Celso de Mello vota para condenar Geddel também por associação criminosa
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello concluiu hoje seu voto na ação contra o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB) e o ex-deputado federal Lúcio Vieira Lima (MDB-BA), irmão de Geddel, e defendeu a condenação de ambos pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Na primeira parte de seu voto, na sessão da última terça-feira (8), o ministro já tinha anunciado que votaria a favor da condenação de Geddel e Lúcio pelo crime de lavagem de dinheiro. Hoje Celso de Mello se pronunciou favorável também à condenação deles por associação criminosa.
Celso foi o segundo ministro a votar. O relator do processo, Edson Fachin, também votou favoravelmente à condenação de Geddel e Lúcio pelos dois crimes.
Esta é a quarta sessão da Segunda Turma do STF voltada ao julgamento do caso. Ainda faltam votar os outros três ministros que compõem a Turma: Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia.
Após a conclusão do voto de Celso o julgamento foi suspenso e será retomado na próxima terça-feira (22).
O processo está relacionado à investigação que levou à apreensão de cerca de R$ 51 milhões em dinheiro em um apartamento de Salvador.
Nesse processo também foram denunciados pelos mesmos crimes a mãe de Geddel, Marluce Vieira Lima, um ex-assessor do deputado, Job Brandão, e o empresário Luiz Fernando Machado da Costa Filho, que vendeu cotas de empreendimentos imobiliários para os Vieira Lima.
O processo contra Marluce Vieira Lima foi desmembrado e remetido à primeira instância, e ainda não foi julgado. Geddel, Lúcio e os outros dois réus continuaram a ser processados no STF.
Os ministros Edson Fachin e Celso de Mello votaram pela absolvição de Job Brandão e de Luiz Fernando Costa Filho.
Em seus votos, nem Fachin nem Celso de Mello indicaram qual deveria ser a pena imposta a Geddel e Lúcio. Isso só deve ser discutido em uma próxima etapa do julgamento, se houver maioria entre os ministros a favor da condenação.
A investigação
No apartamento da capital baiana, a Polícia Federal encontrou impressões digitais de Geddel e de um ex-assessor de Lúcio nos sacos plásticos que envolviam os maços de dinheiro.
Os valores estavam em nove malas e sete caixas com notas de Real e Dólar, somando R$ 42,6 milhões e US$ 2,7 milhões (R$ 8,4 milhões, no câmbio da época).
A Polícia Federal diz que essa foi a maior apreensão de dinheiro em espécie já feita no país.
O dono do apartamento, Silvio da Silveira, afirmou à polícia que entregou as chaves do imóvel a Lúcio, que teria pedido o imóvel emprestado com o argumento de que precisava guardar documentos da família.
Segundo relatório da Polícia Federal, parte do dinheiro seria resultante de um esquema de fraude na liberação de créditos da Caixa Econômica Federal no período entre 2011 e 2013, quando Geddel era vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco.
Ainda de acordo com a PF, o dinheiro seria proveniente também de caixa dois de campanha e do desvio de dinheiro da Câmara dos Deputados, por meio da apropriação de parte do salário do ex-assessor de Lúcio Vieira Lima.
Na denúncia, a PGR (Procuradoria-Geral da República) afirma que os irmãos Vieira Lima tentaram lavar o dinheiro por meio do investimentos em empreendimentos imobiliários.
Geddel foi preso em 8 de setembro de 2017, três dias depois de o dinheiro no apartamento em Salvador ter sido encontrado.
Acusação x Defesa
Na primeira sessão para julgar o caso, no último dia 24, se manifestaram a defesa dos réus e a PGR (Procuradoria-Geral da República), que atua na acusação.
Na primeira etapa do julgamento, o subprocurador-geral Antônio Carlos Bigonha, que atua na Segunda Turma pela PGR, defendeu a condenação do ex-ministro e a manutenção de sua prisão, além da condenação de Geddel e Lúcio por danos morais coletivos, no total de R$ 42 milhões e mais de US$ 2 milhões.
O defensor de Geddel e Lúcio, o advogado Gamil Foppel, afirmou que não há provas contra seus clientes e contestou o laudo da PF que disse ter encontrado impressões digitais de Geddel em um dos sacos que envolvia o dinheiro.
O advogado também afirmou que a acusação da Procuradoria não conseguiu comprovar quem é o proprietário do dinheiro encontrado no apartamento. A defesa de Geddel não reivindica a propriedade dos valores apreendidos.
"Existe uma foto com o dinheiro, que não se sabe até hoje de quem é. O Ministério Público não sabe de quem é", disse Foppel.
Quem é Geddel
O político do MDB foi ministro da Secretaria de Governo do presidente Michel Temer (MDB) e pediu demissão do cargo após ser acusado pelo então ministro da Cultura Marcelo Calero de ter pressionado para que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) liberasse a construção de um prédio num bairro de classe alta de Salvador em que o ex-ministro teria apartamento.
Geddel também ocupou cargos importantes nos governos do PT. Ele foi vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal no governo Dilma Rousseff (PT) e Ministro da Integração Nacional do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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