Pobre STF, diz Marco Aurélio sobre indicação ser 'terrivelmente evangélica'
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello lamentou o critério para a próxima indicação de magistrado ao Supremo: "Pobre Supremo". A declaração foi dada em entrevista ao colunista do UOL, Kennedy Alencar. O presidente já disse em mais de uma ocasião que o próximo membro da Corte vai ser "terrivelmente evangélico", uma de suas principais de bases de apoio.
Segundo Marco Aurélio, a religião "não é bom critério". Para o ministro, trata-se de "arroubo de retórica para agradar um segmento que o apoiou nas eleições", em referência à base evangélica de Bolsonaro. "Mas ressoa muito mal. Se o critério for este, pobre Supremo em termos de composição", disse Marco Aurélio.
O decano também falou sobre a sua aposentadoria, marcada para o dia 5 de julho deste ano. Ele se despede uma semana antes de completar 75 anos, idade limite para permanecer como integrante do STF.
"A separação Estado igreja, Estado religião, ocorreu há muito tempo. O Estado é laico. Não está atrelado à religião", afirmou o ministro, que acrescentou: "Querem agradar de qualquer forma o presidente da República visando a indicação que estará aberta a partir de 5 de julho. Mas não é por aí que se chega à indicação".
"Lá estão as 11 cadeiras mais importantes da República. Supremo julga atos do presidente. Ele afasta do cenário jurídico leis aprovadas pelas duas Casas nacionais. A envergadura da cadeira está a exigir uma felicidade maior na escolha do ocupante. Espero que ocorra."
Deu um conselho para o seu substituto: "Em primeiro lugar, percepção da envergadura da cadeira, de sua importância. Que tenha presente a coragem cívica, que é a síntese de todas virtudes. Não adianta não ter coragem para enfrentar o conflito de interesse segundo o contido no processo. Processo não pode ter capa. Processo tem conteúdo", disse.
Integrante do Supremo não ocupa cadeira voltada às relações públicas. Integrante do Supremo não pode almejar mais nada na vida pública depois de ter servido à pátria.
Marco Aurélio, ministro do STF
Marco Aurélio alegou ainda que espera que haja uma verdadeira sabatina no Senado para o próximo candidato ao Supremo, com exposição do perfil do indicado e de sua formação desse técnica e humanística. Normalmente as sabatinas são criticadas por serem apenas protocolares, aprovando os indicados sem inquisições relevantes.
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