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"Parei tudo", diz novo secretário de Obras de Blumenau

Paulo França, secretário municipal de Obras de Blumenau (SC) - Renan Oliveira/UOL
Paulo França, secretário municipal de Obras de Blumenau (SC) Imagem: Renan Oliveira/UOL

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Blumenau (SC)

09/05/2013 17h48

O engenheiro Paulo França, 61, novo secretário de Obras de Blumenau (130 km de Florianópolis), tomou posse em 7 de janeiro já sob a sombra do escândalo da Operação Tapete Negro, do MPE (Ministério Público Estadual), que apura a Máfia do Asfalto, em Santa Catarina. "Dava para sentir o baixo astral aqui, precisei mudar todos os móveis de lugar, arrastei minha mesa para longe da janela." Ele afirmou que sua primeira medida, como secretário, foi parar obras sob suspeita. "Parei tudo."

França disse que sua cautela se explica porque já assumiu "ressabiado", sabendo que a prefeitura e a URB (empresa que na prática ele dirige por ser o secretário de Obras) estavam sendo investigados pelo MPE. Ele disse saber que "o pepino era grande". O MPE (Ministério Público Estadual) investiga um megaesquema de corrupção com o objetivo de desviar dinheiro público, instalado na administração de Blumenau. O grupo já teria desviado pelo menos R$ 100 milhões dos cofres públicos, valor equivalente a 7% do orçamento de 2012 da cidade.

Com cautela para não melindrar o eleitorado, o secretário afirmou que não quis parar obras que o povo já tinha visto, para não causar má impressão no eleitorado. Ele trabalhou com a polêmica verba de R$ 30 milhões do Badesc --discutida no telefonema entre Kleinubing e Brollo, conhecida na burocracia como "Badesc 3".

França afirmou que nos cinco meses da gestão Bernardes gastou R$ 9 milhões. "Foram dez obras de asfaltamento concluídas, apresentamos a medição de obras feitas e o Badesc pagou."

Entenda o esquema

As outras sete do pacote estão sendo tocadas --inclusive duas pela empreiteira Construvias, uma das investigadas pelo MPE, que seriam "contratos não questionados".

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França ocupa o gabinete que do ex-secretário Alexandre Brollo, 37, flagrado nas gravações do Ministério Público dizendo que "o povo tem que se foder".
 
O único adorno no gabinete de paredes brancas é uma foto dele com o neto Caio. A janela dá para um pátio de bananeiras e um prédio enxaimel, o estilo arquitetônico tradicional alemão da região. "É minha única semelhança com meu antecessor", diz França.

Ele chegou ao cargo numa composição improvável: é presidente do diretório municipal do PMDB, partido que tinha o vice na chapa do candidato do PSD Jean Kuhlmann (PSD), derrotada pelo seu atual chefe prefeito Napoleão Bernardes (PSDB).

Portanto, França além de adversário de seu chefe, era também aliado do ex-prefeito João Pedro Kleinubing (hoje presidente do Badesc, a agência de fomento de Santa Catarina), personagem central do escândalo investigado pela Operação Tapete Negro.

"Eu era adversário político do prefeito [Napoleão Bernardes], mas ele foi me buscar na administração pública do Estado [enquanto secretário adjunto de Infraestrutura do Governo do Estado] porque somos amigos no plano pessoal. Mais do que amigos, não tenho nada a ver com os esquemas que estão aí e já fui testado no cargo", disse. "O prefeito Bernardes queria alguém que conhecesse a cidade", afirmou.

França afirmou que foi secretário de Obras nas gestões do PMDB, de Daltro dos Reis (1983-1988) e Renato Vianna (1993-1998).