Amoêdo declara voto em Bolsonaro e diz que Novo será "independente e vigilante"
Quinto colocado na disputa presidencial deste ano, João Amoêdo (Novo) optou por votar em Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno. Criado oficialmente há apenas três anos, seu partido estreará na Câmara em 2019 com uma bancada de oito deputados federais eleitos pronta a apoiar as medidas econômicas do futuro governo, mas sem se alinhar totalmente à aliança governista, segundo Amoêdo. "A gente vai ter uma postura independente", diz o candidato derrotado à Presidência, em entrevista ao UOL.
Amoêdo e o Novo defendem uma linha liberal na economia, com menos participação do Estado e mais liberdade para a iniciativa privada. Por isso, são críticos da atuação de Bolsonaro como deputado federal. "Ele nunca efetivou nenhuma dessas propostas mais liberais, de redução do estado, de eficiência na gestão pública", declara Amoêdo.
Por outro lado, depositam confiança em Paulo Guedes, economista liberal que se tornou o responsável pelo programa econômico do presidente eleito, e prometem apoiar suas propostas. Amoêdo diz que o Novo adotará uma postura "vigilante" diante de eventuais divergências entre Guedes e Bolsonaro.
Amoêdo comemora os 2,7 milhões de votos recebidos na disputa presidencial -- equivalente a 2,5% dos válidos -- e diz que a gestão de Romeu Zema, primeiro governador eleito pelo Novo, em Minas Gerais, será uma vitrine para o partido. Confira abaixo a entrevista concedida por telefone.
UOL - Que balanço o sr. faz do desempenho do Novo nas eleições de 2018?
João Amoêdo - A gente achou muito positivo, ficou até acima das nossas expectativas. Acabamos elegendo 11 deputados estaduais, um deputado distrital e oito deputados federais, na primeira eleição [geral] do partido, sem nenhum nome conhecido, sem ter usado fundo partidário, com pouquíssimo tempo de televisão e sem ter feito qualquer coligação com outros partidos. Batendo a cláusula de barreira com alguma folga. Foi um desempenho muito bom.
Aliado a isso, acabei ficando à frente de candidatos que tinham muito mais tradição na política, de partidos já mais consolidados, como o MDB [que teve o ex-ministro Henrique Meirelles como candidato], à frente da Marina [Silva, da Rede], do Álvaro Dias [Podemos].
E o destaque, no final, foi a eleição de um governador para o segundo maior colégio eleitoral do Brasil -- Romeu Zema, em Minas Gerais -- com uma votação muito expressiva no segundo turno.
Na reta final do primeiro turno, Romeu Zema, governador eleito de Minas Gerais, manifestou apoio a Jair Bolsonaro em debate na TV, sendo que o sr. ainda estava na disputa presidencial. Por que o partido descartou punir Zema?
Na verdade, ele não falou num apoio. Ele disse que tinham dois candidatos com identificação com as bandeiras dele, que eram eu e o Bolsonaro. Depois, ele até explicou melhor que ele não tinha se colocado bem, porque era o primeiro debate que ele participava. Então, era natural que ele estivesse um pouco nervoso no primeiro debate. Mas ele explicou bem que a candidatura dele era pelo Novo, mas que as pessoas que estivessem votando no Bolsonaro tinham ele também como opção. Então, dentro disso, o partido entendeu que não tinha maiores problemas, porque ele estava defendendo e continua defendendo os princípios e valores do Novo.
Como está a organização do governo Zema?
Entendemos que o governo de Minas é muito importante para o Novo. Temos que ser muito coerentes e passar do discurso para a prática em termos de eficiência, redução de gastos, melhoria da qualidade dos serviços públicos para a população.
Vai ser uma vitrine para o Novo, o primeiro [estado] que a gente vai estar administrando, e um estado bastante relevante e numa situação financeira muito precária. Tem salários em atraso, endividamento muito elevado.
O diretório nacional do Novo está ajudando o Zema na parte da montagem da equipe. Eu tenho participado com ele de uma espécie de conselho provisório, que se reúne semanalmente justamente para ajudá-lo na estruturação do secretariado e na indicação de nomes, na validação de pessoas, para que ele, de fato, possa ter a melhor equipe possível em Minas e a gente possa fazer um governo muito bom e exemplar, que é o objetivo do Novo.
O sr. exercerá algum cargo no governo mineiro?
Acho muito difícil. A ideia vai ser só ficar numa posição mais de conselheiro, ajudando o Zema, mas sem, de fato, entrar na gestão do dia a dia.
Quais serão as diretrizes da gestão do Novo em Minas?
Primeiro, vai ser necessário fazer a renegociação da dívida com o governo federal, porque tem um volume elevado em atraso. Isso permitiria colocar os salários em dia. Segundo, dentro do possível, fazer uma restruturação para que a gente possa reduzir despesas. O governo de Minas hoje tem gastos superiores à receita, o que torna inviável a gestão. Então, [vamos] fazer um redesenho de secretarias, priorizar as áreas que são fundamentais para a população, como saúde, educação e segurança, e tentar fazer um corte de custos no resto para que ele volte a ter equilíbrio nas contas.
É fundamental essa questão da renegociação da dívida com o governo federal e, na sequência do que vai ser feito no nível federal, uma reforma do sistema de previdência, que também é bastante problemático e deixa um déficit elevado hoje.
Na sua opinião, as eleições deste ano resultaram em uma renovação da política?
Houve renovação, não ainda do tamanho que a gente gostaria.
Alguns políticos velhos, figuras tradicionais da política, não foram reeleitos. Mas agora a gente vai precisar esperar o Congresso começar a atuar para ver como foi essa renovação no campo das ideias, da forma de atuação. Porque, às vezes, a gente acaba renovando os nomes e mantendo as mesmas rotinas. Vai ser importante ver como esse Congresso vai se portar.
Do ponto de vista do Novo, a gente tem essa preocupação de reduzir o poder dos próprios políticos, reduzir verbas, e devolver poder para as pessoas, dar mais liberdade ao cidadão. A gente quer acompanhar como isso será feito pelo resto do Congresso, na prática.
Quais serão as prioridades da bancada do Novo na Câmara dos Deputados?
A primeira coisa importante é que os oito deputados vão trabalhar de uma forma muito integrada. Nos surpreendeu que vários partidos não têm uma linha ideológica e uma atuação homogênea de seus representantes. E o Novo preza muito isso, de ser uma instituição onde eles têm que seguir os princípios e valores do partido.
Certamente, a nossa pauta prioritária será a pauta econômica. Aí, passam algumas coisas por ela: a reforma da Previdência, uma simplificação tributária -- de fato, a gente tem uma complexidade muito grande hoje nos impostos --, uma defesa da redução da burocracia para a gente ter um ambiente mais propício aos negócios, ao empreendedorismo. São três pontos que o Novo certamente vai estar atuando. E um quarto, que tem sido uma característica do partido, e diria que é um diferencial para outras legendas, é essa preocupação com o corte de custos: fim do fundo partidário, redução da quantidade de assessores, redução das verbas de gabinete. Os mandatários do Novo farão, de imediato, um corte de 50% na quantidade de assessores e de 50% nas suas verbas de gabinete. É muito importante dar o exemplo de austeridade na gestão pública.
Como o sr. votou no segundo turno da eleição presidencial?
Votei contra o PT. Não era [Jair Bolsonaro] o candidato que apoio e defenderia, porque tínhamos pautas diferentes, e sempre me preocupo com o que foi feito no passado. Mas a outra opção, que era o PT, era muito ruim. Então, votei contra o PT.
Votando em Bolsonaro?
Exato.
Foi chamado por Jair Bolsonaro a conversar e poderia assumir cargo no governo federal?
No governo federal, por enquanto, não tive nenhuma conversa.
Acho pouco provável que eu venha a ter uma participação, porque a gente gostaria realmente de ter o Novo com uma independência. Para, de fato, apoiar as ideias boas. E contra as ideias ruins, a gente gostaria de estar muito vigilante em relação ao novo governo e ter essa postura de independência.
Pelos sinais dados pelo presidente eleito, o que o sr. espera do futuro governo?
É cedo ainda para dizer. Tem algumas indicações positivas em relação a alguns membros da equipe. Destaque para o Paulo Guedes e o juiz Sergio Moro. Agora, a gente tem que ver, na prática, como vai funcionar. Uma coisa que sempre critiquei na campanha: o Bolsonaro, durante o mandato como parlamentar, nunca efetivou nenhuma dessas propostas mais liberais, de redução do estado, de eficiência na gestão pública. Então, é importante ver como isso vai se dar agora. Mas eu diria que é um dado positivo ele ter trazido pessoas da qualidade desses dois que eu mencionei.
O sr. vê risco de choque de ideias entre Paulo Guedes e Bolsonaro?
Pelo perfil dos dois, é sempre possível que haja isso.
Entendo que o Paulo Guedes é muito preparado, e o Bolsonaro sempre disse que estaria delegando a ele o ponto de vista econômico. É importante, agora, que ele cumpra essa linha, esse raciocínio que ele tinha feito lá atrás, de delegar a parte econômica e acreditar nas pessoas que ele está colocando como principais ministros. Mas é algo que a gente precisa estar vigilante. É o papel tanto da imprensa quanto dos eleitores.
De imediato, o Novo não se alinha ao governo?
Não. A gente vai ter uma postura independente. Obviamente, nas pautas que a gente entender que somos favoráveis, haverá um alinhamento. O Novo estará favorável à reforma da Previdência, à simplificação tributária, a um programa de privatização de empresas estatais, ao corte de mordomias.
Na situação atual, é importante colocar o Brasil de volta na rota do crescimento, para gerar emprego e tirar o país de uma situação econômica muito sofrível. Então, entendemos que essa pauta econômica deve ser prioritária em busca do equilíbrio das contas públicas, especialmente.
Fora da economia, há algo que o preocupa no futuro governo?
A única coisa que acho importante, e isso está muito em linha com os princípios do Novo, é a questão da liberdade, a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa. Então, é fundamental que a gente tenha liberdade e respeito às instituições. É algo que a gente deve estar muito atento.
O sr. vê risco à democracia ou às liberdades individuais no governo Bolsonaro?
Entendo que não, porque hoje o Brasil tem uma democracia muito consolidada, com as instituições fortes e a população muito atenta. Acho que a população tem um nível de conscientização em relação à política, hoje, muito mais elevado. Não vejo risco nesse processo. As pessoas estão vigilantes, e não vejo nenhuma chance de haver um retrocesso na liberdade que já foi conquistada. Mas é sempre bom a gente estar vigilante.
O que o sr. pensa do projeto Escola sem Partido, que tramita no Congresso e tem a simpatia do futuro governo?
Não gosto da ideia de termos ideologias nas escolas. A escola não deve ser um local de ideologia e de doutrinação dos alunos. Sou a favor da ideia de uma escola sem partido, mas não gosto da ideia de ter uma entidade que faz isso usando a força do Estado. Então, não gosto da ideia de uma série de legislações que acabam impactando ou restringindo ou criando regras para a atuação do professor na sala de aula que não sejam regras voltadas ao ensino, ao cumprimento da pauta educacional.
Então o sr. não é favorável ao projeto?
Não sou favorável. Mas é um assunto que tem muito debate dentro do partido.
O que sr. fará na política nos próximos anos? Voltará a ser candidato?
Quando saí candidato, era para atender uma demanda do partido, uma missão do partido. Não era um projeto pessoal. Agora, no primeiro momento, quero me dedicar a ajudar um pouco o Zema na construção dessa equipe [de governo em Minas].
Certamente, pela própria projeção e pelo espaço conquistado na mídia e nas mídias sociais, pretendo me colocar como uma pessoa que está avaliando e sendo crítico, favorável quando for o caso ou levantando os problemas em relação ao governo, especialmente o federal. Quero, de fato, usar essas plataformas para me posicionar.
Mas a questão de candidatura será uma decisão do partido mais à frente. Não é um negócio que estou pensando agora, não. Sempre dentro do critério que a gente tem feito no Novo, de procurar as pessoas que melhor se adaptem às demandas do partido, às necessidades, que tenham o melhor encaixe, a melhor possibilidade, o melhor entendimento do partido na época das eleições.
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