Policiais não sabiam que iriam prender Queiroz para evitar vazamento
O delegado da Polícia Civil de São Paulo Osvaldo Nico Gonçalves, que participou hoje da prisão de Fabrício Queiroz, disse que os policiais não sabiam quem iriam prender na operação. O objetivo foi evitar qualquer vazamento de informação.
"Não demos ciência para os policiais para não haver nenhum tipo de vazamento, nada. Ontem fomos contatados pelo delegado geral que recebeu a missão do Ministério Público, e nós cumprimos com êxito. A gente fez um briefing hoje por volta de 4 horas na nossa sede e seguimos pro local junto com os promotores públicos", disse em entrevista à CNN.
Promotor responsável pela prisão em São Paulo, Jandir Moura Torres Neto, confirmou a preocupação com o vazamento da operação. Para isso, não foram feitas diligências no local da prisão, como é feito de costume pela polícia.
Suposto vazamento
Em reportagem publicada em maio pela Folha de S.Paulo, o empresário e suplente de Flávio Bolsonaro, Paulo Marinho, disse que o filho do presidente soube com antecedência que a Operação Furna da Onça, que atingiu Queiroz, seria deflagrada.
Queiroz é preso
Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, foi preso na manhã de hoje em Atibaia, cidade do interior paulista, numa ação conjunta do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e do MP-SP (Ministério Público de São Paulo).
Queiroz foi localizado e preso em um imóvel que pertence a Frederick Wassef, advogado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de seu filho Flavio. Ontem, Wassef esteve na posse novo ministro das Comunicações, Fabio Faria (PSD), que contou com a presença do presidente.
A prisão é preventiva, ou seja, sem prazo. Policiais também realizaram busca e apreensão no local.
Quem é Fabrício Queiroz
O ex-assessor Fabrício Queiroz passou a ser investigado em 2018 depois que um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) indicou movimentação financeira atípica dele, que é amigo do presidente desde 1984.
Policial reformado ele, que havia atuado como motorista e assessor do então deputado estadual, movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. O último salário de Queiroz na Alerj fora de R$ 8.517. Ele também recebeu transferências em sua conta de sete servidores que passaram pelo gabinete de Flávio.
As movimentações atípicas, que vieram à tona num braço da Operação Lava Jato, levaram à abertura de uma investigação pelo MP do Rio.
Uma das transações envolve um cheque de R$ 24 mil depositado na conta da hoje primeira-dama Michelle Bolsonaro. O presidente se limitou a dizer que o dinheiro era para ele, e não para a primeira-dama, e que se tratava da devolução de um empréstimo de R$ 40 mil que fizera a Queiroz. Alegou não ter documentos para provar o suposto favor.
Em entrevista ao SBT em 2019, Queiroz negou ser um "laranja" de Flávio. Segundo ele, parte da movimentação atípica de dinheiro vinha de negócios como a compra e venda de automóveis. "Sou um cara de negócios, eu faço dinheiro... Compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro. Sempre fui assim", afirmou na ocasião.
"Inicialmente, as ordens vieram indicando somente o endereço, não havia referência indicando qual seria o imóvel. Pelas pesquisas iniciais verificamos que se tratava de um escritório de advocacia. Por isso tivemos o cuidado de fazer contato com a comissão de diligências da OAB de Campinas, para não haver qualquer tipo de vazamento", disse Neto.
"Por conta da sensibilidade do alvo tomamos cautelas adicionais, entre elas não realizamos diligências no local. Essa parte não pôde ser realizada", acrescentou o promotor.
Já Gonçalves relatou que Queiroz foi preso em um quarto humilde e que não ofereceu qualquer resistência aos policiais.
"Ele tinha tomado remédio para dormir, não conseguiu atender a campainha, insistimos várias vezes, fomos forçados a quebrar a corrente e chegar até o quarto que ele estava. Estava dormindo não ofereceu resistência nenhuma, só falou que estava com problema de saúde", contou.
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