Ministro diz que aluno com deficiência 'atrapalha' e bate boca com Romário
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que alunos com deficiência "atrapalham" o ensino dos demais estudantes. O senador Romário (PL-RJ), pai de Ivy, menina de 16 anos que tem síndrome de Down, reagiu nas redes sociais.
Romário se referia às críticas do ministro ao "inclusivismo" — termo usado por Ribeiro, durante entrevista ao programa "Novo sem Censura", da TV Brasil, na semana passada, para se referir ao ato de incluir crianças com e sem deficiências em um mesmo ambiente de aprendizado. O ministro disse que no "inclusivismo" crianças com deficiência "atrapalhavam, entre aspas" o aprendizado de outros alunos sem a mesma condição. Os motivos que faziam isso ocorrer, segundo ele, é que "a professora não tinha equipe, não tinha conhecimento para dar a ela atenção especial".
O ex-jogador e atual parlamentar classificou as falas do integrante do governo Jair Bolsonaro (sem partido) como vindas de uma pessoa "imbecil" e afirmou que não era de se esperar que um ministro da Educação tivesse a postura apresentada por Ribeiro.
Somente uma pessoa privada de inteligência, aqueles que chamamos de imbecil, podem soltar uma frase como essa. Existem aos montes, mas não esperamos que estes ocupem o lugar de ministro da Educação de um país.
Romário, senador
Ribeiro reagiu a Romário e disse que é "deselegante" um dos representantes do Parlamento se dirigir a um ministro com palavras ofensivas. Ribeiro afirmou ainda que a frase comentada por Romário foi tirada de contexto.
Quero acreditar que o Sr. não tenha assistido à entrevista e 'caiu na onda' de quem distorceu o sentido de minha frase. Para poupar seu tempo e energia, trago esclarecimentos dos seus próprios e seguidores.
Milton Ribeiro, ministro da Educação
Turmas exclusivas para alunos com deficiência
Ribeiro defendeu a criação de turmas e escolas especializadas que atendam apenas estudantes com deficiência. O gestor do MEC também fez críticas contra a antiga norma do PNEE (Política Nacional de Educação Especial) que definia turmas mistas.
Em outubro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) determinou via decreto que o governo federal, estados e municípios deviam oferecer "instituições de ensino planejadas para o atendimento educacional aos educandos da educação especial que não se beneficiam, em seu desenvolvimento, quando incluídos em escolas regulares inclusivas e que apresentam demanda por apoios múltiplos e contínuos".
O texto foi alvo de questionamento no STF (Supremo Tribunal Federal), que suspendeu a nova política dois meses depois, em outubro do mesmo ano.
Ribeiro declarou na mesma entrevista que a universidade deveria ser "para poucos" e ser "útil à sociedade". De acordo com ele, os institutos federais, que formam técnicos, serão a "grande vedete" — ou seja, protagonistas — do futuro.
A Comissão Externa de Acompanhamento do Ministério da Educação, formada por deputados federais, concordou com as críticas de Romário ao ministro. Disse, em nota oficial, que a fala do ministro é "segregadora e vai contra as leis e as normas constitucionais brasileiras que promovem a inclusão aos estudantes com deficiência".
Assinam a carta e fazem parte da comissão Felipe Rigoni (PSB-ES), Tabata Amaral (sem partido, eleita por SP), Eduardo Bismarck (PDT-CE), Israel Batista (PV-DF), Silvia Cristina (PDT-RO) e Tiago Mitraud (Novo-MG).
"A inclusão é força motriz para que tenhamos uma educação acessível e que abrace todos os princípios democráticos e de cidadania. Logo, nenhuma fala que atente a esta finalidade e que atinja a dignidade humana deve ser tolerada!", afirmam no comunicado, que ainda exige que Ribeiro "reveja a sua postura e peça desculpas aos mais de 1,5 milhão de estudantes brasileiros com deficiência".
A comissão também pede que o ministro dê explicações ao Parlamento e a toda a sociedade brasileira acerca dos investimentos na educação inclusiva.
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