativos. Ele devolveu mais de R$ 30 mil em gastos feitos com o cartão –disse que usou equivocadamente para pagar pelas tapiocas porque se confundiu. Indiretamente, foi afetado pelos sucessivos aumentos de gastos com o Pan do Rio de Janeiro.

Presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) entre 1995 e 1997, Silva contou com o apoio do seu partido para se manter no cargo, apesar das denúncias. Na quinta-feira (20), o PCdoB dedicou grande parte de seu programa eleitoral gratuito à defesa do ministro. Para a noite desta sexta-feira, ele tinha participação prevista em um evento do partido no Rio de Janeiro, mas desistiu para conversar com Dilma.