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Bolsonarismo usa aborto e drogas para desviar foco de escândalo das joias

Do UOL, em Brasília

30/08/2023 04h00Atualizada em 30/08/2023 08h50

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) exaltou em evento em Belo Horizonte, na última segunda, ser contra o aborto, a liberação das drogas e questões de gênero. Os temas são os mesmos levantados por parlamentares da oposição para desviar a atenção dos escândalos e inquéritos contra o aliado. Amanhã (31), ele depõe pela quinta vez para a Polícia Federal, desta vez sobre as joias e os presentes recebidos durante seu mandato.

É claro que é uma jogada, uma tentativa de desviar de assunto, fazer uma cortina de fumaça.
Rogério Correia (PT-MG), deputado federal

O que aconteceu

Bolsonaristas têm falado cada vez mais sobre pautas de costumes enquanto silenciam sobre as investigações contra o ex-presidente. Eles veem uma "flexibilização" do aborto, do uso de drogas e de questões de gênero.

Governistas avaliam isso esse bombardeio contra temas em discussão no STF (Supremo Tribunal Federal) e no Congresso como uma estratégia.

"A inclusão de temas de costumes em momentos de crise é uma tática antiga usada pelo bolsonarismo desde as crises da gestão Jair Bolsonaro na Presidência", diz o deputado federal Duarte Jr. (PSB-MA).

Mas ele vê a sociedade e a imprensa como "vacinadas" contra essa repetição de manobras para desviar dos inquéritos.

Bolsonaro ainda precisa explicar a venda de joias e relógios de luxo que ganhou de presente da Arábia Saudita, a acusação de um hacker de que sugeriu fraudar as urnas eletrônicas e as suspeitas de incentivo a um golpe.

Amanhã, ele e mais sete aliados depõem simultaneamente na PF para que não possam combinar as versões nas oitivas.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) disse que a "nuvem de fumaça" aparece porque a oposição não tem argumentos contra as investigações.

A cada coisa que se apura, piora o cenário para o lado de Bolsonaro e [a ex-primeira-dama] Michelle.
Jandira Feghalli (PCdoB-RJ), deputada federal

Correia aponta que aborto, drogas e questões de gênero chegaram a ser citados na CPI do 8 de Janeiro, quando esses temas não têm relação com as apurações sobre os atos de vandalismo contra as sedes dos três Poderes.

Bolsonaristas negam cortina de fumaça

A oposição refuta a tese de cortina de fumaça e diz que o ressurgimento desses temas não é algo organizado. Parlamentares afirmam que eles tratam de bandeiras da base conservadora e que sempre estarão em seus discursos e posicionamentos.

Uma entrevista coletiva de mais de duas horas foi realizada na semana passada, por exemplo, com senadores e deputados se revezando em discursos.

Eles criticaram uma resolução que permite o uso de medicamentos para transição de gênero a partir de 14 anos. O julgamento do porte de maconha no STF também entrou na lista.

O deputado Filipe Barros (PL-PR) afirmou que a pauta de costumes ganhou espaço no contexto brasileiro atual. Ele acusou Lula de "estelionato eleitoral", por ter afirmado ser contra a liberação de drogas e a flexibilização do aborto durante a campanha e depois permitir que o Brasil caminhe numa direção permissiva.

Líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes afirmou que o governo está atropelando assuntos sensíveis sem promover debates. Ele avalia que a população é contra as mudanças, por isso a oposição está mais combativa contra essa agenda.

Ex-ministra da Família, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) defende que o aborto é um assunto de saúde pública, porque trata do bem-estar da mulher e dos bebês. Para a parlamentar, as medidas da oposição são uma reação à política errada do governo federal e do Judiciário.

Integrante da bancada evangélica, o deputado Eli Borges (PL-TO) afirmou que o Planalto e o STF estão atropelando o Congresso para tomar decisões sobre a pauta de costumes. Ele disse que na Câmara há um acordo de votar esses temas somente depois de intensas discussões.

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