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Dilma vai ao Senado, mas evita falar de crise política

Maurício Savarese

Do UOL, em Brasília

13/03/2012 12h37

Em meio a tensões com sua base aliada no Congresso, a presidente Dilma Rousseff foi nesta terça-feira (13) ao Senado para receber o prêmio Bertha Lutz, por sua contribuição aos direitos da mulher na sociedade. Em um discurso de cerca de 20 minutos, evitou falar sobre os desentendimentos na base aliada. Nesta terça-feira, Dilma retirou o líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

A justificativa oficial é o início de um revezamento no cargo, assim como acontecerá no Senado. Na segunda-feira (19), Romero Jucá (PMDB-RR) foi apeado da liderança do governo no Senado, onde será substituído por Eduardo Braga (PMDB-AM).

O único momento de descontração da cerimônia envolveu a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que mandou um recado ao vice-presidente Michel Temer, presente no encontro, e cujo PMDB almeja ampliar sua cota de cinco ministérios. “Cuide bem dela. Estamos de olho”, disse. Em sua fala, Dilma também prometeu cuidar de Temer.

Gestão de ânimos

A visita de Dilma foi encarada como uma tentativa da presidente de acalmar os ânimos. Nos bastidores, petistas e peemedebistas admitem que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de criar restrições para a aprovação de medidas provisórias e a proximidade das eleições municipais criaram dificuldades para Dilma, principalmente porque ela não tem a mesma habilidade do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, para demandas políticas. “Agora que o governo está pressionado por uma questão que é de calendário e outra que veio do Judiciário, quem estava incomodado, falou”, disse um peemedebista.

Um petista conciliador afirmou que a presidente “vai ter de conversar mais e ceder um pouco para não perder aliados em um ano de eleições municipais importantes para o projeto Dilma 2014”, referindo-se a uma possível candidatura para a reeleição. Se os peemedebistas querem mais do que cinco pastas e a Vice-Presidência, com Michel Temer, os petistas querem manter os 16 cargos de primeiro escalão e cobiçam o Ministério do Trabalho, ocupado há pouco pelo presidente do PDT.

A necessidade de Dilma agir aumentou na semana passada, depois que senadores do PMDB ajudaram a rejeitar a recondução do diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, ao cargo. Poucos dias antes, mais de 50 dos 76 deputados do partido assinaram uma carta sugerindo alforria. Na segunda-feira (12), a presidente tomou a primeira medida da reestruturação e trocou seu líder no Senado.

O fracasso na votação levou Dilma a substituir o senador Romero Jucá (PMDB-RR), no cargo desde 2006 no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, por Eduardo Braga (PMDB-AM). “Jucá deveria ter saído logo depois da derrota, que foi causada pelo partido dele”, disse Lindberg Farias (PT-RJ). “Se ele não sabia do clima ruim dos peemedebistas com o governo e com os senadores petistas, deveria ter avisado antes da votação.”

A deferência que Dilma fará aos senadores nesta terça-feira não aconteceu no governo Lula nem na crise do mensalão, detonada em 2005 após denúncias que partiram exatamente de sua base aliada no Congresso. “Ela está fazendo certo. Todos nós já fomos até ela”, disse um peemedebista ouvido pelo UOL. Lula compareceu à Câmara dos Deputados basicamente para tomar posse e fazer seus primeiros discursos como presidente eleito e, quatro anos depois, reeleito.

O passo seguinte de Dilma pode ser a substituição do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, por um nome ligado ao PMDB. Ainda haveria chance, segundo um interlocutor da presidente, de que o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, se mude para essa pasta com mais recursos e abra espaço para o PR –que se afastou de Dilma durante a crise que culminou na demissão do ministro Alfredo Nascimento.

A sessão está marcada para 10h, no plenário do Senado, e também serão agraciadas a viúva do militante Luiz Carlos Prestes, Maria do Carmo Ribeiro; a primeira senadora do Brasil, Eunice Mafalda Michiles; a socióloga Rosali Scalabrin, da Comissão Pastoral da Terra; e a professora Ana Alice Alcântara da Costa, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Todas contribuíram para a ampliação dos direitos femininos.