É natural que haja protestos contra o TSE no 7 de Setembro, diz Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou hoje à rádio Guaíba considerar que "é natural" o surgimento de protestos de apoiadores durante os eventos previstos para a comemoração do Dia da Independência, em 7 de setembro —serão realizados desfiles cívico-militares em Brasília e no Rio de Janeiro. Entre as pautas estão possíveis ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral)
O evento de maior proporção deve ocorrer na praia de Copacabana, na zona sul carioca, palco tradicional de atos políticos no campo da direita, da centro-direita e da extrema-direita. A militância favorável ao chefe do Executivo e candidato à reeleição deve abordar temas como a volta do "voto impresso" —bandeira impulsionada pelas suspeitas infundadas levantadas por Bolsonaro sobre a confiabilidade da urna eletrônica.
A população obviamente vai lá prestigiar o desfile. O pessoal deve ir de camisa verde e amarela. Deve ter alguns protestos, é natural
Jair Bolsonaro, em entrevista à Guaíba (RS)
Por outro lado, o presidente disse que, "da nossa parte", "ninguém quer protesto para fechar isso ou fechar aquilo" —em referência aos antidemocráticos promovidos por apoiadores no 7 de setembro do ano passado e que exaltavam pautas antidemocráticas, como o fechamento do STF e do Congresso.
Apesar de não defender manifestações que sugerem rupturas institucionais, Bolsonaro fez uma ponderação quanto à "moralidade" das demais esferas de poder. Na visão dele, "moralmente, algumas instituições estão se fechando no Brasil" "Moralmente, digo isso. Dá para a gente ganhar essa guerra dentro das quatro linhas."
"Uma das frases mais mostradas lá deve ser a questão de transparência. O que é transparência? Transparência. Em especial, eleitoral. Ninguém está pedindo aqui ou dizendo que não haver eleições. Vamos ter eleições. Agora, nós queremos é transparência por ocasião da votação e das apurações."
No desfecho do raciocínio, o presidente repetiu teorias equivocadas e alegações falsas feitas frequentemente contra a confiabilidade da urna eletrônica e a segurança do sistema eleitoral em geral. Ele voltou a dizer que as Forças Armadas apresentaram ao TSE propostas para garantir "mais transparência" ao pleito, mas que a Corte se posiciona "contra a transparência".
Desde 2020, Bolsonaro tem feito ataques sistemáticos a ministros do Supremo e outras autoridades do Judiciário. Durante as comemorações do Dia da Independência em 2021, ele chegou a chamar o ministro Alexandre de Moraes de "canalha" e ameaçou cortar relações com a Corte —o que simbolizaria uma ruptura institucional, isto é, uma fissura no regime democrático em ambiente favorável a um golpe de estado.
Posteriormente, Bolsonaro recuou e, com a ajuda do ex-presidente Michel Temer, estabeleceu uma trégua no relacionamento com o comando do Judiciário.
O clima, no entanto, permanece beligerante desde então. Hoje mesmo, na entrevista à rádio Guaíba, o presidente da República chamou de "mentiroso" o ministro Luis Roberto Barroso e declarou que, segundo o seu entendimento, o atual chefe do STF, Luiz Fux, deveria ser processado por fake news ao defender a eficiência do sistema eleitoral.
Bolsonaro disse ainda que o desfile cívico-militar em Copacabana terá cerca de uma hora de duração e reunirá apresentações das Forças Armadas, da Polícia Militar fluminense, do Corpo de Bombeiros, escolas militares, entre outros.
"A gente vai pedir, no máximo, uma hora. É tropa das Forças Armadas, né, Marinha, Exército e Aeronáutica, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros Militar, a Aman [Academia Militar das Agulhas Negras] deve ter um efetivo desfilando, Colégio Militar, algumas escolas civis lá do Rio de Janeiro... É por aí. Então, um desfile cívico-militar em Copacabana."
Ataque a Fux
Questionado por um dos apresentadores da rádio gaúcha sobre uma declaração de Luiz Fux em defesa do TSE, Bolsonaro não poupou críticas ao presidente do Supremo Tribunal Federal e declarou entender que, se o inquérito das fake news fosse "sério", o membro da Corte deveria "estar lá respondendo processo".
"De vez em quando, trocamos algumas palavras aqui... Ele é chefe de um Poder. Mas, no mínimo, para ser educado, ele está equivocado. Ou [é] fake news. Deveria estar o Fux lá respondendo processo no inquérito do Alexandre de Moraes. Se fosse um inquérito sério, e não essa mentira, essa enganação que são esses inquéritos do Moraes", comentou o entrevistado.
Uma das argumentações do chefe do Executivo para levantar suspeitas infundadas sobre o voto eletrônico é dizer que o modelo não é seguido por "outros países desenvolvidos" no mundo, e sim por países de menor expressão, como Bangladesh e Butão, segundo ele.
"Em outros países como a Alemanha, eles tiveram esse processo e rapidamente deixaram de lado, exatamente pelas suas vulnerabilidades. Ali, no meu entender, o presidente Fux 'reverbaliza' [sic] aquilo que eu chamo de algo que é para se defender né, o corporativismo... Eu não estou atacando o Supremo, de jeito nenhum. Mas já que é tão evoluído assim, por que Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Itália e Reuno Unido não usam a mesma coisa? É muito simples."
Modelo da Mega Sena
Bolsonaro disse à Guaíba que pedirá para a presidente da Caixa, Daniella Marques, o aprofundamento de um estudo sobre o modelo de apuração da Mega Sena. Ele sugeriu que o formato seria mais transparente, seguro e poderia ser eventualmente adotado pelo TSE.
A Mega Sena é tida a maior modalidade lotérica do país e pode ser considerada um jogo de azar, pois envolve apostas (pessoas pagam e escolhem números em cartelas, sendo o vencedor definido por sorteio). Já ao Tribunal cabe realizar e supervisionar o processo eleitoral no país, ou seja, pleitos que definem gestores públicos e representantes da sociedade.
"Fui procurar saber como é apurada [a Mega Sena]. É da mesma forma que está sendo proposta pelas Forças Armadas [ao TSE]. (...) Vou propor para a Dani, da Caixa, mais gente para ver essa apuração. Não tem como você fraudar."
De acordo com o presidente, o sistema de apuração envolve dois computadores, sendo que um realizaria o backup do outro sem uma "ligação" direta entre eles. A apuração seria pública e feita de forma simultânea nas duas máquinas. Bolsonaro não explicou com clareza os detalhes do modelo que ele considera ser mais seguro do que a urna eletrônica.
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