Trevisan: Com 300 mil mortes, empresários e Congresso pressionam Bolsonaro
Colaboração para o UOL, em São Paulo
26/03/2021 04h00
Jair Bolsonaro (sem partido) mudou, ao menos no discurso. Em pronunciamento, disse nunca ter sido contra a vacina para combater a pandemia de covid-19 e se solidarizou com familiares de vítimas, diferentemente do tom usado em mais de um ano. Por quê? Culpa de empresários, do Congresso Nacional e da marca de 300 mil mortes pela covid-19 atingida nesta semana.
No Baixo Clero #79, a colunista Maria Carolina Trevisan analisa os motivos por trás do recuo feito pelo presidente. Críticas vindas do poder econômico, direcionadas ao mundo político, interferiram na fala do mandatário.
"Bolsonaro está desesperado, pois há uma dificuldade maior de governar. O Congresso quer pegar as rédeas de barganha e há a carta de banqueiros e economistas, importante na mudança de postura", afirma (veja a partir de 1:04:10 no vídeo acima).
"O discurso foi muito uma amostra de desespero do presidente. De repente, ele muda a narrativa. Não é o desejo dele, foi negacionista. Não é do dia para a noite que ele ganha consciência e quer agir como estadista", completa (veja a partir de 1:05:40 no vídeo acima).
Para a colunista, o risco de perder as eleições presidenciais de 2022, quando Jair Bolsonaro buscará a sua reeleição, reforça o recuo no negacionismo em meio à pandemia. "Outro fator que coloca mais pressão no cenário é Lula poder concorrer", diz (veja a partir de 1:05:30 no vídeo acima).
Os impactos da falta de governabilidade são sentidos a partir da cobrança para que ministros deixem o governo. Primeiro com o militar Eduardo Pazuello, trocado por um médico no Ministério da Saúde, e agora com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
"A fritura do Ernesto é um grande sinal do enfraquecimento do governo como um todo", analisa o colunista Diogo Schelp, titular do Baixo Clero (veja a partir de 1:06:30 no vídeo acima).
É uma nova deixa para o Centrão entrar no jogo político. Longe da oposição, eles são os responsáveis pelo desgaste de Araújo. A troca do chanceler é um dos pedidos para a manutenção de apoio desse grupo de parlamentares.
"No Brasil, o Parlamento não tem historicamente influência na política externa. Temos o Itamaraty como formulador e executor. Tem influência no Congresso a forma como o Ernesto atrapalha o combate à pandemia", justifica (assista a partir de 1:07:10 no vídeo acima).
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