Caíram cápsulas na minha cabeça, disse Élcio sobre tiros em Marielle

O ex-PM Élcio de Queiroz descreveu à polícia, em delação premiada, o momento em que a ex-vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Torres foram assassinados, em março de 2018.

O que aconteceu

No depoimento, Élcio afirmou que dirigia o carro que emparelhou com o veículo onde estavam Marielle e Anderson. Élcio disse que foi o parceiro Ronnie Lessa, do banco de trás do carro, que atirou na ex-vereadora.

Segundo Élcio, Lessa estava com uma touca ninja e casaco preto com detalhes em vermelho e branco e baixou o vidro traseiro do carro assim que os veículos se alinharam. Nesse momento Élcio diz ter ouvido uma rajada de tiros.

Ele [Lessa] já estava com o vidro aberto e eu só escutei a rajada; da rajada, começou a cair umas cápsulas na minha cabeça e no meu pescoço (...). Aí caíram as cápsulas em mim e ele falou 'vambora'; eu nem vi se acertou quem, se não acertou.
Élcio de Queiroz, em delação, sobre morte de Marielle Franco

Élcio disse ter sido recrutado no dia do crime

Também na delação, o ex-PM disse que foi chamado para participar do assassinato no próprio dia do crime, 14 de março. Ele conta que recebeu mensagem de Lessa por volta de meio-dia. Mais tarde, foi de carro ao encontro do colega.

Élcio disse que só dentro do carro com Lessa, a caminho do local do crime, é que ele soube que o alvo era Marielle. Segundo o delator, Lessa apenas o orientava sobre o caminho a seguir, mas não deu detalhes da motivação do assassinato.

No início da noite, a dupla parou perto da Casa das Pretas, um espaço coletivo de mulheres negras na Lapa, centro do Rio. Na delação, Élcio disse que Lessa pensou em executar Marielle naquele local.

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No entanto, Élcio e Lessa seguiram o carro das vítimas pelas ruas do Rio e o assassinato ocorreu cerca de duas horas depois. Marielle e Anderson foram mortos no bairro do Estácio, por volta das 21h30.

Eu já sabia que era execução. Quando a senhora [Marielle] apareceu, ele [Lessa] falou assim, com essas palavras: "Tô pensando em pegar aqui mesmo". Pegar a gente já sabe que é matar; aí eu falei: tá louco, fazer isso aqui no meio.
Élcio de Queiroz, sobre momentos antes da morte de Marielle Franco

Os ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz
Os ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz Imagem: Reprodução

Entenda os avanços do caso Marielle

Élcio Queiroz prestou os depoimentos em junho passado, mais de 5 anos após o crime. O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que ele receberá os benefícios da delação, mas continuará preso. Os termos da colaboração estão sob sigilo.

Com base nos depoimentos, a PF deflagrou hoje (24) a operação Élpis, com um mandado de prisão preventiva e sete de busca e apreensão. O ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, foi preso.

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Na delação, Élcio afirma que foi Lessa quem atirou em Marielle e Anderson. Élcio diz que foi recrutado por Lessa no próprio dia do crime e que dirigiu o carro usado na ocorrência. O ex-PM narrou em detalhes a noite do assassinato.

O delator diz ter recebido R$ 1 mil após servir de motorista para Lessa. Ele afirma que os dois foram em um bar, após o assassinato, e só lá ele soube que o motorista Anderson também tinha morrido.

Élcio destacou, também, que a arma usada no crime tem origem no Bope, o batalhão especial da PM do Rio. O armamento, uma submetralhadora MP5, teria sido extraviada após um incêndio em um paiol da PM.

Para autoridades que acompanham o caso, a delação não resolve dúvidas sobre o crime. O presidente da Embratur, Marcelo Freixo, disse estar convencido de que o crime tem um mandante. A ministra Anielle Franco, irmã de Marielle, disse acreditar que não existe apenas motivação política no episódio.

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