Topo

Esse conteúdo é antigo

Fundação Palmares retira nome de Marina Silva de personalidades negras

Do UOL, em São Paulo

13/10/2020 19h25Atualizada em 14/10/2020 15h48

A ex-ministra e ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade) teve o nome retirado da lista de personalidades negras da Fundação Palmares. O anúncio foi feito hoje pelo presidente da entidade, Sérgio Camargo, em sua conta no Twitter.

O dirigente afirmou que a decisão foi tomada pelo fato de Marina, segundo ele, não ter "contribuição relevante para a população negra do Brasil". Marina é conhecida pelo seu ativismo pelo meio ambiente, foi ministra da pasta no governo Luiz Inácio Lula da Silva e, em 1994, tornou-se a mais nova senadora a ser eleita ao ser escolhida pelos eleitores do Acre. Ela ainda foi candidata à Presidência da República duas vezes, ficando em terceiro lugar na eleição de 2014.

Em entrevista à Globo News, a ex-senadora classificou a decisão como autoritária. "Você decreta a própria realidade. Todas as pessoas que são excluídas, com certeza não foram excluídas por serem irrelevantes, mas exatamente pela importância das causas que defendiam", avaliou.

De acordo com Marina, a posição de Camargo mostra um combate a defensores de minorias. "Geralmente aqueles que são contrários a tudo que é defesa dos direitos humanos, do meio ambiente, do combate a formas preconceituosas de lidar com o diferente acabam tentando não ir para o debate, mas para tentar eliminar, ocultar", lamentou.

Em seu post no Twitter, o presidente da Fundação Palmares alegou que disputar eleição não torna a política relevante. "Marina Silva foi excluída da lista de personalidades negras da Fundação Cultural Palmares. Marina não tem contribuição relevante para a população negra do Brasil. Disputar eleições não é mérito. O ambientalismo dela vem sendo questionado e não é o foco das ações da instituição", explicou.

Camargo ainda afirma que Marina "autodeclara-se negra por conveniência política". Ele diz que "Posar de 'vítima' e de 'oprimido' rende dividendos eleitorais e, em alguns casos, financeiros" e ainda citou que outros políticos, como o ex-deputado federal Jean Williys, os deputados Talíria Petrone, David Miranda, todos do Psol e a cantora Preta Gil são "pretos por conveniência".

Quem é Marina Silva?

Marina é natural de Rio Branco no Acre, nascida em 1958. Foi alfabetizada apenas aos 16 anos, e 10 anos depois, em 1981 se formou em história na UFAC (Universidade Federal do Acre). Em 1984 entrou para o movimento sindical rural, ao lado do ambientalista Chico Mendes, ajudando a fundar a CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Acre.

Em 1986 concorreu à deputada federal pelo PT (Partido dos Trabalhadores). Ficou entre os cinco mais votados, porém não se elegeu por falta de coeficiente eleitoral. Em 1988 foi eleita vereadora em Rio Branco. Dois anos depois chega à Assembleia Legislativa do Acre como deputada estadual.

Em 1994 é eleita a senadora mais jovem da República, com 36 anos. Em 1997 recebe o prêmio "Goldman Environmental Prize", por sua atuação na luta pela preservação ambiental no Brasil. Em 2002 é reeleita senadora e um ano depois, no governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, assume o cargo de ministra do Meio Ambiente. Em 2007 foi premiada pela ONU (Organização das Nações Unidas) com o prêmio "Champions of The Earth" pelo seu trabalho à frente do ministério.

Em 2008 sai do Ministério do Meio Ambiente e retorna ao senado. Em 2009 também abandona o PT e se filia ao PV (Partido Verde), disputando a eleição presidencial de 2010. Acaba ficando em terceiro lugar com 19.636.359 votos no primeiro turno. Em 2014, após a morte de Eduardo Campos, assume a candidatura à presidência pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro) e termina também na terceira posição com 22.176.619 votos.

Em 2018 volta a concorrer ao Planalto e tem seu pior resultado, ficando em oitavo lugar com apenas 1.069.577 votos.

Benedita da Silva também tem nome retirado da lista de personalidades negras

16.set.2020 - PT anuncia Benedita da Silva como pré-candidata à Prefeitura do Rio - Reprodução/internet - Reprodução/internet
Imagem: Reprodução/internet

A Fundação Palmares também retirou o nome da deputada federal e candidata à Prefeitura do Rio Benedita da Silva (PT), em 30 de setembro. A política alegou que irá à Justiça contra a decisão.

Na ocasião, Sérgio Camargo alegou que a deputada foi retirada por responder pelo crime de improbidade administrativa e ter seus bens bloqueados pela Justiça. Ainda disse que "O preto, o pobre e o favelado são as maiores vítimas da corrupção".

Benedita é acusada pelo Ministério Público de improbidade administrativa no período em que ocupou a secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, na gestão de Sergio Cabral no governo do Rio de Janeiro. Em 2015, a justiça determinou o bloqueio de bens e quebra de sigilo bancário da deputada com o objetivo de recuperar R$ 32 milhões em supostos danos causados aos cofres do estado.

De acordo com o MP, ela teria dispensado licitações em contratações trazendo "grave prejuízo" ao estado. As supostas irregularidades teriam ocorrido na assinatura de convênios entre a Fundação Darcy Ribeiro (Fundar) e ONGs e o Ministério da Justiça.

Ela não foi condenada no caso. No entanto, em agosto deste ano, o juiz da 6ª Vara da Fazenda Pública do Rio, Bruno Bodart, decidiu manter o bloqueio de bens da candidata.

Em postagem no Twitter, a deputada afirmou: ""Hoje ainda fui surpreendida por uma decisão arbitrária do Capitão do Mato que preside, a mando de Bolsonaro, a Fundação Palmares, que deveria preservar a memória e a cultura do povo negro mas está fazendo o contrário. Depois de excluir Mandela, Zumbi dos Palmares da lista de personalidades negras ele retirou meu nome desta galeria. O que ele fez é ilegal, é abuso de poder", disse Benedita. A candidata afirmou que entrará na justiça contra as agressões que vem sofrendo."