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Dodge diz que Lula desprezou "ideais republicanos" e defende prisão de petista

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, durante sessão do STF em junho - Dida Sampaio - 28.jun.2018/Estadão Conteúdo
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, durante sessão do STF em junho Imagem: Dida Sampaio - 28.jun.2018/Estadão Conteúdo

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

31/07/2018 18h13Atualizada em 31/07/2018 23h21

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, se manifestou contra recurso feito pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar suspender sua prisão.

Os advogados do ex-presidente querem que o Supremo conceda efeito suspensivo --ou seja, que suspenda a execução da pena-- ao recurso feito à Corte contra a condenação de Lula em segunda instância no chamado caso do tríplex, da Operação Lava Jato.

Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, disse que a manifestação da PGR (Procuradoria-Geral da República) "não consegue esconder que a condenação do ex-presidente Lula foi baseada exclusivamente no depoimento de um corréu que exerceu o direito de mentir e por isso é ilegítima e incompatível com a Constituição Federal e com a lei".

Em documento de quase 80 páginas enviado ao Supremo no último dia 26 de julho e anexado ao processo nesta terça (31), Dodge fez duras críticas a Lula, dizendo que o ex-presidente "demonstrou desprezo aos ideais republicanos que prometeu cumprir como chefe de Estado" e "frustrou as expectativas de milhões de brasileiros" ao usar o cargo "para obter vantagem financeira".

A procuradora-geral defendeu a condenação de 12 anos e um mês dada ao petista pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito para o mais alto cargo do Executivo Federal com um ferrenho discurso anticorrupção, alardeando sua honestidade e prometendo combate aos dilapidadores dos cofres públicos. Elegeu-se em virtude de sua retórica de probidade e retidão. Tais fatos elevam sobremaneira o grau de censurabilidade da conduta do recorrente e devem ser punidos à altura.

Raquel Dodge, procuradora-geral da República

O recurso ainda não tem data para ser julgado. Cabe à presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, incluir o caso na pauta do plenário. Antes disso, no entanto, a defesa de Lula ainda precisa responder a um pedido de esclarecimento do ministro Edson Fachin, relator do recurso, dizendo se quer ou não que a questão da possível inelegibilidade de Lula seja analisada. A Corte encerra seu recesso nesta quarta-feira (1º).

Fachin levou caso ao plenário

Os recursos de Lula ao STF e ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) passaram por um juízo de admissibilidade no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), onde o ex-presidente foi condenado em segunda instância, e o recurso ao Supremo não foi admitido. A defesa de Lula nega que haja provas dos crimes imputados ao ex-presidente. 

Por causa disso, o ministro Edson Fachin, do STF, tinha julgado "prejudicado" o pedido de efeito suspensivo feito pela defesa de Lula, que recorreu da decisão e pediu para o assunto ser julgado na Segunda Turma do Supremo. Fachin optou por submeter o recurso ao plenário do STF, o que gerou acusações de "manobra" por parte do PT

Para Dodge, o recurso contra a decisão de Fachin sequer deve ser analisado pelo plenário, já que o pedido da defesa de Lula "perdeu seu objeto".

Se for analisado, a procuradora-geral pede que não seja aceito, já que o recurso ao STF contra a condenação no caso do tríplex não foi admitido pelo TRF-4 "e não ostenta plausibilidade jurídica". 

No recurso para suspender a execução da pena de Lula, a defesa diz que vários princípios constitucionais foram violados, como a presunção de inocência e o direito à ampla defesa. Os advogados também afirmam que não é possível atribuir a Lula o crime de corrupção no caso do tríplex.

Para Dodge, "há material probatório farto" segundo o qual a construtora OAS concedeu a Lula "a posse e a propriedade de fato" do tríplex no Guarujá (SP), "bem como a respectiva reforma para adaptá-lo, somente não lhe tendo transferido o bem formalmente como um ardil voltado a ocultar o crime de corrupção passiva anterior".

Ainda de acordo com a procuradora-geral, "o recebimento indevido, por Luiz Inácio Lula da Silva, de bem imóvel e de sua reforma se deu em retribuição a um conjunto de atos de ofício por ele praticados na então condição de Presidente da República, em especial a indicação e manutenção, em cargos de direção da Petrobrás, de pessoas comprometidas com ato de corrupção."

Dodge reservou as palavras mais duras contra Lula ao contestar as alegações da defesa contra o tamanho da pena imputada ao ex-presidente. Segundo ela, se "está diante de crimes praticados por ex-Presidente da República no âmbito do maior escândalo de corrupção que o Brasil já conheceu – e um dos maiores da história mundial. Trata-se de caso que demanda uma punição proporcional a essas características."

É preciso compreender que a lei tem parâmetros mínimos e máximos, pois as condutas ostentam graus de censura. Se há um caso na história em que as penas deveriam se aproximar da máxima, é este.

Raquel Dodge, procuradora-geral da República

A condenação por corrupção e lavagem de dinheiro deixa Lula, em tese, inelegível pelos critérios da Lei da Ficha Limpa. Mesmo assim, o PT afirma que vai registrar Lula como seu candidato a presidente nas eleições deste ano, o que pode ser feito entre os dias 5 e 15 de agosto. A legalidade da candidatura dependerá de análise da Justiça Eleitoral.

Mesmo preso e potencialmente inelegível, Lula continua liderando as pesquisas de intenção de voto nos cenários em que seu nome é apresentado aos entrevistados. Sem Lula, o líder é o deputado federal Jair Bolsonaro, candidato do PSL. 

Entenda polêmica sobre candidatura de Lula

UOL Notícias