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'Passou mal 33 vezes', diz irmão de réu do 8/1 que morreu na Papuda

Cleriston da Cunha, de 46 anos, morreu após mal súbito na Papuda, em Brasília Imagem: Reprodução

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

22/11/2023 12h02Atualizada em 22/11/2023 18h44

Vítima de um mal súbito na penitenciária da Papuda, em Brasília, o autônomo Cleriston Pereira da Cunha, de 46 anos, era considerado um "patriota" pela família. Ele estava preso desde 8 de janeiro quando foi detido durante os atos antidemocráticos na Praça dos Três Poderes e teria passado mal 33 vezes dentro da cadeia, contabiliza a família.

Leia também: O que réu que morreu na Papuda fez nos atos golpistas de 8/1?

Cleriston era natural da Bahia e vivia desde os 18 anos no Distrito Federal, onde casou e teve duas filhas, de 19 e 22 anos. De uma família de políticos de Feira da Mata, a 845 km de Salvador, ele nunca quis virar político, mas segundo a família, "sempre defendeu o Brasil".

"Era um verdadeiro patriota. Ele sempre defendeu o nosso Brasil, não apoiava coisas erradas. Era dessa forma que o víamos", disse ao UOL o irmão, Cristiano da Cunha, de 45 anos.

Ainda estamos processando tudo isso. Estamos nos fazendo fortes, mas é doloroso demais. Ele era um paizão, um irmão gigante e um ótimo filho. Morreu sem qualquer passagem anterior pela polícia, tinha um problema de saúde e a indignação maior é a injustiça no fim da vida dele. Cristiano da Cunha, irmão de Cleriston

Preso passou mal 33 vezes na cadeia, diz irmão

O processo contra Cleriston está sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que negou, ao longo dos últimos meses, pedidos de habeas corpus para libertá-lo.

A família alega que, enquanto estava detido na Papuda, Cleriston via sua saúde piorar, embora recebesse remédios controlados para diabetes e hipertensão. Ele teria passado mal por 33 vezes desde 8 de janeiro.

O preso ainda apresentava quadro de vasculite — inflamação de vasos sanguíneos — decorrente de complicações da covid-19.

Cleriston da Cunha, preso em 8 de janeiro Imagem: Arquivo Pessoal

No último pedido de liberdade, protocolado pela defesa, a PGR (Procuradoria Geral da República) chegou a emitir parecer favorável ao alvará de soltura, em 1º de setembro, mas o caso ainda estava sob avaliação do STF.

Ignoraram os laudos médicos no processo. Nesse período na penitenciária, ele passou mal 33 vezes. O sentimento é de muita revolta misturada com injustiça, além da dor, que nunca vai passar.
Cristiano da Cunha, irmão

O UOL procurou a Seape (Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal) para saber sobre os atendimentos médicos fornecidos a Cleriston nas vezes relatadas pela família e aguarda o retorno. O texto será atualizado em caso de manifestação da pasta.

Na ocasião da morte, a secretaria afirmou que o detento era acompanhando "por equipe multidisciplinar" da UBS (Unidade Básica de Saúde) da Papuda "desde a entrada na unidade em 09/01/2023".

Autônomo não quebrou patrimônio, diz família

Em relação a 8 de janeiro, a própria família ainda tenta compreender como Cleriston foi preso. O relato é de que ele chegou à Praça dos Três Poderes depois da invasão praticada pelos manifestantes.

Segundo os familiares, às 16h, ele ainda estava na distribuidora de bebidas que mantinha com a esposa, conforme imagens anexadas no processo, o que comprovaria sua participação somente após a quebradeira. O Congresso foi invadido às 14h45.

A presença dele dentro do Senado o fez responder a uma ação penal no STF por associação criminosa armada, abolição violenta ao Estado Democrático de Direito, golpe de estado e deterioração de patrimônio tombado.

"O processo dele é muito vago. Tem as imagens das câmeras dele na distribuidora", ratifica o irmão.

Família diz que Cleriston estava às 16h trabalhando no dia 8 de janeiro Imagem: Reprodução

Cleriston foi velado ontem em Brasília e seguiu para Feira da Mata, na Bahia, para ser enterrado em sua cidade natal nesta quarta-feira (22), a pedido dele em vida. "A família inteira é de Feira e ele dizia que, se morresse, queria voltar para Bahia".

Preso morreu durante banho de sol

O autônomo morreu vítima de mal súbito durante o banho de sol, de acordo com a unidade prisional. O registro do falecimento ocorreu por volta das 10h.

"De imediato foi acionada a equipe de saúde que em instantes ingressou no bloco, dando início aos protocolos de ressuscitação cardiopulmonar", diz o informe. Viaturas dos bombeiros e do Samu foram acionados para levá-lo para uma unidade externa de saúde, mas a morte foi declarada às 10h58 após tentativas de ressuscitação.

A Seape informou, na segunda-feira (20), que o detento era acompanhado "por equipe multidisciplinar" da UBS (Unidade Básica de Saúde) da Papuda "desde a entrada na unidade em 09/01/2023".

Após a morte, Moraes pediu informações à Papuda, incluindo o prontuário médico do preso.

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