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Lava Jato investiga propina paga pela Odebrecht em obra da Arena Corinthians

Quatro presidentes de empreiteiras já foram condenados na Lava Jato

UOL Notícias

Do UOL, em São Paulo

22/03/2016 10h15Atualizada em 22/03/2016 16h52

A 26ª fase da Lava Jato, denominada Operação Xepa, investiga propinas pagas em dinheiro pela Odebrecht dentro do Brasil e que envolve várias obras, como, por exemplo, a Arena Corinthians, palco da abertura da Copa do Mundo de 2014. Os investigadores disseram ainda que não têm dúvida que o presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, que está preso e já foi condenado, participou ativamente do esquema de pagamento de propinas.

Segundo a força-tarefa da Lava Jato, a partir do material apreendido na 23ª fase - Operação Acarajé -, que prendeu o marqueteiro do PT João Santana no mês passado, foram descobertas planilhas de controle dos pagamentos de propina feitos pela Odebrecht. 

Segundo o Ministério Público Federal, as planilhas tinham codinomes, valores e também alguns endereços onde o dinheiro da propina seria entregue. Segundo os procuradores, a Odebrecht realizava uma “contabilidade paralela”. Há executivos que estavam envolvidos em obras como o aeroporto de Goiânia e ao Trensurb (RS), segundo os procuradores.

"Nós temos diversas diretorias [da empresa] envolvidas não apenas com a Petrobras. Óleo e gás, ambiental, infraestrutura, estádio de futebol, canal do sertão e diversas outras obras e áreas da Odebrecht que estão sendo investigadas hoje pelo pagamento de propina", disse o procurador do Ministério Público Federal, Carlos Fernando Santos de Lima, que, em seguida, confirmou a suspeita sobre a Arena Corinthians.

“Em relação aos estádios da Copa, temos indicativos de outras fases [da Lava Jato], inclusive de delações que estão em andamento. Nesta fase, foram identificados pagamentos a uma diretoria [da Odebrecht] que cuida especificamente da Arena Corinthians”, afirmou. “Mas não temos clareza de toda a movimentação.”

andré negão - Danilo Verpa/Folhapress - Danilo Verpa/Folhapress
André Negão (camisa azul) é levado para depor por policiais federais em SP
Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

André Luiz de Oliveira, conhecido como André Negão, primeiro vice-presidente do Corinthians desde 2015, foi levado pelos investigadores para a sede da Polícia Federal em São Paulo para prestar esclarecimentos. Segundo o Ministério Público Federal, ele teria recebido R$ 500 mil em propina. Segundo a acusação, Oliveira seria identificado em uma das planilhas pelo codinome de "Timão".

A PF encontrou duas armas na casa do vice corintiano. Após prestar esclarecimentos, ele foi preso por porte ilegal de armas. O cartola foi liberado no fim da tarde depois de pagar R$ 5.000 de fiança.

O deputado federal pelo PT de São Paulo e ex-presidente do clube Andrés Sanchez afirmou, nessa terça, ao UOL Esporte: "somos vítimas". Há um mês, o ex-dirigente disse que via o Corinthians como alvo da Lava Jato. "Estão querendo incluir de qualquer jeito, por causa de minha amizade com o Lula. E eu quero que ponham. Quero que o estádio vá para Lava Jato. Investiguem. Me chamem e vou falar tudo", afirmou.

Em nota oficial, o Corinthians anunciou estar apurando internamente o caso, e promete colaborar com as investigações.

Arena Corinthians - Junior Lago/UOL - Junior Lago/UOL
Imagem: Junior Lago/UOL

Participação de Marcelo Odebrecht
 
A procuradora da República Laura Tessler afirmou que as descobertas mostraram uma "estrutura profissional de pagamento de propinas na Odebrecht".
 
Segundo ela, a participação de Marcelo Odebrecht, que está preso desde junho do ano passado, é clara.
 
“Há referências das iniciais de Marcelo Bahia Odebrecht, tanto de MBO quando de DP, diretor presidente. (...) além da referência existentes nessas tabelas, as anotações constantes de celulares também se compatibilizam com o que consta dessas tabelas.”
 
Segundo o Ministério Público Federal, os "pagamentos ilícitos" teriam ocorrido até pelo menos o segundo semestre de 2015, mesmo após a prisão do presidente da empreiteira. São investigados, de acordo com a Procuradoria, possíveis crimes de organização criminosa, corrupção e lavagem de ativos oriundos de desvios da Petrobras, cometidos por empresários, profissionais e lavadores de dinheiro ligados ao Grupo Odebrecht.
 
Um dos detidos nessa terça foi o executivo Humberto Mascarenhas, chefe do setor de operações da Odebrecht.
 
Em uma das contas apuradas descobriu-se que R$ 66 milhões foram distribuídos entre 25 a 30 pessoas. 
 
Marcelo Odebrecht - Antônio More/Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo - Antônio More/Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo
O ex-presidente da maior empreiteira do país Marcelo Odebrecht foi preso e condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa
Imagem: Antônio More/Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo
 
"Departamento de propina"
 
Segundo a delegada Renata da Silva Rodrigues, o material apreendido pelos investigadores mostra "a existência de um setor chamado Setor de Operações Estruturadas”. Tal departamento da empreiteira contava com uma contabilidade própria, que seria usada para o pagamento de propina, segundo a Lava Jato.
 
A fase mais recente apresentou planilhas de pagamentos de propinas em dinheiro a beneficiários identificados apenas por codinomes – alguns deles já decifrados pela PF. As planilhas apresentavam datas, valores e beneficiários. Os dados foram cruzados com os dados obtidos antes, como registros de hotéis, números de telefones e contratos de locação de flats, que batiam com as datas e os executivos citados nas planilhas de pagamento da Odebrecht.
 
O esquema se estendeu, ainda segundo a PF, pelo menos até o final de 2015. Diante da prisão de Marcelo Odebrecht em junho, a empreiteira mandou para o exterior executivos e secretárias envolvidas no esquema, de forma a atrapalhar as investigações e continuar com as operações.
 
'Estrutura secreta'
 
A Xepa, com 110 mandados judiciais, foi realizada nessa terça-feira em 8 Estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Piauí, Pernambuco e Minas Gerais) e mais Brasília, onde a polícia foi até um hotel onde moram políticos e fica perto da Esplanada.
 
"Para viabilizar a comunicação secreta entre executivos, funcionários da Odebrecht e doleiros responsáveis por movimentar os recursos espúrios, utilizava-se outro programa, em que todos se comunicavam por meio de codinomes. A partir da análise de e-mails e planilhas apreendidas, apurou-se que pelo menos 14 executivos de outros setores do Grupo Odebrecht, que demandavam "pagamentos paralelos", encaminhavam aos funcionários as diversas solicitações de pagamentos ilícitos, de forma que a contabilidade paralela e a entrega dos valores espúrios ficassem centralizados nesta estrutura específica", afirmou a força-tarefa.
 
Segundo os procuradores, o ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht tinha conhecimento e dava anuência para os pagamentos ilícitos.
 
"A partir das planilhas obtidas e das anotações contidas no celular de Marcelo Odebrecht, obtiveram-se mais evidências contundentes de que este, então presidente da Organização Odebrecht, não apenas tinha conhecimento e anuía com os pagamentos ilícitos, mas também comandava diretamente o pagamento de algumas vantagens indevidas, como, por exemplo, as vantagens indevidas repassadas aos publicitários e também investigados Monica Moura e João Santana", apontou a investigação. 
 
Outro lado

Por meio de nota, a Odebrecht informa que "a empresa tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários."