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Deputado ameaça e mostra arma após Lula sugerir pressão sobre parlamentares

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

05/04/2022 21h16Atualizada em 06/04/2022 17h28

O deputado federal Junio Amaral (PL-MG) publicou hoje um vídeo em suas redes sociais em que carrega uma arma com cartucho enquanto afirma estar pronto para receber o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em sua casa.

Na gravação, Amaral reage ao trecho de um discurso em que o petista, durante evento na CUT (Central Única dos Trabalhadores) na última segunda-feira (4), incentivou seus apoiadores a irem até a casa de deputados para "incomodar a tranquilidade" deles.

"Estarei pronto para uma bela e calorosa recepção. Sejam bem-vindos!", escreveu o congressista, em sua publicação.

Em nota ao UOL, a assessoria de Lula disse lamentar "que muitos bolsonaristas insistam em incitar a violência política ao invés de aceitar o debate democrático de ideias. Um país melhor se constrói com livros, empregos e oportunidades, não com armas e incitação à violência".

Ao UOL, o deputado bolsonarista justificou suas falas dizendo que Lula "estimula terroristas" ao proferir palavras de ordem convocando manifestantes para a casa de congressistas.

"Como um chefe de quadrilha que é, Lula, com suas palavras, estimula terroristas que compõem grupos de esquerda a atacarem deputados adversários em suas casas, e ainda cita o cerco a nossas famílias. A casa é o asilo inviolável de qualquer cidadão, devemos reagir com intensidade contra qualquer um que colocar a nossa família em risco", declarou o congressista, que é policial militar reformado em Minas Gerais.

Lula pediu mais cobrança a congressistas

Na CUT, Lula afirmou que atos em frente ao Congresso Nacional "não movem uma pestana de um deputado" e sugeriu outras formas de pressionar os parlamentares.

"Quando a gente está dentro do Plenário, a gente não sabe se está chovendo lá fora... Então, se a gente mapeasse o endereço de cada deputado e fossem 50 pessoas para a casa desse deputado? Não é para xingar, não. É para conversar com ele, conversar com a mulher dele, conversar com o filho dele, incomodar a tranquilidade dele. Acho que surte mais efeito do que manifestação em Brasília", disse Lula.

No vídeo de reação, Amaral insere cartucho de munição numa arma, afirma que mora em Contagem (MG) e declara que Lula e seus apoiadores seriam "bem-vindos" se aparecessem em sua casa.

"Eu vou esperar vocês lá, tanto a sua turma, como você. Vá lá conversar com a minha esposa, a minha filha. Vocês serão muito bem-vindos. Até lá", completou o deputado.

Em outubro do ano passado, em reunião com sindicalistas contrários à reforma administrativa, o petista já havia incentivado que eles pressionassem os parlamentares pela rejeição da medida nas ruas.

"Se vocês fossem deputados, vocês iam perceber que, quando vocês ficam gritando lá fora, a gente não ouve. Lá dentro do Congresso, a gente não sabe se tá chovendo, ou se fez sol", disse o ex-presidente, na ocasião. "Então, eu acho que a gente tem que mudar o jeito da gente pressionar o Congresso Nacional. Esse cidadão precisa ser pressionado na rua em que ele mora, na cidade em que ele mora".

Filhos de Bolsonaro reagem

Os filhos do presidente Jair Bolsonaro também criticaram a fala de Lula. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) publicou o vídeo da declaração e criticou suposta falta de cobertura da mídia sobre as declarações do petista. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que Lula "não está pensando em eleição num país cristão que respeita a propriedade privada".

O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) publicou o vídeo de Lula em suas redes sociais e disse que o ex-presidente pede para que seus partidários "aterrorizem os outros" em suas casas. "Qual o posicionamento de ministros do STF [Supremo Tribunal Federal] e chefes das Casas Legislativas diante de tal colocação?", questionou Carlos.

Zambelli: 'É para meter chumbo'

A deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) afirmou em suas redes sociais que vai protocolar "denúncia contra Lula por estimular o crime de assédio contra mulheres e filhos de parlamentares".

Num vídeo, em que Zambelli mostra a mãe, a congressista declara: "Na minha casa tem pistola. Mãe, se vier vagabundo aqui ameaçar a senhora e meu filho, a senhora está autorizada a pegar a pistola e meter chumbo. Eu vou defender minha família".

Outros deputados comentam

Sem dar detalhes, o também deputado Daniel Freitas (PL-SC) afirmou que ingressará com ação contra a fala do petista no evento da CUT. "[Lula] quer tocar seu exército vermelho pra cima de nossas famílias", diz o parlamentar.

Deputado pelo Novo, Marcel van Hatten (RS) classificou a declaração como "criminosa" e "uma vergonha", enquanto o deputado Luiz Lima comparou Lula ao ex-presidente boliviano Evo Morales.

Em contato com o UOL, o secretário nacional de comunicação do PT, Jilmar Tatto, afirmou que o setor jurídico do partido avalia quais medidas deve tomar sobre o caso.

"Nossa avaliação é que a Câmara dos Deputados deve adotar providências, tais como levar o deputado do PL que ameaçou Lula à Comissão de Ética da Casa, onde ele poderá ser questionado formalmente sobre suas falas. Os gestos do parlamentar são graves —ele ameaça de morte um ex-presidente da República, algo que, na avaliação do partido, deveria ser passível de cassação de mandato", disse Tatto.

O PL não havia se manifestado até a última atualização desta reportagem.