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Assessores de Bolsonaro alvos da PF multiplicaram ganhos em viagens aos EUA

Eduardo Militão e Luiz Fernando Toledo

Do UOL, em Brasília, e da Agência Fiquem Sabendo

14/05/2023 04h00

Assessores de Jair Bolsonaro (PL) alvos de operação da Polícia Federal multiplicaram seus ganhos mensais durante viagens aos EUA com o ex-presidente entre o fim de dezembro e março passado. Ao todo, quatro assessores investigados embolsaram quase R$ 400 mil em diárias —mais do que o dobro do que ganharam com essa verba extra durante o mandato. Os dados são do Portal da Transparência, consultados pelo UOL e pela Agência Fiquem Sabendo.

Custo das viagens aos EUA

Pagos pelo governo federal, o PM Max Guilherme Moura e os militares Sérgio Cordeiro, Mauro Cid e Marcelo Câmara foram a Orlando (EUA) para assessorar Bolsonaro após ele deixar o país em 30 de dezembro. Os três primeiros foram presos e o quarto foi alvo de busca e apreensão neste mês por suspeita de participação em esquema de fraude de certificados de vacinação antes da ida aos EUA.

O custo total para os cofres públicos com diárias e passagens aéreas dos quatro investigados foi de R$ 467 mil ao longo dos três meses em que Bolsonaro permaneceu nos EUA —85% desse valor é relativo a diárias.

O que são as diárias? São valores pagos pelo governo a servidores em viagens a trabalho para cobertura de despesas como hotéis e alimentação.

O governo pagou ao todo R$ 397 mil em diárias aos quatro assessores em solo norte-americano. Durante todo o governo Bolsonaro, os mesmos assessores receberam em diárias menos da metade desse valor (R$ 174 mil).

Um dos motivos da diferença é que, no exterior, as diárias são pagas em dólar.

Três dos assessores —os quais permaneceram mais tempo em Orlando com Bolsonaro— viram seus ganhos mensais se multiplicarem entre quatro e sete vezes, considerando seus salários de assessores de ex-presidente (veja valores abaixo).

Os assessores se revezaram para ir a Orlando. Durante os 90 dias que Bolsonaro esteve nos EUA, Max ficou 64 dias; Cordeiro e Câmara, 63 dias cada um, e Mauro Cid, dois dias.

Um quinto assessor investigado pela PF, o segundo-sargento Luis Marcos dos Reis, também ganhou diárias durante o mandato de Bolsonaro. Ao todo, o governo gastou R$ 727 mil em passagens e diárias de cinco investigados entre 2019 e março passado.

Até o momento, mesmo detidos, todos eles continuam no cargo de assessores do ex-presidente recebendo seus salários.

Diárias e salários dos assessores investigados

O valor da diária em viagens no Brasil varia de R$ 300 a R$ 500, dependendo do cargo do servidor e do tamanho da cidade visitada.

Câmbio. Já em viagens ao exterior, a diária é calculada em dólar. Nos EUA, vai de US$ 350 (R$ 1.746, pela cotação atual) a US$ 460 (R$ 2.294).

Renda extra. Militares ouvidos pelo UOL disseram que um dos principais atrativos para ser assessor de presidente é o recebimento de diárias durante viagens porque, na prática, isso se converte em um ganho extra no salário.

Pelas leis brasileiras, todo ex-presidente tem direito a oito assessores para acompanhá-lo por toda a vida, além de dois carros oficiais. O salário deles é bancado pelo governo federal.

Os rendimentos do auxiliares de Bolsonaro investigados pela PF são:

Max Guilherme Moura: salário de R$ 6.681 brutos (assessor de ex-presidente) mais aposentadoria como PM aposentado do RJ (o UOL não identificou o valor dessa remuneração). O total de diárias que ganhou nos EUA (R$ 130 mil) é mais de sete vezes a soma de seus salários líquidos como assessor nos primeiros três meses do ano (R$ 17,8 mil).

Sérgio Cordeiro: salário de R$ 14.081 brutos (assessor de ex-presidente) mais aposentadoria como militar da reserva de R$ 20.553, totalizando R$ 34,6 mil brutos. O total de diárias que ganhou nos EUA (R$ 137 mil) é mais de quatro vezes a soma de seus salários líquidos como assessor (R$ 31 mil) nos primeiros três meses do ano.

Marcelo Câmara: salário de R$ 10.831 brutos (assessor de ex-presidente) mais aposentadoria como militar da reserva de R$ 26.698, totalizando R$ 37 mil brutos. O total de diárias recebidas nos EUA (R$ 128 mil) é cinco vezes a soma de seus salários líquidos como assessor nos primeiros três meses do ano (R$ 24 mil).

Mauro Cid: salário de tenente-coronel de R$ 26.239 brutos. Até dezembro, como ajudante de ordens de Bolsonaro, ele recebia adicional de R$ 1.734 por mês. Cid não foi listado como um dos oito assessores do ex-presidente, mas viajou para os EUA no mesmo dia de Bolsonaro e retornou em 1º de janeiro.

Luís Reis: salário de R$ 9.732 brutos como militar da reserva. Ele não foi listado como um dos oito assessores. Reis não viajou aos EUA.

Outro lado

O UOL procurou os cinco investigados por meio dos advogados deles, telefones, redes sociais e endereços eletrônicos registrados em nome deles, além de familiares e conhecidos, mas não houve retorno. Os esclarecimentos serão publicados se recebidos.

Rodrigo Roca, o antigo advogado de Cid, disse à TV Globo que não houve "qualquer intervenção por parte do presidente Bolsonaro" na suposta fraude nos cartões de vacinação. Ele pediu que o STF solte o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Bolsonaro negou fraude nos cartões e disse que nunca foi vacinado. "Não existe adulteração. Eu não tomei a vacina e ponto final. Nunca neguei isso", afirmou após ter o celular apreendido pela PF.