Dilma, após Temer chamá-la de honestíssima: 'História não perdoa traição'
A ex-presidente da República Dilma Rousseff (PT) respondeu, por meio de uma carta aberta, a comentários feitos pelo também ex-presidente Michel Temer (MDB) durante uma entrevista ao UOL — na qual disse que Dilma era "honestíssima" e que o impeachment de 2016 ocorreu devido a "dificuldades em se relacionar" da mandatária.
"Eu agradeceria que o senhor Michel Temer não mais buscasse limpar sua inconteste condição de golpista utilizando minha inconteste honestidade pessoal e política", escreve Dilma no início de seu posicionamento.
Em seguida, a ex-presidente define Temer como "alguém que articulou uma das maiores traições políticas dos tempos recentes", e cita projetos do emedebista que "não estavam presentes nos planos dos governos eleitos em 2010 e 2014", os quais Temer integrou como vice-presidente.
"As provas materiais da traição política estão expressas na PEC do Teto de Gastos, na chamada reforma trabalhista e na aprovação do PPI para as quais não tinha mandato. Nenhum desses projetos estavam em nossos compromissos eleitorais, pelo contrário, eram com eles contraditórios. Trata-se, assim, de traição ao voto popular que o elegeu por duas vezes", escreveu Dilma.
Ao UOL, Temer rejeitou que o impeachment contra Dilma tenha sido um golpe. Ele citou a dificuldade de diálogo com o Congresso e as manifestações populares como fatores determinantes da queda da petista.
"Não houve golpe. Eu quero dizer que a ex-presidente é honesta. Eu sei, e pude acompanhar, que não há nada que possa apodá-la de corrupta. Ela é honestíssima. Mas houve problemas políticos. Ela teve dificuldades no relacionamento com a sociedade e com o Congresso Nacional. Esse conjunto de fatores levou multidões às ruas", afirmou Temer.
Na avaliação do emedebista, a queda de um presidente não é iniciativa do Poder Legislativo, mas da população como um todo que, segundo ele, é capaz de influenciar a decisão de deputados federais e senadores.
Em sua resposta, Dilma rebate a avaliação de Temer: "Lembro ainda que a 'dificuldade de diálogo com o Congresso' não é razão legal e constitucional para impeachment em um regime presidencialista, como ele bem sabe", escreveu.
A ex-presidente também cita o então presidente da Câmara dos Deputados que deu início ao processo de impeachment, Eduardo Cunha, e o acusa de querer implementar o "orçamento secreto realizado, hoje, sob os auspícios de um dos seus mais próximos auxiliares na Câmara Federal" — o que teria, segundo ela, criado as dificuldades com o Congresso.
Ao finalizar, Dilma Rousseff afirma que não pretende mais debater com Temer: "relembro que a História não perdoa a prática da traição. O senhor Michel Temer não engana mais ninguém."
Horas após a resposta de Dilma, Temer foi às redes sociais dizer que a a manifestação dela era "desarrazoada" e que não responderia às críticas.
Leia a íntegra da resposta de Dilma Rousseff a Michel Temer
Eu agradeceria que o senhor Michel Temer não mais buscasse limpar sua inconteste condição de golpista utilizando minha inconteste honestidade pessoal e política. É justamente essa qualidade que despreza, rejeita e repudia uma avaliação que parte de alguém que articulou uma das maiores traições políticas dos tempos recentes.
É de todo inócuo afirmar que não houve um golpe, pois este personagem se ofereceu como vice-presidente por duas vezes. E, assim, sabia por duas vezes qual era o programa político das chapas vitoriosas que foram eleitas em 2010 e 2014.
As provas materiais da traição política estão expressas na PEC do Teto de Gastos, na chamada reforma trabalhista e na aprovação do PPI para as quais não tinha mandato. Nenhum desses projetos estavam em nossos compromissos eleitorais, pelo contrário, eram com eles contraditórios. Trata-se, assim, de traição ao voto popular que o elegeu por duas vezes.
Lembro ainda que a "dificuldade de diálogo com o Congresso" não é razão legal e constitucional para impeachment em um regime presidencialista, como ele bem sabe.
Tal "dificuldade" era uma integral rejeição às práticas do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, criador do Centrão, que queria implantar com o meu beneplácito o "orçamento secreto", realizado, hoje, sob os auspícios de um dos seus mais próximos auxiliares na Câmara Federal.
Finalmente, relembro que a História não perdoa a prática da traição. O senhor Michel Temer não engana mais ninguém. O que se conhece dele é mais que suficiente para evitá-lo, razão pela qual não pretendo mais debater com este senhor."
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