Aras nega que tenha blindado empresários golpistas, após reportagem do UOL
O PGR (procurador-geral da República), Augusto Aras, refutou a informação, noticiada pelo UOL na quarta-feira (23), de que agiu para proteger Meyer Nigri, dono da construtora Tecnisa, um dos empresários mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Flagrado em mensagens de WhatsApp defendendo um golpe em caso de vitória de Lula, Nigri procurou Aras no ano passado ao saber que poderia ser investigado, segundo apuração do colunista Aguirre Talento.
O PGR lhe disse que iria localizar o processo e, antes de qualquer manifestação nos autos, antecipou seu juízo ao empresário: "Se trata de mais um abuso do fulano [senador Randolfe Rodrigues, de quem partiu o pedido de investigação]".
O que diz o PGR em nota
Aras refutou o conteúdo da reportagem três dias após a publicação. Ele afirmou que fez um "comentário genérico" e ressaltou que não há nenhuma ilegalidade em ter conversado com Nigri.
É falsa e mal-intencionada a informação divulgada pelo UOL de que o procurador-geral tentou barrar investigação sobre conversas de empresários em redes sociais.
Augusto Aras, PGR, por meio de nota
Em momento algum o procurador-geral nega que tenha trocado mensagens com Nigri. Ele afirma que houve vazamento de conversas fora de contexto para criar intrigas políticas e classifica a reportagem como "fake news".
Agentes do Estado se prestem ao papel de vazar conversas telefônicas de forma seletiva e fora de contexto para fomentar intrigas política e ataques pessoais.
A troca de mensagens entre Nigri e Aras
Diálogos interceptados pela Polícia Federal mostram que Nigri acionou Aras quando tomou conhecimento de que poderia ser alvo de uma investigação pela disseminação de mensagens de teor golpista. O pedido de investigação partiu do senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), com base em reportagem do site "Metrópoles".
Aras lhe disse que iria localizar o processo e, antes de qualquer manifestação nos autos, antecipou seu juízo ao empresário: "Se trata de mais um abuso do fulano".
A defesa de Meyer Nigri negou que ele tenha solicitado interferência no pedido de inquérito e disse que o empresário apenas "perguntou a opinião" de Aras sobre a investigação que iria tramitar na PGR.
Três semanas depois desse diálogo, a PGR pediu ao STF o trancamento da investigação aberta contra Nigri e outros empresários, além da anulação de uma operação de busca e apreensão já deflagrada pela PF por ordem do ministro Alexandre de Moraes.
A PF também identificou que Meyer Nigri montou uma rede de contatos dentro a PGR com o objetivo de tentar a "obtenção de proximidade e de facilidades" e usou a relação que tinha com Augusto Aras para lhe apresentar demandas privadas.
Ao analisar o celular de Meyer Nigri, apreendido em agosto do ano passado, a PF encontrou trocas de mensagens entre ele e Aras na defesa desses interesses. Também identificou diálogos do empresário com um assessor da PGR e um encontro com a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo.
A análise das mensagens constantes no aplicativo do WhatsApp demonstraram que o empresário Meyer Nigri se aproveita da proximidade que possui com o sr. Augusto Aras, atual procurador-geral da República, para apresentar demandas privadas e/ou de interesse de grupos específicos (jurídico, políticos e/ou ideológicos)
Relatório da Polícia Federal
A conversa entre Aras e Nigri sobre a investigação:
Meyer Nigri (18/08/2022 - 07:14:20): Bom dia
Meyer Nigri (18/08/2022 - 07:14:33): Pode falar?
Meyer Nigri (18/08/2022 - 07:20:53): "Exclusivo: Empresários bolsonaristas defendem golpe de Estado caso Lula seja eleito; veja zaps" (encaminha link de reportagem)
Meyer Nigri (18/08/2022 - 07:20:53): "Randolfe pede ao STF que PGR avalie prisão de empresários que defenderam golpe" (encaminha link de reportagem)
Meyer Nigri (18/08/2022 - 08:11:23): Que achou?
Augusto Aras (18/08/2022 - 08:12:14): Vou localizar o expediente, pois se trata de mais um abuso do fulano
Meyer Nigri (18/08/2022 - 08:12:23): Concordo
A crítica feita por Aras ao senador, sem citá-lo, deve-se a um histórico de desgastes entre os dois. Aras costumava reclamar, nos bastidores da PGR, sobre o grande número de pedidos de investigação apresentados por Randolfe.
A estratégia de Aras, entretanto, não funcionou porque o ministro Alexandre de Moraes autorizou a operação de busca e apreensão contra empresários sem enviar o processo à PGR para uma manifestação prévia. A decisão do ministro foi proferida no dia 19 de agosto de 2022, um dia após o diálogo entre Aras e Meyer Nigri.
Nota da PGR na íntegra
É falsa e mal-intencionada a informação divulgada pelo Uol de que o procurador-geral tentou barrar investigação sobre conversas de empresários em redes sociais.
O procurador-geral fez apenas um comentário genérico sobre uma questão de natureza política. Não há qualquer irregularidade no diálogo entre o mencionado cidadão e o procurador-geral.
Não há qualquer ato do procurador-geral relacionado a tais investigações. A matéria confunde, de forma intencional, atos de terceiros com o procurador-geral com o claro propósito de forjar um escândalo. Essa prática maliciosa tem nome: chama-se fake news.
No mais é lamentável que agentes do Estado se prestem ao papel de vazar conversas telefônicas de forma seletiva e fora de contexto para fomentar intrigas política e ataques pessoais.
A tática de produzir escândalos nos jornais para turbinar investigações para destruir reputações é mesquinha e só trouxe prejuízos às instituições e à sociedade como mostra a recente história do país.