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Senadores terão que "esmagar provas" para aprovar impeachment, diz Cardozo

A presidente Dilma Rousseff fala sobre sua defesa no impeachment com o ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo - Roberto Stuckert Filho - 25.mai.2016/Divulgação
A presidente Dilma Rousseff fala sobre sua defesa no impeachment com o ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo Imagem: Roberto Stuckert Filho - 25.mai.2016/Divulgação

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

30/06/2016 16h36Atualizada em 30/06/2016 17h15

Advogado da presidente afastada, Dilma Rousseff, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo convocou jornalistas nesta quinta-feira (30) para fazer um balanço da fase de instrução do processo no Senado, em que a fase de depoimentos das testemunhas de defesa foi encerrada nesta quarta-feira (29). O advogado declarou que, para aprovar o impeachment no julgamento final, os senadores terão que “esmagar as provas” produzidas até o momento, entre elas a perícia produzida a pedido da defesa e os depoimentos das 45 testemunhas ouvidas na comissão no Senado.

Questionado sobre se via chances de que os parlamentares mudassem seus votos –Dilma foi afastada com 55 votos no dia 12 de maio--, o advogado demonstrou otimismo. “Eu acho que a grande maioria dos senadores são pessoas que têm a razoabilidade como parâmetro político. Acho que nós vamos ganhar no Senado. Eles terão que esmagar essas provas. Não há retórica possível. É claro que há versões, e eu ouvi algumas curiosas nos últimos dias”, declarou. "Acho que com essas provas, o afastamento seria uma coisa grotesca.”

Cardozo lembrou ainda que, durante os depoimentos na comissão do impeachment no Senado, houve um momento em que alguns membros do colegiado “muito aguerridos” na causa do afastamento, pararam de fazer questionamentos às testemunhas de defesa. “E isso é uma boa técnica. Porque se perguntar, você se quebra. É uma tese básica: ‘nunca pergunte quando você tem medo da resposta.’”

"Testemunhas caracterizam a inocência da presidente"

Durante a entrevista, ocorrida no Palácio do Alvorada, residência da presidente Dilma, o advogado negou que o processo seja uma guerra perdida. “Quando se luta pela causa certa, nunca se perde a guerra antes da hora. Nunca se perdoaria um advogado se jogasse a toalha antes da hora”, disse o ex-ministro. “Se nós tivéssemos desistido, o a história e povo brasileiro, o mundo não poderia ler a perícia, os depoimentos”, acrescentou.

"As provas são indestrutíveis. Em condições jurídicas normais de temperatura e pressão seria caso de absolvição sumária. Se o impeachment ocorrer, haverá uma ruptura institucional clara, portanto um golpe", afirmou.

Entre as provas "indestrutíveis" de que não existe "justa causa" para o impeachment, Cardozo citou ainda as declarações da senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), que no último fim de semana afirmou em entrevista à rádio "Itatiaia" que, em sua opinião, Dilma não foi afastada do cargo por causa das pedaladas fiscais, mas sim em razão da crise política. A peemedebista é a nova líder do governo interino de Temer no Congresso. Nesta quarta, a defesa da petista juntou a transcrição das falas aos autos do processo no Senado.

Cardozo também disse que a defesa só irá ao Supremo se for necessário e “na hora certa”. “Eu quero que a presidente seja absolvida no Senado.
Eu tenho muito tempo para ir ao Judiciário. Mas eu confio no Parlamento e nas instituições brasileiras. Não quero fortalecer a tese de que o Judiciário vai corrigir um erro do Parlamento”, declarou.

“Se for necessário nós iremos ao Judiciário, para provar que houve desvio de poder. Eu queria produzir provas primeiro, agora nós provamos”, afirmou o ex-ministro, depois de relembrar a decisão do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de acolher o pedido de impeachment, e os áudios gravados pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, nos quais lideranças do PMDB diziam que a classe política estava sangrando e insinuam que é preciso acabar com a Lava Jato, o que só seria possível se o então vice-presidente, Michel Temer, assumisse.

O advogado também voltou a afirmar que Dilma ainda não decidiu se irá depor na comissão no Senado, na próxima quarta-feira (6). “Eu fiquei de conversar com a presidente da República sobre isso logo depois da apresentação do laudo dos assistentes técnicos [na segunda-feira] sobre a perícia.”

No fim da conversa com os jornalistas, Cardozo brincou ao saber que ninguém queria fazer mais perguntas. “"Posso responder a tarde inteira. Eu sou um desempregado e tenho uma cliente só."