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Investigado, Cláudio Castro distribuirá 8 secretarias por apoios na Alerj

Claudio Castro - Folhapress
Claudio Castro Imagem: Folhapress

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

16/10/2020 04h00

Alvo de investigações sobre supostos atos de corrupção, o governador em exercício do Rio, Cláudio Castro (PSC), trabalha na construção de uma ampla base de apoio na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Para ele, foi justamente o mau relacionamento com a Casa que desgastou o mandato do governador afastado Wilson Witzel (PSC), cujo processo de impeachment foi aprovado por 69 votos a zero.

Por isso, cargos em oito secretarias, além da Cedae (Companhia de Águas e Esgoto), serão usados para arregimentar apoios valiosos em votações que serão realizadas ainda neste ano, como a que pode aprovar o orçamento para 2021 com as emendas necessárias. Castro já admitiu a interlocutores a vontade de ter 30 dos 70 deputados estaduais em sua base.

O UOL entrou em contato com Castro, através de sua assessoria de imprensa, para comentar as possíveis distribuições de cargos e a composição do governo. A assessoria informou que o governador em exercício, que foi diagnosticado com covid-19 na semana passada, não se posicionará sobre a reportagem.

A meta agora é "limpar Witzel" do governo

Castro foi aconselhado por aliados a não fazer a distribuição de cargos, justamente para evitar que essa política soe como uma espécie de "compra" dos deputados.

A interlocutores, no entanto, ele teria levantado outros aspectos dessa política —além de agradar a família Bolsonaro ao ceder cargos a deputados bolsonaristas, a aceitação de parlamentares indica uma espécie de "trégua" após o andamento do processo de impeachment de Witzel na Alerj.

Além disso, a nomeação de deputados em algumas das pastas terá um sentido estratégico —no entender de Castro, com a caneta na mão, os parlamentares não poderão argumentar que não tinham ciência em eventuais atos de corrupção em secretarias sobre as quais exerçam controle.

A fim de enterrar o impeachment, Witzel chegou a oferecer —sem sucesso— cargos a deputados em troca de mudança de votos. No Palácio Guanabara, é dado como certo que Witzel não volta ao cargo (agora o processo de impeachment está a cargo de um Tribunal Misto). Por isso, outubro é encarado como um mês para uma "limpa" na estrutura do governo.

Indicações antigas devem dar lugares a novos nomes. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Marcelo Lopes, nomeado ainda durante o período em que Witzel comandava o Palácio Guanabara, por exemplo, deve deixar o cargo em breve em uma sinalização de que o rompimento é total.

Embarque de bolsonaristas no governo

Entre as secretarias que devem ser usadas como "agrado", estão a pasta dos Esportes, que deve ficar sob a responsabilidade dos oito deputados da ala bolsonarista do PSL na Alerj.

Outro partido ligado diretamente ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o Republicanos —sigla que abriga Carlos e Flávio Bolsonaro— deve ser agraciado com a Secretaria de Trabalho e Renda, que ficará à disposição dos seus quatro parlamentares na Alerj.

Nos dois casos, apesar de a distribuição de cargos obedecer a critérios políticos, a nomeação para o comando da pasta deve ser feita a alguém com perfil técnico. Os parlamentares poderão fazer indicações para cargos comissionados nas secretarias, subsecretarias e fundações subordinadas às pastas.

Sete deputados devem ocupar os postos em outras duas secretarias —Ciência e Tecnologia e Agricultura. Na Alerj, comenta-se que os cargos dessas pastas ficarão com os deputados Val do Ceasa (Patriota), Valdecy da Saúde (PHS), Leo Vieira (PSC), Marina Rocha (PMB), Doutor Deodalto (DEM), Jair Bittencourt (PP) e Vandro Família (SDD).

Pasta usada como barganha para tentar converter votos durante o processo de impeachment, a Secretaria de Desenvolvimento Social, Cidadania e Habitação já teria sido oferecida aos deputados Bruno Dauaire (PSC) e Jorge Felippe Neto (PSD). Sob o comando de Castro, os cargos seriam colocados a disposição de até cinco parlamentares.

A Secretaria de Educação e cargos da Cedae também são dados como certos na distribuição feita por Castro para conseguir apoios.

"Bolsonaro só quer ser atendido"

Entre os políticos que dificilmente encontrarão brechas para ocupar secretarias ou nomear indicados no governo, estão os deputados da chamada ala bivarista do PSL —aqueles que após o rompimento de Bolsonaro com o deputado federal Luciano Bivar (PE) ficaram do lado do presidente nacional da legenda.

O deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL), que chegou a se colocar à disposição para ocupar a Secretaria de Turismo, por exemplo, teve o nome descartado após um telefonema entre Castro e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Questionado pelo filho mais velho do presidente se os boatos tinham algum fundo de verdade, Castro negou a possibilidade e fechou as portas para o político que se posicionou ao lado de Witzel em meio aos embates com o presidente.

Flávio é o filho de Bolsonaro com mais contato com Castro. O presidente já fez chegar ao governador interino a mensagem de que "só quer uma coisa do Rio: ser atendido quando entrar em contato".

Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou em agosto que o clã Bolsonaro tenta influenciar a escolha do novo procurador-geral de Justiça do Rio. O nome a ser escolhido por Castro em dezembro comandará o Ministério Público do Rio, órgão que investiga Flávio pelo suposto esquema de rachadinha em seu gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

Segundo o MP-RJ, o governador em exercício é suspeito de receber propina da empresa Servlog Rio, que teria pago valores por contratos com a Fundação Leão 13, pertencente ao governo do estado e que era comandada por Castro. Ele nega as suspeitas.