Lula cobra ação enérgica das Forças Armadas e pressão sobre Múcio aumenta
Os atos golpistas em Brasília aumentaram a pressão sobre o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que chefia as Forças Armadas. Para o governo, se a falta de ação da PM-DF (Polícia Militar do Distrito Federal) para conter os bolsonaristas terroristas foi duramente criticada, houve também certa conivência por parte das FAs —que não agiram contra os golpistas acampados.
Pelo contrário. Na última madrugada o Exército impediu que a PM entrasse no acampamento em frente ao QG, em Brasília, e prendesse os envolvidos —mesmo depois que os terroristas haviam depredado as sedes dos três Poderes.
Múcio é próximo das Forças Armadas e, mais ligado à centro-direita, teve seu nome indicado por Lula exatamente por isso. A nomeação não agradou a cúpula petista —e só piorou quando ele declarou que as aglomerações em quartéis seriam "manifestações democráticas".
Múcio vem falando isso desde antes da posse, quando deu entrevista junto ao ministro da Justiça, Flávio Dino, e o governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Dino tem defendido a desmobilização nos locais desde que foi indicado à pasta, mas também deixava claro que, por se tratar de área militar, qualquer ação caberia a Múcio.
Desde o episódio da bomba localizada nas proximidades do aeroporto da capital federal, Dino vinha defendendo que os casos fossem vistos como terrorismo. Questionado em coletiva pós-atos sobre se os dois estavam na mesma página, o ministro respondeu que "na tarde de ontem, sim".
Entre petistas e aliados que viram com atenção a indicação de Múcio, já havia a reclamação que o ministro não tinha agido tão energicamente para que os golpistas deixassem as portas das casernas. Até então, Lula não havia se posicionado.
Com os atos, tudo mudou. Desde a madrugada, o presidente, que estava em Araraquara (SP) no momento da invasão, tem cobrado medidas enérgicas das Forças Armadas e de Múcio.
Ele se encontrou com o ministro ontem e hoje se reuniu oficialmente com ele e os três comandantes das Forças Armadas —general Júlio Cesar de Arruda (Exército), almirante Marcos Olsen (Marinha) e brigadeiro Marcelo Damasceno Aeronáutica)— no Planalto.
Segundo interlocutores, Lula reforçou a confiança que tem nos nomes indicados ao comando, mas cobrou ação. Com ameaças golpistas, a orientação é que as forças de segurança não podem titubear.
Pessoas próximas dizem que não há risco de qualquer um ser tirado do cargo, visto que isso só aumentaria a crise institucional. Mas o presidente deixou claro que não vai aceitar inação.
Segundo Dino, as duas prioridades após estabilizar a situação são:
- Abrir inquéritos para identificar e investigar todos os envolvidos diretamente e indiretamente nos atos --ou seja, não só os que participaram dos atos terroristas como seus financeiadores.
- Criar mecanismos para impedir qualquer episódio semelhante em qualquer lugar do país.
Para esta segunda prioridade, Lula convocou uma reunião com todos os governadores para o fim da tarde de hoje. O objetivo é criar ações coordenadas —com ajuda das Forças Armadas— para mapear e impedir que grupos se mobilizem pelo país.
Só nos atos de ontem, foram identificados mais de 40 ônibus de outros locais que chegaram à capital federal.
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