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Deputada trans ataca ódio em fala transfóbica e manda 'beijinho' a Nikolas

A deputada Duda Salabert rebateu o discurso de ódio do deputado Nikolas Ferreira - Reprodução/Instagram
A deputada Duda Salabert rebateu o discurso de ódio do deputado Nikolas Ferreira Imagem: Reprodução/Instagram

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/03/2023 21h07

A deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) rebateu o discurso de ódio e transfóbico proferido hoje (8) pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Pelas declarações preconceituosas, o parlamentar foi alvo de pelo menos duas ações no STF com pedido de cassação de seu mandato.

O que aconteceu:

  • Ao tomar a palavra no plenário da Câmara, Salabert repudiou e atacou o ódio gratuito de Nikolas que ironizou mulheres transexuais ao discursar sobre o Dia Internacional da Mulher, e ainda mandou um "beijinho" para o político bolsonarista;
  • Duda exaltou sua trajetória política e reforçou que o ódio de Nikolas, eleito pelo mesmo estado que o seu, não impediu que ela fosse a deputada federal mais votada da história de Minas Gerais;
  • Salabert reforçou a importância de políticas públicas para combater "a estrutura de ódio" que afasta transexuais de terem seus direitos garantidos;
  • Ela disse sonhar com uma sociedade que respeite a diversidade e promova justiça social;
  • A parlamentar lembrou que "há 14 anos consecutivos, O Brasil o país que mais mata travestis e transexuais no planeta, e que 80% desses assassinatos ocorreram e ocorrem com a violência exagerada".

Dificilmente uma travesti é morta com um tiro só no Brasil, só com uma facada. É crime de ódio, e é essa estrutura de ódio que nos exclui do mercado formal de trabalho, já que 90% das travestis estão na prostituição, é essa estrutura de ódio que nos exclui da sala de aula, porque 91% das travestis e transexuais não concluíram o ensino médio; é essa estrutura de ódio que nos exclui do espaço político, mas eu digo para esses fascistas que querem nos ridicularizar, que nós somos o tamanho dos nossos desejos, nós somos o tamanho dos nossos sonhos."

A também deputada federal trans Erika Hilton discursou e, assim como Duda, reforçou a necessidade de que os direitos previstos na Constituição sejam "estendidos ao conjunto plural e diverso de todas as mulheres brasileiras".

  • Erika afirmou que ela e Duda representam a comunidade trans no Congresso e que não há democracia se todos os indivíduos não tiverem representação no Legislativo;
  • Conclamou os parlamentares a formularem políticas pensadas em proteger as mulheres, com mais dignidade, respeito e segurança para todas para combater a misoginia e a transfobia;
  • Hilton também ressaltou a necessidade de "não transformar em guerras ideológicas" as pautas que são sobre as vidas das mulheres.

É preciso enfrentar a violência que nos acomete, lembrar que ainda vivemos no primeiro país do mundo que mais mata e mata de forma cruel e violenta mulheres como eu, meninas como eu que aos 13, 14 anos, assim como eu, foram jogadas nas ruas, vivem da prostituição. É preciso que haja um esforço desta casa, da sociedade, para resgatar a nossa humanidade, para resgatar a nossa dignidade."

O que Nikolas falou:

  • De peruca loira, Ferreira ironizou as pessoas trans, disse se considerar uma mulher e defender o direito de "um pai não querer que um marmanjo de dois metros de altura entre no banheiro da filha sem ser considerado um transfóbico";
  • Ele tirou a peruca e disse, em zombaria, que é gênero fluido;
  • Declarou também que as mulheres não devem nada ao feminismo, e que o movimento que defende igualdade entre gêneros "exalta mulheres que nunca fizeram nada pelas mulheres";
  • O deputado terminou o discurso com uma fala machista, elogiando as mulheres que têm filhos e formam família. Ele foi aplaudido;
  • A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) rebateu Nikolas, o chamou de "moleque", e reforçou que pedirá a cassação do parlamentar.

Além dela, a bancada do PSOL disse que enviará notícia-crime ao STF por crime de transfobia cometido pelo parlamentar. A prática foi equiparada ao crime de racismo, e passou a ser tratada como crime hediondo pelo Supremo em 2019.

Nikolas Ferreira já responde por transfobia

  • Desde fevereiro deste ano, o deputado responde por injúria racial após chamar a deputada Duda Salabert (PDT-MG) de "ele". Duda é uma mulher trans;
  • "Ele é homem. É isso o que está na certidão dele, independentemente do que ele acha que é", afirmou Ferreira em entrevista em dezembro de 2020, quando ambos eram vereadores de Belo Horizonte;
  • Nas redes sociais, Duda Salabert comemorou a decisão. "Posição importante do TJMG que afirma que ofensas transfóbicas são crime de racismo, como decidido pelo STF";
  • Ao lado de Erika Hilton, Duda Salabert é a primeira parlamentar transgênero da história do Congresso Nacional.