Acusado de ser laranja da Odebrecht doou milhares de reais para caridade, diz bispo
O empresário Demerval de Souza Gusmão Filho, acusado de participar de esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato, chegou a fazer doações de R$ 100.000 a instituições de caridade ligadas à Igreja Católica, segundo o bispo Dom Gregório Paixão.
Dom Gregório depôs nesta segunda-feira (19) ao juiz Sergio Moro como testemunha de defesa de Demerval no processo em que o empresário é acusado de lavagem de dinheiro pela força-tarefa da Operação Lava Jato. Segundo os procuradores do MPF-PR (Ministério Público Federal do Paraná), a construtora DAG, da qual Demerval é dono, atuou como laranja da Odebrecht na compra de um terreno que seria usado pelo Instituto Lula. O terreno não foi utilizado pela instituição.
Ouvido pela Polícia Federal em setembro de 2016, Demerval optou por não responder perguntas e disse que o fez para não prejudicar a negociação de um possível acordo de delação premiada com o MPF. Quando Moro aceitou a denúncia, em dezembro, a defesa de Lula disse que o terreno "jamais foi pedido ou usado pelo Instituto Lula" e classificou a Lava Jato como uma perseguição ao ex-presidente.
No depoimento de hoje, Dom Gregório chegou a levar recibos de doações feitas pela DAG a instituições indicadas pela Igreja.
"Ele destina às vezes R$ 30.000, às vezes R$ 50.000, já chegou a destinar R$ 100.000", relatou o bispo.
Ex-bispo auxiliar de Salvador e hoje bispo da diocese de Petrópolis (RJ), dom Gregório disse que conhece Demerval desde 1992. Segundo o bispo, o empresário o procurava para se confessar e buscar orientação religiosa.
Dom Gregório citou, por exemplo, doações da DAG a instituições que trabalham com tratamento de usuárias de drogas e idosos pobres. O bispo chegou a relatar um caso em que Demerval foi pessoalmente participar da construção de uma casa para um rapaz que vivia, segundo o sacerdote, em uma moradia "sub-humana".
Entenda o caso
Além de Demerval e Lula, são réus nesta ação o empresário Marcelo Odebrecht, acusado da prática dos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro; o ex-ministro Antonio Palocci e seu ex-assessor Branislav Kontic, denunciados pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro; e Paulo Baqueiro Melo, Glaucos da Costamarques e Roberto Teixeira, acusados da prática do crime de lavagem de dinheiro.
A compra do imóvel que supostamente seria usado como sede do Instituto Lula foi realizada em nome da DAG, empresa de Demerval Gusmão. No entanto, a transação foi feita, segundo o MPF, com recursos originados da Odebrecht e com auxílio de Glaucos da Costamarques, parente de José Carlos Bumlai, sob a orientação de Roberto Teixeira --amigo de Lula e advogado do ex-presidente.
Já o presidente da Odebrecht Realizações Imobiliárias, Paulo Ricardo Baqueiro de Melo, teria cuidado pessoalmente da compra do imóvel em São Paulo, segundo o MPF. Melo foi apontado por José Carlos Bumlai, em depoimento à polícia, como um interlocutor "de questões relacionadas à implementação do Instituto Lula, inclusive compra do terreno". Em seu despacho, Moro diz que "os indícios apontam que foi ele, a pedido de Marcelo Bahia Odebrecht, que cuidou da operação imobiliária na Odebrecht."
De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, Marcelo Odebrecht destinou R$ 12,4 milhões em propina oriunda de contratos do grupo com a Petrobras para a compra do imóvel que seria destinado ao Instituto Lula.
No total, segundo a denúncia, R$ 75,4 milhões foram repassados a partidos e políticos que davam sustentação ao governo de Lula, especialmente o PT, o PP e o PMDB, "bem como aos agentes públicos da Petrobras envolvidos no esquema e aos responsáveis pela distribuição das vantagens ilícitas, em operações de lavagem de dinheiro que tinham como objetivo dissimular a origem criminosa do dinheiro".
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