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Irmão de Cabral admite ter recebido R$ 240 mil após emitir nota por trabalho que não realizou

A Lava Jato acusa o irmão de Sérgio Cabral de receber dinheiro fruto de propina - Pedro Teixeira/ Agência O Globo
A Lava Jato acusa o irmão de Sérgio Cabral de receber dinheiro fruto de propina Imagem: Pedro Teixeira/ Agência O Globo

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

13/12/2017 16h15

Acusado pelo MPF (Ministério Público Federal) de ter recebido dinheiro fruto de propina em esquema supostamente operado pelo ex-governador Rio de Janeiro Sérgio Cabral, o irmão do peemedebista, Maurício Cabral, disse nesta quarta-feira (13) desconhecer a origem do dinheiro. Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Estado, o publicitário afirmou que o valor foi depositado após emitir uma nota por conta de um trabalho que havia combinado com Carlos Miranda, tido como operador financeiro do ex-governador, mas que acabou não sendo realizado.

De acordo com a denúncia do MPF, em 24 de novembro de 2011, foi identificado o depósito de um cheque emitido pela empresa Survey em favor da Estalo Comunicação Ltda. no valor de R$ 240 mil. A Estalo é uma empresa de prestação de serviços de publicidade de propriedade de Maurício Cabral. O pagamento corresponde a quase 50% da receita bruta declarada pela Survey no ano de 2011, que foi de R$ 534.982,00.

“Não é comum, mas às vezes acontece de, por alguma circunstância, o ano fiscal do cliente, um trabalho que necessita de alguma verba antecipada para produção, emitir uma nota antes da realização do trabalho”, afirmou Maurício, após a audiência.

Ele explicou ao juiz que comentou com Miranda, com quem tem amizade há mais de 30 anos, que precisava de novos trabalhos, e o economista indicou a empresa. Ele informou o valor do trabalho, que acreditava ser para uma empresa de informática, e emitiu a nota. “Perguntei mais de uma vez pelo trabalho ao Miranda, nunca aparecia, acabei deixando assim”, afirmou.

A Survey Mar e Serviços Ltda., ligada ao dono da FW Engenharia, Flávio Werneck, emitiu, segundo as investigações, notas frias para dar aparência lícita ao pagamento de R$ 1,7 milhão em propina.

Além do ex-governador, Maurício e Miranda, a acusação inclui ainda a ex-mulher de Sérgio Cabral, Susana Neves Cabral, que deveria ter sido ouvida nesta quarta, mas teve o depoimento adiado a pedido da defesa; Flávio Werneck, dono da FW Engenharia, e Alberto Conde, contador da FW.

Conde admitiu a Bretas ter criado a Survey a pedido de Werneck para realizar o pagamento. “Era uma empresa de papel”, afirmou em depoimento.

O que diz a Lava Jato

Segundo a denúncia, a FW Engenharia teria obtido vantagens em contratos com o governo do Estado durante a gestão Cabral. Entre 2007 e 2014, o volume de acordos comerciais entre as partes aumentou 37 vezes e incluiu obras grandiosas, como a urbanização das comunidades do Complexo de Manguinhos, na zona norte carioca.

Conde foi identificado como responsável pelos repasses indevidos. Para ocultar o rastro das operações, ele utilizava, de acordo com o MPF, a subsidiária Survey Mar e Serviços Ltda., registrada em nome de dois supostos laranjas, entre as quais a própria neta.

"A denúncia elucida que, em verdade, os pagamentos eram realizados por orientação de Flávio Werneck, que depositava na conta do Survey, por meio da FW Engenharia, os valores que seriam depois repassados a outras empresas de fachada", narra o Ministério Público Federal.

Sérgio Cabral e a ex-mulher Susana Neves - Rosane Marinho/Folhapress - Rosane Marinho/Folhapress
Sérgio Cabral e a ex-mulher Susana Neves
Imagem: Rosane Marinho/Folhapress

Uma dessas empresas seria a Araras Empreendimento, de propriedade da ex-mulher de Cabral. Entre 2011 e 2013, foram realizados 31 depósitos bancários em favor de Susana Neves, totalizando mais de R$ 1,2 milhão. As transferências foram feitas, segundo a denúncia, em valores fracionados, que variavam entre R$ 6.000 e R$ 56.310.

"Essa prática, conhecida como 'smurfing', é típica de esquemas de lavagem de dinheiro, pois tem o objetivo de não despertar a atenção dos órgãos de controle", relatam os procuradores do Ministério Público Federal.

A denúncia pede à Justiça a condenação dos investigados por 36 atos de lavagem de dinheiro. A ex-mulher de Cabral foi denunciada por 31 atos de lavagem de dinheiro, enquanto o irmão dele, por um ato apenas. Miranda, por sua vez, foi denunciado por quatro atos.