Bolsonaro falta a evento e constrange presidente de Portugal pela 4ª vez
Do UOL, em Brasília
09/09/2022 04h00Atualizada em 09/09/2022 10h58
O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, viveu ontem (8) mais um episódio de constrangimento provocado pelo presidente brasileiro e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL).
De última hora, Bolsonaro decidiu não comparecer à sessão solene do Congresso realizada em homenagem ao bicentenário da Independência, com a presença de Rebelo e de outras autoridades estrangeiras. Desde julho, esta é a quarta vez que o chefe de Estado europeu se vê em maus lençóis na relação diplomática envolvendo o colega brasileiro.
A recepção coube aos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Luiz Fux, que está de saída do comando do STF (Supremo Tribunal Federal), também esteve no Parlamento.
No mesmo horário em que deveria estar prestigiando a sessão solene, Bolsonaro recebia alunos de uma escola de Brasília no Palácio da Alvorada, a residência oficial do líder do Executivo federal.
"Sem dedinho também faz o mal". O candidato à reeleição aproveitou a ocasião para atacar o adversário nas urnas Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmando às crianças que "o sem dedinho também faz o mal" (um comentário em tom jocoso, alusivo ao fato de o petista ter perdido um dos dedos em um acidente de trabalho em 1964).
Em seguida, Bolsonaro levou o grupo de alunos para conhecer uma área externa do Alvorada, com um amplo jardim. "A casa é muito grande", disse ele, e as crianças riram. "Olha lá que galinha gigante!", brincou, em outro momento, apontando para uma ema.
Pacheco constrangido. Após o evento no Parlamento, em entrevista à imprensa, Pacheco não escondeu o constrangimento e respondeu que a presença do presidente da República "faz falta" quando "haja a contraparte", em referência ao governante português. Afirmou ainda que "a opção de não vir" deveria ser questionada ao próprio Bolsonaro.
Rebelo parou rapidamente para atender jornalistas, porém se esquivou das indagações sobre a ausência de Bolsonaro na sessão solene.
O UOL tentou entrar em contato com a Embaixada de Portugal no Brasil, porém não houve sucesso. A reportagem será atualizada assim que houver um pronunciamento.
Atraso de uma hora. Na noite de terça-feira (6), Bolsonaro e Rebelo tiveram uma agenda bilateral na sede do Itamaraty, em Brasília. O brasileiro, no entanto, chegou para o encontro com mais de uma hora de atraso —fato que foi relatado pela imprensa portuguesa.
Luciano Hang em destaque. Na quarta, feriado de 7 de setembro marcado pelos festejos militares em celebração dos 200 anos da Independência, o presidente de Portugal esteve com Bolsonaro durante o desfile realizado na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
A participação dele, por si só, já suscitava comentários na mídia portuguesa devido ao tom político-eleitoral do evento a expectativa pelo discurso do candidato à reeleição. Por exemplo, autoridades como Pacheco, Lira e Fux optaram por não comparecer.
O constrangimento começou cedo. Enquanto Exército, Marinha e Aeronáutica exibiam seus equipamentos, os dois chefes de Estado pouco conversaram. Em alguns momentos, Bolsonaro chegou a ficar de costas para Rebelo e interagir com ministros e apoiadores que estavam ao seu redor. Rebelo manteve-se com uma expressão fechada e com os olhos voltados para o desfile militar.
A situação ficou ainda pior quando o presidente brasileiro quebrou o protocolo e colocou Luciano Hang, dono da varejista Havan e apoiador bolsonarista, posicionado entre ele e Rebelo.
Trajado com terno nas cores verde e amarelo, Hang exibiu-se para o público durante todo o evento. Ele é um dos oito empresários investigados pela Polícia Federal por supostas declarações golpistas em um grupo de WhatsApp.
Almoço desmarcado. Em julho, Bolsonaro desmarcou um almoço que estava agendado com Rebelo para o dia 4. Na ocasião, o português estava no Brasil em função do centenário do primeiro voo pelo Atlântico feito por Sacadura Cabral e Gago Coutinho.
O chefe do Executivo brasileiro decidiu cancelar o compromisso após saber que Rebelo iria se encontrar com o ex-presidente Lula, adversário nas urnas em outubro, na Bienal do Livro, em São Paulo.
Posteriormente, o político português tentou amenizar o constrangimento em declaração à imprensa. "Não se morre porque um almoço foi cancelado. Não há drama nisso", afirmou. "Quem convida para almoçar é que decide se quer almoçar ou não."