Sem chance de vitória, Alencar tenta presidência da Câmara para "marcar posição"
O deputado carioca Chico Alencar (PSOL) acaba de se lançar para disputa pela presidência da Câmara pela terceira vez. Sua derrota é quase certa, seu partido tem apenas três deputados -- apesar de ter elegido mais dois para a próxima legislatura. Nas últimas duas tentativas, ele recebeu poucos votos, 11 em 2013 e 16 em 2011. Ele faz isso para “marcar posição” e fazer “oposição de esquerda”.
O deputado insiste na "tragédia anunciada" para mostrar aos colegas e à população que não concorda com os principais concorrentes ao cargo na Câmara: Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG).
Chico sempre critica ações que aumentem as "regalias" dos deputados e não aceita doações de empresas para obter recursos para campanha eleitoral. Tem dito que não é candidato ao “sindicato dos deputados” e defende uma política de austeridade na Casa.
“Não precisamos de aumento. Estamos no topo da remuneração no salário do funcionalismo público. [...] Ao invés de pensarmos em fazer um Anexo 5 [prédio anexo à Câmara dos Deputados para abrigar mais gabinetes], de defender prerrogativas dos parlamentares ou de aprovar aumento de verba de gabinete, queremos uma Câmara transparente e que reverbere tudo aquilo que a população clama neste momento de muita negação da política”, disse ao lançar a candidatura.
Para o amigo e companheiro de partido Ivan Valente (PSOL-SP), Chico é um homem honesto e sério. Os dois militam juntos há 30 anos. Segundo Valente, Chico ganhou respeitabilidade dentro e fora da Câmara por sua postura ética na política.
“Ele demarca um campo importante na Câmara. O PSOL quando lança um candidato é para deixar claro que não concordamos com os outros candidatos ou não nos identificamos com eles. Nosso colégio eleitoral na Câmara é muito marcado pelo fisiologismo, pelo clientelismo da Casa”, disse Valente.
Chico defende questões de direitos humanos e reivindicações dos movimentos sociais. Ele também é membro da Comissão de Direitos Humanos e do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. E já ocupou a liderança do PSOL na Casa.
Seus críticos dizem que Chico só lançou candidatura para “aparecer”. “Como candidato da Mesa ele consegue aparecer no ‘Jornal Nacional' [da rede Globo] e ser visto por várias pessoas. Pode até ajudar numa candidatura futura no Rio”, comentou um deputado que pediu para não ser identificado.
Outro colega de Câmara, que também não quis ter seu nome revelado, disse que Chico “acha que é melhor que os outros”. Segundo o parlamentar, essa característica Chico já tinha desde quando era petista e foi exacerbada ao chegar no PSOL. “É como se fosse um [Jair] Bolsonaro de esquerda”, declarou o deputado ao comparar Chico com o polêmico deputado de extrema direita, que defende posições de maneira resistente.
Vida pública e rompimento com o PT
O parlamentar tem 65 anos e nasceu no Rio de Janeiro. Chico é professor universitário do curso de História com especialização em educação. Ele também é autor de 32 livros, de história e literatura infanto-juvenil.
Começou a trajetória política no movimento estudantil e em pastorais da Igreja católica. É ligado ao movimento comunitário e participou da luta contra a ditadura. Foi vereador do Rio pelo PT na década de 1980 e 1990. Em 1999, assumiu uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio. Quatro anos depois foi eleito deputado federal ainda pelo PT. Foi reeleito para Câmara dos Deputados em 2006, em 2010 e em 2015 pelo PSOL.
Um dos momentos mais decisivos da militância política de Chico foi o rompimento com o PT. Ele ajudou a fundar o partido e permaneceu nele até 2005. Sua desfiliação ocorreu após a derrota do grupo que pertencia em disputas internas da sigla.
Na ocasião do rompimento com o PT, Plínio de Arruda Sampaio --morto em 2014-- perdeu espaço para Ricardo Berzoini na disputa pelo comando nacional do PT. Berzoini ainda hoje é um nome forte no partido e atualmente é ministro das Comunicações. Com a derrota de Plínio e o desgaste interno causado pelo escândalo do mensalão e discussões sobre reformas ocorridas no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Chico e Ivan Valente deixaram o PT. Migram para o PSOL ao lado de Plínio, partido fundado pela ex-senadora Heloísa Helena, que foi expulsa do PT.
“Nossa saída foi bastante politizada e dolorida porque somos os fundadores, os que deviam sair deveriam ser os que nos expulsaram e romperam com os princípios do partido. Saímos para continuar o plano de mudanças que a sociedade precisa”, contou Valente.
Propostas
Chico defende a aprovação de uma reforma política com participação popular e que acabe com o sem financiamento de empresas às campanhas eleitorais. Ele também chama a atenção para a necessidade de uma reforma tributária progressiva, que estabeleça a taxação de grandes fortunas.
O deputado também quer mais participação de mulheres em lideranças partidárias e presidências de comissões da Casa. E ampliar a defesa dos direitos das minorias, com o debate sobre a criminalização da homofobia.
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