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Na cadeia, Cunha recebe visitas de assessor filho de autor de ação contra Maia

Ex-assessor da "tropa de choque" do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB), Lucas Rivas se encontrou com o ex-parlamentar na prisão no Paraná - Pedro Ladeira/Folhapress
Ex-assessor da "tropa de choque" do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB), Lucas Rivas se encontrou com o ex-parlamentar na prisão no Paraná Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Leandro Prazeres, Flávio Costa e Vinícius Konshinski

Do UOL, em Curitiba

28/01/2017 04h00Atualizada em 28/01/2017 12h53

Às vésperas das eleições para a presidência da Câmara dos Deputados, o ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (PMDB-RJ) recebeu visitas do filho do autor da ação impetrada na Justiça Federal contra a candidatura à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), desafeto de Cunha. O advogado e assistente técnico da Câmara Lucas de Castro Rivas visitou Cunha na prisão ao menos duas vezes. Rivas é filho do advogado Aldenir Ferreira Rivas, que impetrou a ação contra Maia. Ao UOL, Lucas admitiu as visitas e que conversou sobre a sucessão de Maia, mas negou que ação impetrada por seu pai tenha sido feita a pedido de Cunha.

A relação entre Cunha e Maia é conturbada. Cunha atribui parte de sua queda ao presidente da Câmara que comandou a sessão que terminou na cassação do peemedebista. Mesmo da prisão, Cunha tem feito comentários sobre a disputa à presidência da Casa e, nos bastidores, as informações são de que Cunha estaria articulando contra a candidatura de Maia. 

Lucas de Castro Rivas ficou conhecido publicamente em 2016 durante o processo de contra Cunha no Conselho de Ética da Câmara. Ele assessorou a chamada “tropa de choque” de Cunha no conselho. Durante as sessões, era comum vê-lo orientando e entregando documentos a parlamentares defensores de Cunha no conselho. 

Após o seu desempenho assessorando a tropa de choque de Cunha, Rivas ganhou o apoio de parlamentares ligados ao ex-presidente da Câmara para disputar uma vaga ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça). 

O ex-deputado Eduardo Cunha é levado ao IML de Curitiba para realizar exame de corpo de delito. Cunha foi preso por ordem do juiz Sérgio Moro, no âmbito da Operação Lava Jato  - Giuliano Gomes/Estadão Conteúdo - Giuliano Gomes/Estadão Conteúdo
O ex-deputado Eduardo Cunha é levado ao IML de Curitiba para realizar exame de corpo de delito
Imagem: Giuliano Gomes/Estadão Conteúdo

"Também falamos sobre eleição na Câmara"

Ao UOL, Lucas Rivas admitiu que visitou Cunha duas vezes: uma em dezembro, na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, e outra em janeiro deste ano, na Colônia Médica Penal de Pinhais (PR), onde Cunha está preso por seu suposto envolvimento nos crimes apurados pela Operação Lava Jato.  

Ele afirmou que sua visita a Cunha teve caráter “humanitário” e disse que considera o ex-parlamentar um amigo. “Minha visita foi humanitária. Eu o considero um amigo e eu não costumo abandonar meus amigos”, afirmou Rivas.

O advogado, que hoje está lotado na CMO (Comissão Mista de Orçamento), disse que visitou Cunha durante seu período de férias e que os dois conversaram sobre a sucessão de Maia. “Falamos sobre política em geral e também falamos sobre a eleição na Câmara. Dei a ele as minhas impressões sobre o tema. Apesar de eu ser muito novo, ele me ouve bastante”, afirmou o advogado de 24 anos de idade.

Lucas negou que Cunha tenha lhe dado instruções sobre como orientar seus aliados na Câmara em relação à eleição para a presidência da Casa. “Não [mandou recados]. Quando eu fui lá, estava no período de férias. Nem que ele tivesse passado, eu não teria condições de fazer isso”, afirmou.

O advogado afirmou que seu pai o acompanhou à carceragem da PF em Curitiba durante uma das visitas que fez a Cunha, mas disse que seu pai, Aldenir Ferreira Rivas, não chegou a se encontrar com o ex-presidente da Casa. 

Lucas negou que seu pai tenha entrado com a ação contra a candidatura de Maia a pedido de Cunha. “De forma nenhuma. Meu pai sempre foi engajado politicamente, mas não de forma partidária. Não houve esse pedido”, disse Lucas Rivas.

Já Aldenir Rivas entrou em contato com o UOL e afirmou que "o fato de termos visitado o Eduardo Cunha na prisão não esconde o absurdo da candidatura Maia, eis que eivada de inconstitucionalidade".

Procurada pela reportagem, a defesa de Eduardo Cunha afirmou que não vai se manifestar sobre as visitas de Aldenir e seu filho. 

STF decidirá sobre eleição na Câmara

No dia 20 de janeiro, a Justiça Federal concedeu, em primeira instância, um pedido de liminar que proibia Maia de disputar a reeleição para a presidência da Câmara.

Três dias depois, o TRF 1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) derrubou a liminar e permitiu que a candidatura de Maia prosseguisse.

A eleição para a presidência da Câmara ainda depende de uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que aprecia uma ação movida contra a candidatura de Maia movida pelo deputado André Figueiredo (PDT-CE), que também disputa o cargo.