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"Jamais colocaria a minha biografia em risco", diz Temer em vídeo para rebater delator

Delator descreve reunião sobre propina com Temer

UOL Notícias

Do UOL, em Brasília

13/04/2017 16h09Atualizada em 13/04/2017 21h00

O Palácio do Planalto divulgou, na tarde desta quinta-feira (13), um vídeo com um pronunciamento do presidente Michel Temer (PMDB) no qual ele rebate as declarações de um dos delatores da Odebrecht, Márcio Faria. "Jamais colocaria a minha biografia em risco", disse o peemedebista.

A procuradores da PGR (Procuradoria-Geral da República), Faria disse que Temer participou de uma reunião em 2010 que serviu para "abençoar" o pagamento de propina no valor de US$ 40 milhões referente a um contrato da empresa com a Petrobras. A reunião, ainda de acordo com o delator, aconteceu no escritório político de Temer em São Paulo.

Faria afirmou ainda que não foram mencionados valores durante a reunião com Temer e que entendia o encontro como uma forma de "abençoar" o acordo que previa pagamentos de vantagens indevidas ao partido do presidente.

Temer, que admitiu ter participado "de uma reunião, em 2010, com um representante de uma das maiores empresas do país", sem citar a Odebrecht ou Faria, disse não ter ouvido no encontro "referência a valores financeiros ou a negócios escusos da empresa com políticos".

O vídeo, gravado na tarde desta quinta, foi divulgado por meio de uma rede social.

Leia o pronunciamento de Temer na íntegra:

"Meus amigos, eu não tenho medo dos fatos, nunca tive. O que me causa repulsa é a mentira. É fato que participei de uma reunião, em 2010, com um representante de uma das maiores empresas do país.

A mentira é que nessa reunião eu teria ouvido referência a valores financeiros ou a negócios escusos da empresa com políticos.

Isso jamais aconteceu. Nem nessa reunião, nem em qualquer outra reunião que eu tenha feito ao longo da minha vida pública, com qualquer pessoa física ou jurídica.

Jamais colocaria a minha biografia em risco. O verdadeiro homem público tem que estar à altura de seus desafios, que envolve bons momentos e momentos de profundo desconforto.

A minha maior aliada é a verdade, matéria-prima do Poder Judiciário, que revelará toda a verdade dos fatos.

Muito obrigado"

Márcio Faria foi presidente da Odebrecht Industrial e, em 2010, era responsável pelo contrato do PAC-SMS (Plano de Ação de Certificação em Segurança, Meio Ambiente e Saúde) entre a companhia e a Petrobras. O valor do contrato era de US$ 825 milhões. Faria disse que o processo de escolha da Petrobras foi direcionado para que ela vencesse a disputa. 

Faria disse que o ex-gerente da Odebrecht Industrial Rogério Araújo havia sido procurado pelo lobista João Augusto Henriques, ligado ao PMDB, e informado de que para que o contrato fosse adiante, seria necessário pagar uma propina ao partido no valor de 5% do valor total do contrato. 

Faria disse que, às vésperas de a Odebrecht firmar o contrato com a Petrobras, ele recebeu um convite para participar da reunião com o que Rogério Araújo classificou de “cúpula do PMDB”.

O executivo afirmou que a reunião aconteceu no escritório político de Michel Temer, no bairro Alto de Pinheiros, em São Paulo, no dia 15 de julho de 2010, quando Temer ainda disputava o cargo de vice-presidente na chapa da então candidata Dilma Rousseff (PT). Além de Temer, teriam participado da reunião os então deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

O delator disse que Temer sentou à cabeceira de uma mesa quando Cunha tomou a palavra e disse que a Odebrecht deveria fazer uma “contribuição” ao partido referente ao valor do contrato.

“[Cunha] Disse isso olhando pra mim porque eu é que teria que confirmar esse entendimento. Eu fui lá para abençoar esse compromisso. [Eu] disse que estava de acordo e que nós vamos contribuir com o que o deputado falou”, disse Faria.

O delator disse que, durante a reunião, não foram mencionados os valores que haviam sido acordados anteriormente com João Augusto Henriques. “Não se falou em valores. Mas entre eles esteva o João Augusto, e simplesmente confirmei que eu honraria esses compromissos”, afirmou o delator. 

Os procuradores questionaram Faria se havia ficado claro que o pedido feito por Cunha na presença de Temer se referia ao pagamento de vantagens indevidas. Faria disse que sim.

“Totalmente [...] porque esse era um percentual em cima de um contrato. Ninguém falou em diretório, seja ele estadual, municipal, nada. Era um percentual em cima de um valor em cima de um contrato”, disse Faria.

O delator disse que parte dos recursos cobrados por Cunha na presença de Temer foi pago no Brasil e outra parte em contas no exterior. Ele afirmou que a abertura dos dados do sistema de pagamento de propinas da Odebrecht vai revelar os destinatários finais dos recursos. Ele adiantou, no entanto, que ao menos 50% desse valor teria sido encaminhado ao então deputado Eduardo Cunha.

Perguntas de Cunha

Em seu depoimento aos procuradores, Faria lembrou que, depois de preso, Eduardo Cunha enviou perguntas a Michel Temer sobre a realização de uma reunião ocorrida no escritório político do presidente em São Paulo.

A pergunta mencionada por Faria era parte de um conjunto de 41 questionamentos enviados por Cunha ao presidente Temer no âmbito de um processos que ele responde na Justiça Federal do Paraná. A pergunta, no entanto, foi vetada pelo juiz federal Sergio Moro.

Em seu depoimento, Faria diz acreditar que a pergunta feita por Cunha sobre um encontro no qual Temer teria participado era sobre a reunião narrada por aos procuradores. “Pra mim é essa reunião nossa”, disse o delator.

Temer mostrou intimidade com Cunha e Henrique Alves

Faria narrou um momento de descontração protagonizado por Temer e que, segundo ele, mostraria a proximidade entre o presidente, Cunha e Henrique Eduardo Alves. Questionado sobre como era ser candidato a vice de Dilma, Temer teria dito que Cunha e Alves se encarregariam de resolver seus problemas.

"Se acontecer qualquer coisa aí, desses rapazes aqui, ele apontou para os dois deputados, Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha, pode deixar que ela vem e fica aqui. Esses jovens, esses rapazes resolvem pra mim lá. Não estou preocupado. Sinalizando pro colo dele. Dando a entender que eles resolveriam os assuntos de interesse do PMDB”, disse Faria.

Temer é mencionado em alguns despachos do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo. Ele, no entanto, não é alvo de investigações sobre o caso porque o presidente não poderia ser investigado por atos ocorridos antes do início de seu mandato.