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Bolsonaro deixa motociatas de lado em viagens pelo Brasil

Do UOL, em Brasília

29/04/2023 04h00

As viagens de Jair Bolsonaro (PL) pelo Brasil começam neste feriadão, numa feira no interior de São Paulo, mas sem motociatas. Não por falta de vontade do ex-presidente, mas a logística fica complicada sem o uso da máquina pública.

O que aconteceu

Bolsonaro manifestou o interesse em retomar as motociatas. Os eventos são uma marca do ex-presidente, realizados enquanto ele ocupava o cargo máximo do Executivo e intensificados durante a corrida presidencial.

Apesar disso, o formato não tem simpatia de parte dos aliados de Bolsonaro. Ao final das discussões, a opinião deste grupo prevaleceu.

Os argumentos que pesaram na decisão

A necessidade de mobilizar um contingente de forças de segurança foi contemplada. Os custos dessa operação ficariam a cargo do PL, agora sem a faixa presidencial.

O grande número de infrações de trânsito que poderiam ocorrer também foi levantado. O próprio Bolsonaro não usava capacete, comportamento copiado por muitos participantes. Andar em cima da calçada também era comum.

A avaliação é que, com Lula no Planalto e Flávio Dino no Ministério da Justiça, as infrações de trânsito não seriam toleradas. Autoridades e apoiadores iriam enfrentar problemas ao participar dos eventos.

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Parte do entorno de Bolsonaro tinha resistências às motociatas por entender que evento era muito masculino
Imagem: Reprodução/Twitter

O terceiro argumento contra foi o estigma da derrota das eleições. A intenção de agora é que as aparições de Bolsonaro tenham os ares renovados para a nova rodada de viagens pelo país. Motociatas foram colocadas na geladeira —pelo menos por enquanto.

O que os interlocutores de Bolsonaro não comentaram é que as motociatas estão vinculadas a um episódio de desgaste para o ex-presidente: o uso do cartão corporativo para pagar despesas de campanha. Ele bancou ao menos 21.447 lanches em viagens de campanha para reeleição, incluindo motociatas.

Foram constatados gastos de R$ 754 mil. O dinheiro público pagou por centenas de kits-lanche destinados a militares e policiais escalados para dar apoio de segurança aos atos de campanha de Bolsonaro.

O que dizem os que torcem o nariz para motociatas

Há também a leitura de que as motociatas são um "evento de homem, que afasta o público feminino e reforça a imagem de bronco de Bolsonaro".

Durante a campanha, esse grupo de aliados dizia que o formato não trazia votos, porque só participavam eleitores que já apoiavam Bolsonaro. Além disso, tinha o efeito de prejudicar a imagem de Bolsonaro com as mulheres.

A então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, evitava acompanhar o marido em viagens de campanha que incluíam motociatas, justamente por entender que eram eventos masculinos. A situação ainda afastava a principal cabo eleitoral de Bolsonaro.

O que dizem os defensores dos atos com moto

Mas o formato também teve defensores, já que reunia centenas de pessoas e era bastante ruidoso. A consequência era toda a população local saber que o ex-presidente estava na área.

As imagens obtidas com as motociatas eram consideradas preciosas para as redes sociais. Uma aglomeração de apoiadores usando verde e amarelo resultava em vídeos e fotos que eram usadas no Instagram e grupos de WhatsApp e Telegram.

Preparação para 2026

As bandeiras de Bolsonaro serão a parte principal da mensagem nas viagens pelo Brasil. A intenção é começar aglutinar eleitores e políticos que apoiam o ex-presidente e assim organizar a direita.

A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou que a mensagem de Bolsonaro é que a direita não morreu só porque perdeu a eleição. O primeiro objetivo será eleger vereadores e prefeitos alinhados ao bolsonarismo.

Estas pessoas com cargo público servirão de base para eleição de deputados estaduais, federais e senadores em 2026.