Oito ministros envolvidos em escândalos: entenda a "maldição" da Casa Civil
As suspeitas de que o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner (PT), tenha sido beneficiado pelo esquema de desvio de dinheiro da Petrobras apurado pela Operação Lava Jato colocaram o ocupante de um dos principais postos da República novamente na berlinda. Nas últimas semanas, informações obtidas pela força-tarefa indicaram a possibilidade de que Wagner tenha tido ao menos uma de suas campanha ao governo da Bahia parcialmente financiada com dinheiro de propina do esquema.
O ministro nega seu envolvimento no esquema e, mesmo sem querer, vê uma espécie de “maldição” se repetindo sobre a Casa Civil. Nos últimos 25 anos, oito dos 11 ocupantes do cargo protagonizaram escândalos envolvendo corrupção ou condutas consideradas inadequadas.
Para o professor do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília) Ricardo Wahrendorf, a sucessão de escândalos envolvendo a Casa Civil não é “coincidência”. Segundo ele, o problema está relacionado à importância do cargo. Ele diz que os presidentes não têm tempo e nem conhecimento para lidar com todos os problemas relativos aos ministérios. Dessa forma, o chefe da Casa Civil funciona como uma “ponte” entre a Presidência e os demais ministros.
“Quem faz toda a parte de operação e fiscalização é o chefe da Casa Civil. Ele é a ponte entre o presidente e os ministérios. Para o bem e para mal”, explica o professor.
Os problemas normalmente acontecem, diz Wahrendorf, quando os presidentes “estão envolvidos ou realizando atividades escusas”. “O chefe da Casa Civil é a pessoa perfeita para executar essas atividades. Em uma só frase: o chefe da Casa Civil é o operador do presidente”, define o professor.
Wahrendorf diz, no entanto, que o caráter de “operador” da Presidência atribuído ao chefe da Casa Civil não é novo. “Sempre foi assim”, diz o professor.
Confira uma lista com os escândalos envolvendo chefes da Casa Civil nos últimos 25 anos.
Henrique Hargreaves
Data: no cargo entre 5 de outubro de 1992 e 1º de novembro de 1993 e entre 8 de fevereiro de 1994 a 1º de janeiro de 1995
Nomeado pelo então presidente Itamar Franco, Hargreaves foi alvo de investigações durante a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do Orçamento após ser citado como membro de um esquema de desvio de verbas para uma ONG (organização não-governamental) do Piauí. Em 1991, Hargreaves se afastou do cargo para responder às acuações, mas foi considerado inocente pela CPMI. Em 1994, que sempre negou seu envolvimento no esquema, reassumiu o cargo no qual ficou até o final do mandato de Itamar.
Clóvis Carvalho
Data: no cargo entre 1º de janeiro de 1995 a 19 de julho de 1999
Braço-direito do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em seu primeiro mandato, Clóvis Carvalho (PSDB) foi alvo de um escândalo envolvendo uma viagem feita por ele e integrantes de sua família ao arquipélago de Fernando de Noronha, em março de 1999, durante o Carnaval. A viagem foi feita em um jato da FAB (Força Aérea Brasileira) e os custos foram arcados pelo governo. Investigações posteriores revelaram que outros ministros também utilizavam aeronaves oficiais para o lazer. Carvalho admitiu o uso de jatinhos da FAB para ir a Fernando de Noronha e pagou R$ 25 mil a título de reembolso pelas viagens. Em setembro de 1999, o governo regulamentou o uso de aeronaves da FAB. Apesar do escândalo, Clóvis Carvalho foi mantido no cargo e, em julho daquele ano, foi substituído por Pedro Parente durante uma reforma ministerial.
José Dirceu
Data: no cargo entre 1º de janeiro de 2003 e 16 de junho de 2005
Aloizio Mercadante (PT) foi citado pelo delator da Operação Lava Jato Ricardo Pessoa, da empreiteira UTC, como beneficiário de dinheiro de propina. Segundo a delação de Pessoa, Mercadante presenciou o acerto de pagamento por meio de caixa dois para o financiamento de sua campanha ao governo de São Paulo em 2010. Mercadante nega ter participado do esquema. Em setembro deste ano, o STF (Supremo Tribunal Federal) abriu uma inquérito para apurar as alegações feitas por Pessoa. Em outubro de 2015, Mercadante foi substituído por Jaques Wagner.
Em nota enviada ao UOL, o ministro, atualmente no MEC, afirma que "a afirmação do senhor Ricardo Pessoa não tem nenhuma relação com o meu desempenho como ministro de Estado ou com qualquer ação que possa ter beneficiado irregularmente interesses privados, muito menos com a operação Lava Jato, conforme consta na recomendação da Procuradoria Geral da República e nas decisões dos ministros do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki e Celso de Mello".
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