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Preso, ex-assessor de Dirceu recebeu R$ 4,3 mi junto de operador do MDB, diz Lava Jato

Marcelo Sereno (de boné) chega a sede da PF apos ser deflagrada a operacao Rizoma - Ricardo Borges/Folhapress
Marcelo Sereno (de boné) chega a sede da PF apos ser deflagrada a operacao Rizoma Imagem: Ricardo Borges/Folhapress

Hanrrikson de Andrade*

Do UOL, no Rio

12/04/2018 13h30Atualizada em 12/04/2018 16h56

O esquema de fraudes a fundos de pensão revelado nesta quinta-feira (12) pela Operação Lava Jato rendeu ao menos R$ 4,3 milhões ao ex-assessor de José Dirceu, Marcelo Sereno, ligado ao PT, e a Milton Lyra, identificado pela Polícia Federal como operador do MDB.

Segundo a PF, o MPF (Ministério Público Federal) e a Receita Federal, a dupla fez lobby com o intuito de garantir aportes volumosos dos fundos Postalis (dos Correios) e Serpros (do Serviço Federal de Processamento de Dados) destinados a empresas do investidor Arthur Machado. Posteriormente, o dinheiro era lavado no exterior e retornava ao país para pagamento de propina a agentes públicos e aos lobistas. As informações foram levantadas com base em uma delação premiada.

A defesa de Sereno e Lyra negam a prática de qualquer ato ilícito. Os dois e Machado são alvos de mandados de prisão expedidos pela 7ª Vara Federal Criminal, do juiz Marcelo Bretas, para a Operação Rizoma, realizada na manhã desta quinta.

Os membros da força-tarefa calculam que, desde o começo do esquema, em 2011, foram movimentados cerca de R$ 20 milhões em propina e recompensas a lobistas.

Segundo os investigadores,  Sereno, que já foi secretário nacional do PT, fez uso de sua influência política para garantir aportes ao fundo FIP ETB (Eletronic Trading Brazil), criado por Machado em 2013. O objetivo era investir em outra empresa de Machado, a ATG (Americas Trading Group), à época considerada a "nova Bolsa de valores brasileira". Pelo lobby, Sereno teria recebido R$ 900 mil, segundo informou a força-tarefa da Operação Lava Jato.

O petista teria ainda dividido um outro montante de R$ 3 milhões com o operador financeiro Ricardo Rodrigues, contra quem também há mandado de prisão. No entanto, a PF não conseguiu calcular os valores exatos recebidos por cada um.

Milton Lyra, por sua vez, teria sido beneficiado com US$ 1 milhão em contas no exterior pelo mesmo serviço --aproximadamente R$ 3,4 milhões na cotação de hoje. O lobista já foi apontado como operador do senador Renan Calheiros (MDB), e seu nome consta em anotação apreendida no gabinete do ex-senador Delcídio do Amaral sobre uma suposta propina de R$ 45 milhões para o MDB.

O FIP ETB teve, segundo a Lava Jato, dois grandes investidores iniciais, entre os quais o Postalis. O fundo de pensão ingressou como cotista com um aporte de R$ 119 milhões. Em 2013, a Serpro também adquiriu cotas do FIP ETB, realizando um aporte total de R$ 72 milhões até 2015.

Outro lado

Os advogados de Milton Lyra, Pierpaolo Bottini e Alexandre Jobim, informaram por meio de nota que o empresário entrou em contato com a Polícia Federal para se apresentar após tomar conhecimento da decisão judicial. Eles negam que Lyra esteja envolvido em práticas ilícitas e afirmam que ele está à disposição da Justiça.  

Afonso Destri, responsável pela defesa de Marcelo Sereno, afirmou que o Ministério Público se baseia em "ilações" ao fazer a denúncia. "O que me parece é que o Ministério Público, a partir de fatos isolados, no caso de Marcelo Sereno, fez ilações completamente sem fundamento. Sereno não exerce, não tem influência, nem qualquer voz de comando sobre qualquer fundo de pensão. Portanto, não pode ter participado dos fatos que o MP chegou através de ilações", disse Destri ao UOL.

Destri afirma ainda que o MP usou de "estratégia" para que o processo caísse nas mãos do juiz federal Marcelo Bretas. "Bretas tem se mostrado duro nesse tipo de decreto."  

A investigação também afirma que o sindicalista Carlos Alberto Valadares Pereira, conhecido como Gandola, recebeu ao menos R$ 1 milhão no período em que integrou o Conselho de Administração do Serpros e Adeilson Telles, ex-chefe de gabinete da presidência dos Correios, obteve cerca de R$ 1 milhão para viabilizar os aportes ao fundo.

Segundo a PF, foram efetivados ao menos seis dos dez mandados de prisão deferidos pela Justiça federal. Outras 21 ordens de busca e apreensão foram cumpridas em endereços no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Distrito Federal.

Lavagem no exterior

As investigações apontam que o empresário Arthur Machado, supostamente principal beneficiário e líder de todo o esquema, era responsável por receber o dinheiro lavado no exterior e fazer a distribuição da propina a pessoas ligadas ao fundo de pensão em todo o país.

Para obter dinheiro em espécie e realizar os pagamentos, Machado contava com a ajuda de operadores financeiros, sobretudo de Edward Penn, que atua nos Estados Unidos, e da dupla Vinicius Claret e Cláudio Barbosa, ligados aos irmãos Marcelo e Renato Chebar, doleiros do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB).

Sozinho, Penn lavou no exterior ao menos R$ 45 milhões de reais. O dinheiro era injetado em dólares em contas nos Estados Unidos e depois eram repassados a contas na China, sistema que os investigadores da força-tarefa descreveram como "extremamente sofisticado".

Em território chinês, ele era retirado de contas dos doleiros Claret e Barbosa e posteriormente repassados em espécie --transação conhecida como "kickback"--, a um terceiro operador financeiro, no Brasil.

Foi justamente a partir da colaboração premiada desse terceiro agente envolvido, cuja identidade não foi divulgada, que a PF, o MPF e a Receita Federal conseguiram revelar os detalhes do esquema.

*Colaborou Mirthyani Bezerra, do UOL, em São Paulo