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Bonde de miliciano que apoiou ministra de Lula foi ligado a cem mortes

Da esquerda para direita: a atual ministra Daniela Carneiro, Giane do Jura (esposa do miliciano), o deputado estadual Márcio Canella e o miliciano Jura durante ato de campanha em 2018 - Reprodução/Facebook
Da esquerda para direita: a atual ministra Daniela Carneiro, Giane do Jura (esposa do miliciano), o deputado estadual Márcio Canella e o miliciano Jura durante ato de campanha em 2018 Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, no Rio

05/01/2023 04h00

A milícia chamada Bonde do Jura foi ligada a uma centena de assassinatos na Baixada Fluminense na década de 2000, de acordo com investigações da Polícia Civil do RJ.

Condenado por chefiar a quadrilha, o ex-PM Juracy Alves Prudêncio, o Jura, apoiou pessoalmente em 2018 a candidatura a deputada federal da recém-empossada ministra do Turismo. Em 2022, quando Daniela Carneiro (União Brasil) foi reeleita como a maior votação do RJ e Jura se encontrava preso, a ex-vereadora Giane do Jura, esposa do miliciano, fez ativamente campanha para Daniela.

Jura foi preso pela Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), responsável pelo combate às milícias no Rio, em 2009. Na época, sua quadrilha controlava cinco bairros de Nova Iguaçu, além de atuar em áreas de outras três cidades da Baixada Fluminense.

Eles [a milícia de Jura] são responsáveis por pelo menos cem mortes."
Jorge Gerhard, chefe do Serviço de Inteligência da Draco à época da prisão

  • Jura --que ainda se encontra preso-- foi condenado a 26 anos de prisão por homicídio e associação criminosa -- ele foi considerado culpado por assassinar um homem que se desentendeu com integrantes da milícia;
  • Em 2017, passou ao regime semiaberto e deixou a cadeia para trabalhar na Prefeitura de Belford Roxo;
  • A nomeação ocorreu na gestão de Waguinho (União Brasil), marido de Daniela Carneiro, até hoje prefeito de Belford Roxo;
  • Jura foi cedido por dois anos para a Alerj para trabalhar como segurança do então deputado estadual Wolney Rocha;
  • Em 2020, após suspeitas de irregularidades em folhas de ponto, a Justiça determinou que Jura voltasse à prisão;
  • O miliciano foi identificado pela CPI das Milícias da Alerj como chefe de milícia em 2008;
  • Em 2011, Juracy foi expulso da Polícia Militar;

Em outro processo de homicídio a que responde —ainda sem condenação— Juracy foi definido pelo Ministério Público do RJ como "líder de atuante e violenta organização criminosa".

Ele já foi condenado por homicídio e organização criminosa. Além disso, em sua ficha, Jura tem registros em delegacias dos seguintes crimes:

  • Homicídio qualificado;
  • Tentativa de homicídio;
  • Formação de quadrilha;
  • Associação criminosa;
  • Compra de votos;
  • Falsidade ideológica eleitoral;

Ameaças a autoridades

De acordo com investigações da Polícia Civil e da CPI das Milícias, Jura tem um longo histórico de ameaças contra policiais e políticos no RJ.

  • O miliciano tentou se eleger vereador em Nova Iguaçu em 2008 pelo PRP;
  • Investigação da PF o acusou de compra de votos e falsidade ideológica eleitoral durante a campanha;
  • Como represália, o miliciano planejou matar o delegado federal Robson Dartagnan Nunes Barbosa, então chefe da Delegacia da PF em Nova Iguaçu;
  • Apesar de ter tido votação expressiva --9.335 votos--, ele não conquistou o mandato porque seu partido não alcançou o quociente eleitoral;
  • A derrota fez com que Jura ameaçasse de morte o então deputado federal e ex-prefeito de Nova Iguaçu Nelson Bornier por "tê-lo colocado no partido fraco", segundo a CPI das Milícias;
  • Segundo foi noticiado na época da prisão de Jura, ele também teria ameaçado de morte Marcelo Freixo, presidente da CPI das Milícias;
  • Hoje presidente da Embratur e subordinado a Daniela, Freixo afirmou ao UOL não se lembrar de ter sido ameaçado de morte por Jura;
  • O miliciano também ameaçou agentes da Corregedoria da PM e policiais civis que o investigavam;

O que dizem Jura e Daniela

Ela [Daniela] ressalta que o apoio político não significa que ela compactue com qualquer apoiador que porventura tenha cometido algum ato ilícito. Daniela Carneiro salienta que compete à Justiça julgar quem comete possíveis crimes
Nota da assessoria de Daniela Carneiro

A ministra disse também que não tem nenhuma relação com a contratação de Jura em Belford Roxo.

Luan Palmeira, advogado de Jura, afirmou que o ex-PM "não nutre qualquer vínculo com atividades criminosas". Disse ainda que Giane é "política de grande estima" e "jamais teve seu nome envolvido em qualquer ato de promiscuidade no desempenhar da vida pública".