7 atentados em 11 meses indicam eleição tensa na Baixada Fluminense
Estudo do Observatório de Favelas mostra que a Baixada Fluminense registrou ao menos sete atentados contra políticos entre julho de 2022 e junho de 2023. Foram três no ano passado e quatro desde janeiro — o que indica que a região terá um ano eleitoral tenso em 2024, dizem os pesquisadores.
O que aconteceu
O número de casos verificados ao longo dos 11 meses supracitados é igual ao registrado para a região entre janeiro de 2021 e junho de 2022, um período de 18 meses — o que indica que as ocorrências se tornaram mais frequentes, segundo os pesquisadores.
As áreas sob controle da milícia concentram atentados. Quatro das sete vítimas foram atacadas em locais sob controle de milicianos. As outras três situações aconteceram em zonas sem presença identificada de grupos armados.
Nova Iguaçu (4), Duque de Caxias, Itaguaí e Mesquita foram as cidades com registros.
O mesmo grupo que protagonizou os ataques na zona oeste da cidade do Rio na última segunda-feira (23) é suspeito de envolvimento em casos de violência política na Baixada Fluminense.
Leandro Marinho, pesquisador do Programa Direito à Vida e Segurança Pública do Observatório de Favelas
A região teve atentados contra um secretário municipal e um vereador no período analisado. O segundo também era candidato nas eleições do ano passado.
Procurada, a Polícia Militar do Rio informou que, nesses casos, sua atuação "é no acionamento, mas a investigação fica a cargo da Polícia Civil". Já a Polícia Civil não comentou. A análise foi divulgada nesta terça-feira (24).
Para especialistas, a aproximação das eleições regionais justifica o aumento na frequência de atentados. De acordo com representantes do observatório, à medida que a campanha se aproxima, a tensão entre grupos políticos cresce e os casos de violência política tendem a se tornar mais frequentes.
Existe uma clara subnotificação. Muitos casos de violência são contra mulheres negras, por exemplo, e não ganham destaque por não serem atentados ou execuções.
Leandro Marinho
Angra e Baixada registraram 22 vítimas de violência política
Belford Roxo, Caxias e Nova Iguaçu foram as cidades com mais vítimas de violência política contabilizadas. Cada um dos municípios registrou cinco situações. Quando se analisa os tipos de violência, os atentados contra vida (7) lideram, seguidos pelas agressões físicas (6), execuções (3) e ameaças (3).
Os registros incluem ainda um caso de depredação. O ataque aconteceu em 6 de fevereiro de 2022, em Magé. Uma suástica foi desenhada no busto de Maria Conga, líder negra que lutou contra a escravidão. "As mulheres negras são aquelas que não conseguem acessar os principais cargos nessa região", destacou Marinho.
A análise identificou mais de 2.000 projetos de lei ligados à segurança pública e à violência desde 2019 na região. Só no ano passado, foram 227. Os textos tramitaram na Assembleia Legislativa do Rio e nas câmaras municipais da Baixada.
Itaguaí (189), Caxias (90) e Nilópolis (74) foram as cidades com mais projetos.
Mais de 750 propostas envolviam homenagens a policiais. Segundo Marinho, a situação reflete o uso de medalhas e honrarias para costura de acordos políticos e obtenção de promoção por parte de policiais. "Muitos projetos são elogios à brutalidade da polícia e geram aumento da violência policial", diz o estudioso.
A relação entre poder armado e político na Baixada é umbilical e histórica, fazendo parte até da formação de alguns municípios.
Leandro Marinho