Caso Marielle: Arma usada era do Bope, disse Élcio em delação à PF

O ex-PM Élcio de Queiroz disse, em delação premiada à Polícia Federal, que a arma usada no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes era do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais). O UOL teve acesso à integra da delação.

O que aconteceu

A informação de que a metralhadora MP5 pertencia ao Bope foi dada para Élcio por Ronnie Lessa, apontado como responsável pelos disparos. A metralhadora teria sumido após o paiol do Bope pegar fogo.

Houve um incêndio no Batalhão de Operações Especiais, no paiol, e essa arma foi extraviada. Essa e outras armas foram extravidas nesse incênio aí e essa arma ficou com uma pessoa que eu não sei quem é. Essa pessoa conseguiu fazer a manutenção dela e vendeu pra ele [Ronnie Lessa].
Élcio de Queiroz em delação premiada

O ex-PM disse nao saber com quem Ronnie Lessa conseguiu a arma. "Imagino que possa ser alguém que estava na ativa, na época do incêndio no paiol", afirmou.

Élcio afirmou que a arma não foi comprada para o crime contra a vereadora, mas não soube precisar a data, que pode ser entre cinco ou um ano antes do crime.

PF quer explicações sobre incêndio

A Polícia Federal pediu ofício à Polícia Militar do Rio de Janeiro para saber a quantidade de armas que havia no paiol em 1982 e se houve outros incêndios além do que aconteceu naquele ano.

O UOL teve acesso à resposta. No dia 21 de junho deste ano, a PMERJ informou que não tem registros se houve submetralhadoras do tipo MP5 avariadas em incêndios da corporação.

Também não respondeu sobre a quantidade de submetralhadoras tipo MP5 que havia no arsenal em 1982, quantas foram inutilizadas após o incêndio e se houve investigação sobre extravio, devido a uma enchente que prejudicou documentos em 2016.

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A PMERJ respondeu que há registros de distribuição de metralhadoras do tipo MP5 no ano seguinte, em março de 1983, ao Batalhão de Choque.

Essas armas foram transferidas em 1989 para o Bope. O documento afirma que eram seis metralhadoras HK MP5 A3 e seis MP 5K, ambas de calibre 9 mm.

Em relação aos incêndios e suas investigações, a corporação afirmou que não há informações disponíveis no banco de dados.

Élcio firmou acordo de delação premiada com a PF sobre o caso Marielle. As informações dadas por ele embasaram a operação de hoje, que prendeu o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, no Rio. Os termos da delação não foram divulgados.

Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram mortos a tiros em 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, no Centro do Rio.

Destino das armas

Mais de cinco anos após o crime, a arma usada no assassinato da vereadora não foi encontrada. Na delação, Élcio diz que Lessa poderia ter deixado a submetralhadora com um amigo policial.

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Quando estávamos presos ele me falou que tinha receio, porque havia 'umas coisinhas' dele, conforme ele falou, com o [amigo policial], o que me leva a crer que, diante do 'carinho' que ele tinha pela arma e a forma que ele falou, 'coisinha' poderia ser a arma.
Élcio de Queiroz

Antes disso, Lessa teria dito para Élcio que havia "picado" a arma e jogado no fundo do mar da Barra da Tijuca em "uma parte que dá 30 metros", segundo o ex-PM.

Élcio, entretanto, não acredita nessa versão, porque em uma visita à casa de Lessa encontrou o colega mexendo com um silenciador compatível com o silenciador utilizado na submetralhadora.

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