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STF: Moraes manda investigação sobre Ricardo Salles para a Justiça do Pará

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, é alvo de inquérito que apura retirada e venda ilegal de madeira - Lula Marques
Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, é alvo de inquérito que apura retirada e venda ilegal de madeira Imagem: Lula Marques

Do UOL*, em São Paulo

20/07/2021 18h21

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), acatou hoje um pedido feito pela Polícia Federal e mandou a investigação do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles para a Justiça Federal do Pará em Altamira.

Para Moraes, já que Salles não exerce mais o cargo e perdeu o foro privilegiado, é necessário que o caso passe à primeira instância.

A investigação, aberta em julho do ano passado, apura se o ex-ministro agiu para afrouxar a fiscalização do Ibama sobre a exportação de madeira.

No documento da PF, o delegado Franco Perazzoni, que conduz as investigações, aponta que o inquérito deveria ir para Altamira, no sul do Pará, já que é a área de onde foi extraída a maior parte da madeira de origem suspeita.

No começo deste mês, a ministra Cármen Lúcia já havia determinado que outro inquérito, que investiga se Salles obstruiu investigações de apreensão de madeira ilegal pela Polícia Federal, fosse para o TRF-1 (Tribunal Federal da Primeira Região).

"Lavagem" de madeira

A PF pediu a mudança das investigações para Altamira com base em informações repassadas ao órgão pelo Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos. A autoridade ambiental norte-americana analisou as cargas de madeira brasileira apreendidas em portos do país, por problemas na documentação, e descobriu que a maior parte delas havia sido extraída da Floresta Nacional (Flona) de Altamira.

A área permite a exploração sustentável de madeira, mas a PF suspeita que nem todas as cargas investigadas foram extraídas dali. Em março de 2020, a Tradelink fez uma exportação e declarou às autoridades que a madeira contida naquele contêiner havia sido retirada de determinado ponto da Flona de Altamira. Imagens de satélite, porém, não registraram nenhum sinal de exploração florestal naquela área desde julho de 2019, mais de oito meses antes.

Para a PF, esse lapso temporal indica de que a madeira contida naquela carga foi cortada em outro local. Perazzoni escreveu no ofício que a situação "é bastante inusual e reforça a possibilidade de 'lavagem' de produtos florestais de outras áreas a partir de documentos" usados nessa exportação.

Crescimento do desmatamento na Amazônia

Dados divulgados ontem pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) mostram um crescimento do desmatamento na Amazônia. Em junho a área devastada atingiu 926 km², equivalente a três vezes a cidade de Fortaleza, o que levou a um total de 8.381 km² nos últimos 11 meses, entre agosto de 2020 e junho de 2021. É um número 51% maior que os 5.533 km² registrados entre agosto de 2019 e junho de 2020.

O levantamento referente ao mês de junho aponta para o terceiro maior índice de destruição da vegetação nos últimos dez anos. Os estados mais atingidos são, respectivamente, Pará e Amazonas, que juntos somam 568 km² de área devastada, 61% do registrado nos nove estados da Amazônia Legal.

O Pará é líder em desmatamento desde o ano de 2006. Quatro municípios (Altamira, São Félix do Xingu, Novo Progresso e Itaituba) são responsáveis por 174 km² de área desmatada em junho, cerca de 52% do índice registrado no estado.

Após os dois estados, Mato Grosso (14%), Rondônia (11%), Acre (9%), Maranhão (3%) e Roraima (2%) completam o ranking dos estados com maior desmatamento da Amazônia em junho.

*Com reportagem de Rafael Neves, do UOL em Brasília