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Hoje procurado, Eike já se apresentou voluntariamente e elogiou Lava Jato

Ricardo Moraes/AP
Imagem: Ricardo Moraes/AP

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo*

26/01/2017 14h11

Hoje na condição de procurado pela Polícia Federal por conta da operação Eficiência, o empresário Eike Batista foi até o MPF (Ministério Público Federal) voluntariamente, em setembro do ano passado, para explicar, na condição de testemunha, seu suposto envolvimento em propinas para licitações da Petrobras. A operação marca a segunda fase da operação Calicute --espécie de braço da Lava Jato no Rio --e tem Eike entre os alvos de nove mandados de prisão preventiva expedidos pela Justiça Federal Criminal.

Na ocasião, fazia oito meses que Eike havia sido citado por um delator como suposto envolvido no esquema. Em 22 de setembro, o teor da conversa entre o empresário, advogados dele e procuradores foi tornado público junto à 34ª fase da Operação Lava Jato, batizada de "Arquivo X".

A transcrição do diálogo, ao longo de 37 páginas, revelou detalhes sobre o suposto encontro entre Eike e o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, em novembro de 2012. O material apontava ainda um clima de tensão entre Eike e a Petrobras, principal concorrente brasileira de suas empresas de exploração de petróleo e gás.

Durante o depoimento, Eike classificou o escândalo de corrupção na Petrobras como "um nojo", um "aborto da natureza", e disse que nunca foi bem visto pela companhia.

"(O) Pessoal da Petrobras me detestava. Eu na Petrobras? Eu era persona non grata", disse, negando a existência de contratos entre suas empresas e a petroleira estatal. Mais tarde, por insistência dos procuradores, reconheceu participar de um contrato com a companhia --justamente aquele que era investigado pela Polícia Federal desde setembro de 2015.

Eike também fez elogios à Operação Lava Jato e à atuação dos procuradores: "Vocês têm orgulho do Brasil", "Vocês começaram a mostrar esse cartel que fazia a Petrobras". E pediu a palavra para enumerar contribuições financeiras que fez para a Olimpíada, para UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e para um hospital infantil no Rio de Janeiro.

"Então acho e sempre quis (me) mostrar como um exemplo, porque alguns brasileiros muito ricos não dão p***a nenhuma, né? Vou até falar mal de um, posso?", indagou Eike, ao fim do depoimento.

"Não", responderam os procuradores. "Senhor fique à vontade, mas não, não", e encerraram a sessão.

Segundo a defesa, Eike, por já ser investigado pela Lava Jato, teria procurado o MPF para tentar uma espécie de "delação premiada informal". "(Eike) procurou espontaneamente o Ministério Público Federal e fez um escambo, 'se não me prenderem posso acusar alguém importante'", disse o advogado José Roberto Batochio.

PF aciona Interpol para localizar empresário

A Polícia Federal brasileira fez contato com a Interpol nesta quinta (26) a fim de identificar se Eike está em território americano desde a manhã de quarta (25). Eike é alvo de um dos nove mandados de prisão preventiva expedidos pela 7ª Vara da Justiça Criminal do Rio por conta da operação Eficiência.

O empresário é acusado de pagar US$ 16,5 milhões (cerca de R$ 50 milhões, em valores atualizados) ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), preso por conta da Calicute e com mandado de prisão também na operação Eficiência.

A reportagem ligou para o celular do advogado de Eike, mas não conseguiu o contato. À "GloboNews", ele afirmou que Eike se entregará quando voltar ao país. A assessoria de comunicação do grupo EBX, de Eike, ainda não foi localizada.

* Com informações da BBC Brasil