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'Calor da emoção', 'fala com amigo': coronel justifica mensagens golpistas

Carolina Nogueira

Colaboração para o UOL, em Brasília

27/06/2023 13h01Atualizada em 27/06/2023 13h01

A relatora da CPMI do 8 de janeiro, Eliziane Gama (PSD-MA), questionou o coronel do Exército Jean Lawand Júnior sobre as mensagens com teor golpista trocadas com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O que aconteceu?

A senadora se baseou em relatório da Polícia Federal divulgado pela revista "Veja". Lawand negou em todas as suas respostas que tenha falado em golpe de Estado e disse que esperava uma "ordem de apaziguamento" de Bolsonaro.

Afirmo aos senhores que em nenhum momento falei sobre golpe, atentei contra a democracia brasileira ou quis quebrar, destituir, agredir qualquer uma das instituições.
Jean Lawand Jr., coronel do Exército

Eliziane pediu que Lawand explicasse a mensagem para Cid: "Ele tem que dar a ordem, irmão. Não tem como não ser cumprida". Na sequência, o coronel teria dito que o Exército não poderia fazer nada, porque seria visto como "golpe" e estava "nas mãos do presidente".

"Em nenhum momento eu falei 'golpe'. Eu falei 'ordem'. 'Ordem', volto a dizer à senhora, é manifestação. O que eu quis dizer foi a ordem para que presidente da República apaziguasse o país", justificou Lawand.

De acordo com Eliziane, no dia 1º de janeiro, o coronel disse a Cid: "Então, ferrou. Vai ter que ser pelo povo mesmo".

Lawand afirmou que Bolsonaro não daria nenhuma ordem e o povo teria que se "conscientizar".

"Vir pelo povo: é o povo que vai ter que se conscientizar de que não haverá nenhuma ordem presencial, de que não será atendido naquilo que pleiteia e que terá que retornar para as suas casas e fazer o Brasil continuar. Essa foi a minha intenção nessa frase", afirmou.

Em outro momento da troca de mensagens com Cid, Lawand teria dito que, "se a cúpula do EB [Exército Brasileiro] não está com ele, de divisão para baixo está".

O coronel justificou dizendo que a fala foi "muito infeliz" e se equivocou.

"Essa fala foi muito infeliz minha. Quando eu disse que o Exército Brasileiro não faria, eu me equivoquei. Eu me redimo disso, é uma coisa que eu falei errado. É uma opinião minha, mas eu acredito, sim, que, se o presidente desse a ordem para apaziguar o país, o Exército atuaria, as forças de segurança atuariam, o povo entenderia que não haveria nada, como não aconteceu, e retornaria aos seus lares, às suas casas", disse.

Minha função [no Exército] é burocrática. Não tinha motivação, capacidade ou força para fazer qualquer atentado ou motivar pessoas a fazê-lo.
Jean Lawand Jr.

Eliziane insistiu sobre o envolvimento do Alto Comando do Exército e Laward afirmou que escreveu a mensagem no "calor da emoção": "Opinião minha no calor da emoção, mas eu tenho certeza de que, se a ordem fosse dada, todas as instituições do país colaborariam para que aquelas pessoas voltassem à sua tranquilidade, à sua rotina."

Coronel disse que as mensagens foram trocadas "no privado" com um "amigo". "Eu sou um simples coronel conversando num grupo de WhatsApp com um amigo. Não tinha comandamento, não tinha condições, não tinha motivação para qualquer tipo de golpe."

Segundo Lawand, ele não tem contato com ninguém do Alto Comando do Exército. "A minha intenção é dizer que nessa colocação eu fui muito infeliz. Não deveria tê-la feito, está OK? E não posso, na minha condição de coronel, dizer o que pensa o Alto Comando. O Alto Comando é o responsável pela condução do Exército Brasileiro", disse.

Lawand podia ficar em silêncio durante o depoimento, mas disse estar à disposição para responder às perguntas dos parlamentares. Como testemunha, ele não é obrigado a produzir provas contra si mesmo.

Deputados e senadores governistas acusaram Lawand de mentir à CPI, o que poderia render prisão em flagrante —antes de depor, ele jurou que diria a verdade.

O presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), disse que, como o depoente não é obrigado a produzir provas contra si mesmo, não poderia julgar se ele está dizendo a verdade ou não e não via motivo para prisão.

Lembre mensagens enviadas por Lawand a Mauro Cid

Convença o 01 a salvar esse país!
Jean Lawand Junior, em referência a Bolsonaro

Cid, pelo amor de Deus, o homem [Bolsonaro] tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB [Exército Brasileiro] não está com ele, da divisão para baixo está. Assessore e dê-lhe coragem.
Jean Lawand Junior

Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente vai ser preso. E, pior, na Papuda, cara.
Jean Lawand Junior

De moto [sic] próprio o EB nada vai fazer porque será visto como golpe. Então, está nas mãos do PR [presidente].
Mensagem encaminhada por Lawand, supostamente escrita por um amigo do Exército