Jornal: PF diz que deputados do PL usavam grupo armado para desviar emendas
A Polícia Federal informou ao STF (Supremo Tribunal Federal) ter encontrado indícios de que deputados do PL (Partido Liberal), ao qual o presidente Jair Bolsonaro é filiado, utilizavam um grupo armado, extorsões e saques em dinheiro vivo para desviar emendas parlamentares que deveriam ser destinadas a prefeituras do Maranhão. As informações foram obtidas e divulgadas pelo jornal O Globo.
O grupo, liderado supostamente pelo deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL-MA), teria também a participação dos deputados Bosco Costa (PL-SE) e Pastor Gil (PL-MA). Hoje, a PF cumpre mandados de busca e apreensão em endereços ligados a deputados federais do PL. O caso corre em segredo de Justiça e foi autorizada pelo relator da ação no STF, ministro Ricardo Lewandowski.
"Os argumentos da PF tinham consistência e permitiam que se autorizasse diligências de busca e apreensão nas residências e nos locais de trabalho dos parlamentares", disse o ministro.
Conforme os documentos aos quais o jornal teve acesso, um agiota chamado Josival Cavalcanti da Silva, e conhecido como Pacovan, emprestava dinheiro aos deputados, e os pagamentos eram feitos por meio de saques em dinheiro vivo. Esses valores eram desviados de emendas parlamentares.
"O deputado federal Josimar Maranhãozinho é quem está à frente da estrutura criminosa, capitaneando não somente a destinação dos recursos públicos federais oriundos de emendas (próprias e de outros parlamentares comparsas) para os municípios, mas também orientando a cobrança (utilizando, inclusive, de estrutura operacional armada), ao exigir dos gestores municipais a devolução de parte dessas verbas", diz um trecho do texto enviado pela PF.
A PF identificou, por meio de documentos apreendidos, emendas parlamentares no valor aproximado de R$ 5 milhões usadas para os desvios. Denúncias foram feitas à corporação pelo então prefeito de São José de Ribamar (MA), Eudes Sampaio, que disse ter sido alvo de extorsões do grupo de parlamentares.
A investigação teve, ainda, acesso a trocas de mensagens entre os membros do grupo. Em uma das conversas, um áudio de junho de 2020, o agiota Pacovan teria reclamado a Maranhãozinho que o "homi lá do Ribamar [prefeitura onde ocorriam os desvios]" só negociaria com o deputado. O agiota também demonstra, em outro trecho, medo de perder o dinheiro e pede ajuda do parlamentar para resolver a questão.
O que dizem os deputados e o PL
Em nota, Maranhãozinho disse que vai colaborar com as investigações. Leia a íntegra:
"Na manhã de hoje ocorreu uma nova busca de documentos em minha residência. Seguimos contribuindo e colaborando com todas as averiguações sem medo e sem restrição. Vejo como uma demonstração de que nada foi encontrado das outras vezes e tampouco será. Por essa razão não consigo entender a espetacularização do ocorrido, que parece ter sido orquestrado para gerarem grande e rápida repercussão na imprensa regional e nacional. Por isso me pergunto se o objetivo é apenas prejudicar minha imagem na tentativa de me tirar da disputa eleitoral."
Em nota, o pastor Gil disse confiar na comprovação da improcedência da operação. Leia a íntegra:
"O meu papel como cidadão e homem público sempre foi exercido com probidade, elevado interesse público e pautado pelos princípios cristãos. Jamais participei de nada que ferisse a legislação, os interesses do meu querido povo ou os meus princípios. Infelizmente, agora, isso foi colocado em cheque! [sic]. Mas confio no trabalho da Justiça e confio ainda mais em Deus. E, por isso, tenho certeza que a improcedência dos fatos últimos desta sexta-feira será absolutamente comprovada."
A assessoria do PL e o gabinete de Basco Costa preferiram não comentar.
"Não emitiremos notas oficiais. Não podemos nos manifestar oficialmente até termos acesso ao conteúdo das investigações. Todos fomos pegos de surpresa. O deputado deve conversar com o presidente do partido sobre o caso", afirmou a assessoria de Bosco Costa. "O PL soube pela imprensa e aguarda outras apurações. Por enquanto, não vamos comentar", disse o partido em nota.
Em caso de novas manifestações, esta reportagem será atualizada.
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