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Senadores resistem a PECs de Guedes por impopularidade e "conflito textual"

Senadores em reunião da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) - Geraldo Magela/Agência Senado
Senadores em reunião da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) Imagem: Geraldo Magela/Agência Senado

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

09/03/2020 04h00

As PECs (Propostas de Emenda à Constituição) emergencial e do pacto federativo encampadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, encontram resistência de senadores por conterem medidas impopulares e o que alguns parlamentares apontam como conflito de conteúdo nos textos.

A primeira barreira das propostas no Senado será na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que começa a analisar a PEC emergencial nesta terça-feira (10) com audiências públicas, e, depois, a PEC do pacto federativo.

A primeira trata de medidas para controlar o crescimento das despesas obrigatórias da União e reequilibrar o orçamento. A segunda também trata de ajuste fiscal e dá mais autonomia a estados e municípios na distribuição de recursos.

A PEC emergencial é vista como a mais impopular, especialmente em um ano eleitoral como 2020, porque atinge em cheio servidores públicos por meio da redução em 25% de salários e da jornada de trabalho, proibição de aumento salarial, suspensão de promoção funcional e a vedação de concursos públicos.

Como defendido pela Economia, o texto não passa no Senado, afirmaram senadores ao UOL. "Não tenha dúvida de que vai ter muito mais dificuldade de aprovação [do que a PEC dos fundos públicos, já aprovada pela CCJ]. É preciso esclarecer muitas dúvidas ainda, porque veda concursos em áreas essenciais, por exemplo", disse o líder do PSL na Casa, senador Major Olímpio (SP).

O líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), afirma se opor à possibilidade de reduzir os salários de servidores públicos. "Como é que alguém vive com menos 25% do salário? A pessoa tem todas as contas programadas, financiamentos feitos. Aí de repente tem esse corte brusco? Isso não existe. Não dá para votar do jeito que está", falou.

O PT na CCJ vai tentar obstruir a tramitação por meio de pedidos de vista - mais tempo de análise - e outros meios legais em estudo. Enquanto isso, o líder do governo no Senado, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), articula o mérito do texto, mas mesmo senadores governistas não têm certeza se contam com o apoio da maioria da CCJ para assegurar o máximo do texto original.

A PEC do pacto federativo é vista como menos impopular. No entanto, senadores advertiram o governo que o texto tem pontos sobre déficit fiscal que podem se chocar com o que já propõe a PEC emergencial. Há quem avalie que os textos vieram "ruins" do Ministério da Economia.

Além disso, parte dos senadores se coloca contra a unificação do piso de gastos de estados e municípios em saúde e educação por receio de que uma área possa ser negligenciada em detrimento da outra.

A intenção da presidente da CCJ, senadora Simone Tebet (MDB-MS), é discutir a PEC do pacto federativo apenas quando a PEC emergencial estiver aprovada na CCJ e no plenário do Senado para não ter na Casa textos conflitantes entre si e criar insegurança jurídica.

A previsão da senadora é que a emergencial seja aprovada na comissão até 25 de março, mas a votação por todos os senadores não tem data certa para acontecer.

PEC dos fundos públicos passa na CCJ com alterações

A PEC dos fundos públicos, primeira do chamado Plano Mais Brasil proposto por Guedes, do qual fazem parte ainda as duas PECs citadas anteriormente, foi aprovada na última quarta-feira (4) na CCJ com alterações ao texto original.

O relator da proposta, senador Otto Alencar, acatou emendas que mantêm o Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira), Fundo Nacional de Segurança Pública, Fundo Penitenciário Nacional, Fundo Nacional Antidrogas e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Simone Tebet teve de interromper temporariamente a sessão após discussão entre Fernando Bezerra Coelho e o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM). Bezerra Coelho propôs ao microfone um acordo para que a PEC fosse aprovada em plenário como saiu da CCJ, ao que Braga prontamente discordou.

Após conversarem entre si e outros líderes partidários, foi decidido retirar destaques apresentados e aprovar a PEC com a manutenção dos cinco fundos. Mais tarde, Braga fez afagos a Bezerra em público.

O PT informou que vai apresentar emendas em plenário para garantir a existência de outros dois fundos.