Caíram cápsulas na minha cabeça, disse Élcio sobre tiros em Marielle
Do UOL, no Rio e em São Paulo
24/07/2023 15h45Atualizada em 24/07/2023 19h47
O ex-PM Élcio de Queiroz descreveu à polícia, em delação premiada, o momento em que a ex-vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Torres foram assassinados, em março de 2018.
O que aconteceu
No depoimento, Élcio afirmou que dirigia o carro que emparelhou com o veículo onde estavam Marielle e Anderson. Élcio disse que foi o parceiro Ronnie Lessa, do banco de trás do carro, que atirou na ex-vereadora.
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Segundo Élcio, Lessa estava com uma touca ninja e casaco preto com detalhes em vermelho e branco e baixou o vidro traseiro do carro assim que os veículos se alinharam. Nesse momento Élcio diz ter ouvido uma rajada de tiros.
Ele [Lessa] já estava com o vidro aberto e eu só escutei a rajada; da rajada, começou a cair umas cápsulas na minha cabeça e no meu pescoço (...). Aí caíram as cápsulas em mim e ele falou 'vambora'; eu nem vi se acertou quem, se não acertou.
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Élcio disse ter sido recrutado no dia do crime
Também na delação, o ex-PM disse que foi chamado para participar do assassinato no próprio dia do crime, 14 de março. Ele conta que recebeu mensagem de Lessa por volta de meio-dia. Mais tarde, foi de carro ao encontro do colega.
Élcio disse que só dentro do carro com Lessa, a caminho do local do crime, é que ele soube que o alvo era Marielle. Segundo o delator, Lessa apenas o orientava sobre o caminho a seguir, mas não deu detalhes da motivação do assassinato.
No início da noite, a dupla parou perto da Casa das Pretas, um espaço coletivo de mulheres negras na Lapa, centro do Rio. Na delação, Élcio disse que Lessa pensou em executar Marielle naquele local.
No entanto, Élcio e Lessa seguiram o carro das vítimas pelas ruas do Rio e o assassinato ocorreu cerca de duas horas depois. Marielle e Anderson foram mortos no bairro do Estácio, por volta das 21h30.
Eu já sabia que era execução. Quando a senhora [Marielle] apareceu, ele [Lessa] falou assim, com essas palavras: "Tô pensando em pegar aqui mesmo". Pegar a gente já sabe que é matar; aí eu falei: tá louco, fazer isso aqui no meio.
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Élcio Queiroz prestou os depoimentos em junho passado, mais de 5 anos após o crime. O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que ele receberá os benefícios da delação, mas continuará preso. Os termos da colaboração estão sob sigilo.
Com base nos depoimentos, a PF deflagrou hoje (24) a operação Élpis, com um mandado de prisão preventiva e sete de busca e apreensão. O ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, foi preso.
Na delação, Élcio afirma que foi Lessa quem atirou em Marielle e Anderson. Élcio diz que foi recrutado por Lessa no próprio dia do crime e que dirigiu o carro usado na ocorrência. O ex-PM narrou em detalhes a noite do assassinato.
O delator diz ter recebido R$ 1 mil após servir de motorista para Lessa. Ele afirma que os dois foram em um bar, após o assassinato, e só lá ele soube que o motorista Anderson também tinha morrido.
Élcio destacou, também, que a arma usada no crime tem origem no Bope, o batalhão especial da PM do Rio. O armamento, uma submetralhadora MP5, teria sido extraviada após um incêndio em um paiol da PM.
Para autoridades que acompanham o caso, a delação não resolve dúvidas sobre o crime. O presidente da Embratur, Marcelo Freixo, disse estar convencido de que o crime tem um mandante. A ministra Anielle Franco, irmã de Marielle, disse acreditar que não existe apenas motivação política no episódio.