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Bolsonaro: Meu sistema de informações funciona, e o oficial desinforma

Gustavo Setti

Do UOL, em São Paulo

22/05/2020 18h33

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou que seu sistema de informações "funciona", mas que "os que temos oficialmente desinformam", sem explicar exatamente quais seriam estes sistemas oficiais. "Eu prefiro não ter informações do que ser desinformado por cima de informações que tenho", concluiu.

A declaração foi feita na reunião ministerial realizada no dia 22 de abril e que serviu de base para as denúncias do ex-ministro da Justiça Sergio Moro sobre suposta intervenção do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal. Hoje, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), divulgou o vídeo da reunião.

Em pronunciamento no dia 24 de abril de 2020, Moro anunciou sua demissão e revelou que Bolsonaro queria obter relatórios de inteligência da PF diretamente e ainda desejava trocar superintendências do Rio, de Pernambuco e de outras regionais.

Mais tarde no mesmo dia, o presidente fez pronunciamento negando interferência na PF, mas admitiu que queria obter relatórios de inteligência diretamente da polícia. Bolsonaro disse que pediu para a polícia atuar em casos de seu interesse: o caso do porteiro de seu condomínio, um depoimento sobre seu filho Jair Renan e o esfaqueamento que sofreu de Adélio Bispo.

"Não vou esperar foder a minha família"

Bolsonaro se referiu a um sistema particular de informação antes de falar sobre o que classificou de perseguição a seus familiares. O presidente mencionou uma reportagem da Folha de S.Paulo sobre seu irmão, Renato, que segundo o jornal foi impedido de entrar em um açougue em Registro por não usar máscara de proteção.

"Sistemas de informações: o meu funciona. O meu particular funciona. O que tem oficialmente desinforma. E voltando ao tema: prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho. Então, pessoal, muitos vão poder sair do Brasil, mas não quero sair e ver a minha a irmã de Eldorado, outra de Cajati, o coitado do meu irmão capitão do Exército de Miracatu se foder, porra! Como é perseguido o tempo todo. Aí a bosta da Folha de São Paulo diz que meu irmão foi expulso de um açougue em Registro, que estava comprando carne sem máscara. Comprovou no papel, estava em São Paulo esse dia. O dono do açougue falou que ele não estava lá. E fica por isso mesmo", disse Bolsonaro.

Na sequência, o presidente reclama que "é putaria o tempo todo" para atingi-lo "mexendo" com sua família.

"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui para brincadeira", acrescentou.

Inquérito

A reunião ministerial de 22 de abril está no centro de um inquérito aberto no STF, a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), para apurar as declarações de Sergio Moro no dia em que pediu demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

O ex-ministro denunciou uma suposta interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal com a exoneração do então diretor-geral Maurício Valeixo. O vídeo é considerado como uma das principais provas para sustentar a acusação feita por Moro de que o presidente tentou interferir no comando da PF e na superintendência do órgão no Rio, fatos esses investigados no inquérito relatado pelo decano do STF.

Depoimentos

Os ministros generais Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (GSI) e Walter de Souza Braga Netto (Casa Civil) já prestaram depoimento no âmbito dessa investigação. Os três foram citados por Sergio Moro como testemunhas da suposta tentativa de interferência do presidente verbalizada durante a reunião.

O general Heleno disse à Polícia Federal que sabia do impasse entre Jair Bolsonaro (sem partido) e Sergio Moro em relação ao comando da PF, mas afirmou que "nunca entendeu" o motivo da insatisfação do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública.

Já o general Ramos disse aos investigadores considerar "evidente" o aborrecimento de Moro com o interesse de Bolsonaro em substituir a chefia da Polícia Federal. Ele afirmou ainda que, por iniciativa própria, tentou contornar a situação e chegou a ligar para o ex-ministro da Justiça em busca de uma solução. O telefonema teria ocorrido sem o conhecimento do presidente.

Por fim, Braga Netto afirmou que o presidente havia revelado na reunião ministerial sua intenção de trocar a "segurança do Rio de Janeiro", referindo-e à segurança pessoal dele, a cargo do Gabinete da Segurança Institucional (GSI), não tendo relação com a Polícia Federal.

A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e os delegados Carlos Henrique Oliveira de Sousa (ex-chefe da PF no Rio) e Alexandre da Silva Saraiva (cotado por Bolsonaro para chefiar a PF fluminense) também prestaram depoimento à Polícia Federal.

Zambelli (PSL-SP) precisou esclarecer a troca de mensagens Moro em que pediu a ele que aceitasse a mudança na direção-geral da PF solicitada por Bolsonaro em troca de uma vaga no STF. A deputada afirmou que falou com o ministro apenas como "ativista", sem ser enviada pelo Planalto, e que sua frase seria apenas uma sugestão, e não um acordo.

Alexandre Ramagem, que chegou a ser nomeado por Bolsonaro para chefiar a PF após a demissão de Valeixo, mas não assumiu o cargo após ter sua nomeação suspensa pelo STF, também prestou depoimento. Ele defendeu o presidente e investiu contra Sergio Moro, dizendo que o ex-ministro criou uma "celeuma entre Poderes da União" e que deveria "se ater a princípios e valores de hierarquia, lealdade e preferência da lei". Ramagem ainda negou que seja amigo da família Bolsonaro.