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Geddel contesta digital em caso dos R$ 51 milhões e julgamento é suspenso

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

24/09/2019 20h06

A Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) começou hoje o julgamento do processo no qual o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB) e o ex-deputado federal Lúcio Vieira Lima (MDB-BA), irmão de Geddel, foram denunciados pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa.

A investigação está relacionada à apreensão de cerca de R$ 51 milhões em dinheiro num apartamento em Salvador. O julgamento foi suspenso após a manifestação dos advogados dos réus e será retomado na próxima terça-feira (1º), com o voto dos cinco ministros da Segunda Turma.

Hoje, o defensor de Geddel e Lúcio, o advogado Gamil Foppel, afirmou que não há provas contra seus clientes e contestou o laudo da PF que disse ter encontrado impressões digitais de Geddel em um dos sacos que envolvia o dinheiro.

Segundo Foppel, a Polícia Federal não comprovou ter preservado a prova, tendo apresentado à defesa apenas um pedaço do saco plástico onde foi encontrado a digital, sem ter sido fotografado ou registrado em laudo pericial as condições em que o material foi encontrado.

O advogado afirmou que agentes da PF ouvidos no processo disseram não se recordar da embalagem plástica onde foi encontrada a impressão digital de Geddel.

"Se as testemunhas convocadas pela PF ficaram ate 1h da manhã [analisando as provas] e não viram o envelope de plástico, e que é ônus da polícia ter fotografado, esse envelope de plástico existe mesmo?", perguntou Foppel.

Nesse processo também foram denunciados pelos mesmos crimes a mãe de Geddel, Marluce Vieira Lima, um ex-assessor do deputado, Job Brandão, e o empresário Luiz Fernando Machado da Costa Filho, que vendeu cotas de empreendimentos imobiliários para os Vieira Lima.

Posteriormente, o processo contra a mãe dos Vieira Lima foi desmembrado e remetido à primeira instância. Geddel, Lúcio e os outros dois réus continuaram a ser processados no STF.

22.nov.2016 - O ex-ministro Geddel Vieira Lima, antes de sua prisão - Ueslei Marcelino - 22.nov.2016/Reuters - Ueslei Marcelino - 22.nov.2016/Reuters
22.nov.2016 - O ex-ministro Geddel Vieira Lima, antes de sua prisão
Imagem: Ueslei Marcelino - 22.nov.2016/Reuters

A investigação

No apartamento na capital baiana, a PF encontrou impressões digitais de Geddel e do ex-assessor de Lúcio nos sacos plásticos que envolviam os maços de dinheiro. Os valores estavam em notas de Real e Dólar, somando R$ 42 milhões e US$ 2,6 milhões.

O dono do apartamento, Silvio da Silveira, afirmou à Polícia Federal que entregou as chaves do imóvel a Lúcio, que teria pedido o imóvel emprestado com o argumento de que precisava guardar documentos da família.

Segundo relatório da Polícia Federal, parte do dinheiro seria resultante de um esquema de fraude na liberação de créditos da Caixa Econômica Federal no período entre 2011 e 2013, quando Geddel era vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco.

Ainda de acordo com a PF, o dinheiro seria proveniente também de caixa dois de campanha e do desvio de dinheiro da Câmara dos Deputados, por meio da apropriação de parte do salário do ex-assessor de Lúcio Vieira Lima.

Na denúncia, a PGR (Procuradoria-Geral da República) afirma que os irmãos Vieira Lima tentaram lavar o dinheiro por meio do investimentos em empreendimentos imobiliários.

Geddel está preso desde o dia 8 de setembro de 2017, três dias depois de o dinheiro no apartamento em Salvador ter sido encontrado.

O político do MDB foi ministro da Secretaria de Governo do presidente Michel Temer (MDB) e pediu demissão do cargo após ser acusado pelo então ministro da Cultura Marcelo Calero de ter pressionado para que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) liberasse a construção de um prédio num bairro de classe alta de Salvador em que o ex-ministro teria apartamento.

Geddel também ocupou cargos importantes nos governos do PT. Ele foi vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal no governo Dilma Rousseff (PT) e Ministro da Integração Nacional do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).